segunda-feira, dezembro 29, 2008

Família séc. XXI


Ferve o almoço em nervoso miudinho
o telemóvel toca
feriado dia santo fim de semana prolongado
o tempo estica
quase pára
na família exausta
pouco habituada a dar-se tanto

o lugar é chato curto estreito
a habitação quase não respira
rodeada de betão sombrio e alto
em toda a volta

surgem ideias cansam-se cabeças
corrupio de corpos e de vozes
na casa pequena da cidade
tanta gente num baralho complexo
de micro famílias recompostas
unidas pela neura de um tempo imenso
que desnuda as pessoas
e as põe expostas

o jogo continua com a idade
com as novas formas de jogar
e não se consegue descortinar
nestas ondas poderosas
que às vezes se agigantam
ameaçam gritam ferem
se atropelam...

onde vive o amor!

e navegar em mares perigosos
fundos
com fantasmas do tamanho do Adamastor
sem perder o rumo
uma ponta de liberdade que dê para respirar
num espaço humano
em curto circuito…

o próprio amor pode naufragar!

domingo, dezembro 28, 2008

enfado na fartura de natal


Reparo no enfado na ausência
de consciência
que se experimenta
na fartura da presença

é no mínimo caricato tal enfado!

centenas de canais de televisão
outras tantas estações
na telefonia
milhares milhões de “sites” na internet
coisas sérias diversões
jogos reais
jogos virtuais
brinquedos de brincar
brinquedos de cifrões

e a noite de natal tão oca
tão sem nada que dizer
sem alegria alegre
para viver!

se percebesse a razão
de tanto tédio
em seara grada
recheada árvore de natal
tecnologias avançadas de pasmar
e não quisesse tirar ao progresso
(porque não quero)
o seu curso natural…

teria de o explicar na tradição
e no desfasamento que há
quando se dá a mesma solução
ao que havia há dois mil anos
e já não há!

como encontrar paz menino Jesus
manjedoura bafo quente
vaquinhas e burrinhos
um sorriso divinal iluminado
de deserto pregação
num tempo hoje
em que só se vive
se sobrevive
em confusão?

em aldeia global mediatizada
industrializada
iluminada
de luz artificial
em que já não se vê
o que dantes por ter estrelas a brilhar
se via…

e que era suposto ser o céu?

sábado, dezembro 27, 2008

um dia de natal


Corpo dorido mal dormido
remeloso entupido
acordo
entre a angústia e a gripe

o frio incomoda
o aquecedor irrita
o espírito de natal sufoca

peço ajuda na farmácia
para me suportar

tento animar
mas não é fácil
com os olhos a chorar
uma vontade enorme de tossir
e de espirrar

há pessoas à porta
outras a chegar

o natal não se pode adiar!

um que vomita
outro que tosse
outro que grita
a festa aquece

a comer a beber a falar
a garganta a entupir
a febre sempre a aumentar

há família
há presentes
há luzinhas a brilhar
há conversa a entreter
aspirinas a ajudar

mesmo com gripe
natal é para celebrar!

sábado, dezembro 20, 2008

voz interior


O retorno em eco
da voz fraca
que sai
é a dificuldade interior
de enfrentar
o que se apresenta
para ultrapassar

o ânimo inicial anima
ou desanima
no tamanho da dificuldade

proximidade sensação
brilho no peito
quase paixão
afastamento depois
sem saber porquê

cansaço exangue
em vez de embriaguez

o corpo curvo
os olhos murchos
meia volta em retirada
triste e circunspecto
mais uma vez

uma voz que me vê assim
que entende a situação
olha para mim
e diz:

“ela está tão feliz
esbracejando rindo
atenções mil de toda a gente
que em tanto espaço
de felicidade intensa
exterior
fica desfocado
tamanho sentimento
da tua alma imensa
e interior”

eu ouvi a voz e entendi!

sexta-feira, dezembro 19, 2008

como viver sem ver?


Como viver sem ver?
tábua rasa tela branca sem cinema
virgem de assunto de cor e movimento
como se nada houvesse
nem nada se passasse?

seria bom que se pudesse!

mas são muitos filmes
inúmeras as peripécias
os tombos os rombos
a raiva o ódio o amor
todo um encaminhar de juízos num sentido
soma de imperceptíveis triliões
mais triliões
de consequências…

crescemos em montagem intelectual
entendimento complexo
olhos para ver
juízos para julgar

tantos os autores
mestres professores
tanto o conhecimento percebido!

para quê?

de pouco vale tamanho conhecimento
quando o viço foge
chegam as rugas e tudo se mistura
cresce aumenta a neblina
na força que já era

e um nevoeiro espesso a vida fica!

antes ficasse assim na realidade
que nada se visse e se mostrasse…

porque quando a bruma se esvanece
e a luz clareia
vem ao de cima
a complexa dispendiosa construção
que somos
em inevitável perda de ventura
animação

é a luz do dia que o mostra
a luz dos olhos que o vê
em reflexo espelho realidade
a tresandar por todo o lado

mal assoma um pouco de alegria
ainda
logo esta em estranheza entristece
desaparece
finda!

domingo, dezembro 14, 2008

equilíbrio pelo medo


Quando fica negra a situação
quando se perde consolo no equilíbrio
da razão
há que isolar os exageros
entendê-los
e agir perdendo o medo

contam os olhos dos outros
as normas que eles têm para nós
os seus conselhos
contam as mãos estendidas
no tempo certo

mas atenção
nada paga a liberdade
ter voz para expressar os sentimentos

porque meu amigo
ser só certinho
não partir um prato
não causar qualquer problema
ser só discreto bem comportadinho
pode causar grande embaraço
e ser tanto “equilíbrio” uma ameaça

há bem e há mal decerto
normas gerais para cumprir
mas quando se trata de equilíbrio
há que o distinguir
da sobrevivência
a qualquer preço

se for esse o caso
chegará a altura
em que haverá que perder
tanta decência
compostura
e soltar o grito próprio!

trance dance


Deixo o lá fora a exigência a aparência
a avenida congestionada
montras apinhadas de produtos
motoristas discutindo no semáforo
encosto o carro numa zona mais pacata

visto roupa nova cubro-me apenas
quanto baste
passo a porta da ilha encantada

ali há corpos paz poucas palavras
gestos suaves
só depois um batuque entoa
no espaço

com o som meu corpo treme
as pernas flectem
os braços mexem
tento acertar desacertando

que lugar este? Que viagem esta?
vou movendo vou dançando
entro no mundo subtil do sentimento

vejo índio cavalgando às vezes
vejo cow boy na pradaria
vejo luz de uma fogueira
um círculo de gente em euforia
corpos semi-nus em volta dela
vejo rituais estranhos quentes
no calor encarnado chão
em noite a céu aberto

são visões a que transportam
os sons ritmados em fundo acústico
harmonia interior de transe alegria
de quando não havia stress
vidas complexas brilharetes
galas ou galões
assalariados ou patrões

vivia-se e morria-se
num qualquer acto natural
a caçar a lutar a dançar a beber
a amar a celebrar!

estive um tempo ali e foi sonho o que vivi

quando saí
e retomei a viagem de regresso
o betão as luzes a cidade complexa
a engenharia das pontes e dos túneis
a fartura de tudo…

senti a urgência que é
na solidão diária do sofá
do plasma da internet dos avanços técnicos
cibernéticos
cuidar da pessoa já
antes que seja tarde
e morra o que de melhor nela há!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Portugal mais limpo


De nariz pousado
no vidro embaciado
pelo bafo matinal
reparo no estendal de roupa
na varanda ao lado

olhando o estendal
faz-me sorrir o acto de pensar
nas famílias arcaicas
no bolor tradicional

far-lhes-ia bem estagiar
no lugar da roupa
uma lavagem primeiro
depois uma exposição solar

algumas em que estou a pensar
seria bom recorrer
a lavagem manual
serem torcidas espremidas
em tanque bem batidas
só depois esticadas penduradas

com tanta porcaria
alguma brancura resultaria
do processo!

tudo a lavar a corar
durante um tempo

não falta em Portugal
vento e sol
para enxugar
nem água para lavar

faltam mais é lavadeiras
e vontade de mudar!

eminência do fim


O que não é cuidado
tratado
fica murcho
abandonado


de dia ainda vá
coitado
persiste insiste
em manter-se de pé
firme forte erecto
num destino abjecto

há luz ruído
mesmo distante e perdido
em ínfimos decibéis
são sopro leve e breve
a animar o coração

mas de noite…
arrepio frio de geada
clausura breu
ilusão perdida vertida nada?!

a seiva a secar
segundo a segundo
o corpo a mirrar
na iminência do fim

o eu a fugir
o tu que fugiu
o nós arredado dali

não sei de onde vim
para aqui
não sei para onde vou
daqui

sei que vim só
que vou só
e que o que se passa aqui
é intervalo
entre uma ignorância
e outra ignorância!

domingo, dezembro 07, 2008

Europa Portugal como tu és


Caía uma chuva miudinha
que molhava
as folhas no chão tombadas
coloriam as poças de água
no carreiro estreito que pisava

enquanto caminhava
e me molhava
olhando o dia carregado
escuro de invernia
pensava
no país que somos distraído

já um sapato na biqueira
se encharcava
e as calças que levava
repassavam a água que caía

neste desconforto que sentia
o “homem eu” mal vestido
para o tempo que fazia
sorria…

tantos anos projectados
para zonas tropicais
os longes das quenturas africanas
ou dos Brasis os tórridos areais
que nos esquecemos
da fria Europa em que vivemos

hoje eu aqui deles descendente
filho de emigrantes
navegantes sonhadores
(outras paragens
outros calores)
senti…
que tenho que acordar de vez
mudar o assento

e sem deixar o sonho
herdado de antes

ir a um centro comercial talvez
comprar roupas agasalhos
para viver-te
Europa Portugal como tu és!

sexta-feira, dezembro 05, 2008

virtualidade longe e perto


Longe e tão perto
quando uma palavra uma canção
nos toca
vinda do hemisfério sul
para o hemisfério norte
ou vice versa
e nos põe
o coração a bater forte

sente-se a atenção
que alguém emite
e como que em atracção
o outro lado sente
não resiste
em permutar a comunhão
que existe

sinal após sinal
mostram-se
transmite-se
valida-se afinal
a atenção
gerando ondas e ondas
de espera resposta
em ligação

uma interferência nos canais
um imprevisto
um rude golpe
uma desistência em não
pode acontecer…

interrompendo assim a conexão!

Portugal e o impossível


O impossível acordou cansado
farto desgastado
de um pesadelo
que afinal era verdade
viu de repente o mundo do avesso
fugir-lhe a clientela

tal era largo e fundo
o fosso entre o que via hoje
e o que vira dantes...

ficou mudo
afónico doente
embrulhado em lençol de leito
com o que via !

um povo triste que o servia
histórico desânimo
preguiça
um fado escurecido
desgraça morte dor
alimentado para o seu fulgor...

passou a ter
olhos na cara
ânimo
a querer ser correr
acreditar
fazer como fazem os melhores

e o impossível petulante
de cartola e de pantufas
em palácio encantado de fortuna
feita com a não fortuna
dos outros…

ficou errante e só
no seu luxo ró có có…

cada vez mais longe
da verdade
do país Portugal
realidade

abram-se os olhos
sintam-se os pés
mude-se de vez
o disco do desgosto
que fez do impossível
o senhor que é

reponha-se Portugal de pé
entre os maiores!

doce doce doce


Doce doce doce
um desejo contido
custoso
na hora de agir

doce doce doce
uma palavra encolhida
engolida
na hora do grito

doce doce doce
um paladar chocolate
um engate
que fica por ser

doce doce doce
que merda de vida
não sei que dizer
na hora de querer

e vou de saída
de volta pr’a rua
ao menos a chuva
intensa que cai
na pressa incontida
faz-me correr
e esquecer o doce

quinta-feira, dezembro 04, 2008

sobretudos roupa nova

Dezembro sobretudos roupa nova
uma origem comum
o espaço geográfico que os pariu

hoje como destino um outro espaço
almoço encontro desencontro
na cidade

ilusão repetida anunciada
de mostrar uma aparência sustentada
perdida já em trechos
sonetos versos dramas enseadas
passado translúcido
de estradas esgotadas

há gestos neles sorrisos tosse
encravam as palavras
na fita métrica da distância
há o menino lúdico de outrora
escorrido autêntico
feito general agora
ou outra profissão sonante
sério calculista pesado circunspecto

contam-se espingardas no olhar
galões currículos posição social

mas é tudo gente velha
com medo da morte
com medo de perder o leme e o norte
ante o tempo dos outros
que é mais novo e deles já foge

apraz naquele encontro de carcaças
mostrar alguma coisa
que ainda espante
esconder falhas taras medos
que possam tirar brilho
ao eco de inteligência gabarito
propalado

mostram-se os meninos em formato velho
que os põe desajeitados em reparos
olhares antigos em meninos velhos

que é do Chico safadão
o Paulinho das perdizes
o Pedro do garrafão
o marrão do Agostinho?

deles nem uma pálida projecção
no formato em que estão!

se eu fosse ali
não falava não fingia não ficava
apenas entrava
olhava-os bem nos olhos
nem um pensamento nem uma palavra
e saía

com lágrimas nos olhos ou sem elas
ia á praia mais próxima e fazia
como o Zorba fez
despia-me
e lentamente primeiro
depois com toda a energia
em sintonia com ventos e marés
o frio a chuva
o que quer que fosse

dançaria dançaria dançaria!

o fio de água que sou


Aproveita o fio de água que sou
curto até à foz
volume ruído visibilidade exíguos
mas em redor
em cima ao longe ao perto…

que mundo imenso
a acompanhar este fio de água
que mal se enxerga!

as flores os prados as giestas
o canto dos pássaros
o nascer do sol
enorme exuberante
que parece nascer só para o ver

o silêncio em desenho rude
de tanta forma
em pedra
em arbusto
em árvore
ornamentando o azul celeste
que se perde ao fundo
na serra agreste

foi de lá que vim
vou para perto
mas enquanto vou
este sítio em que estou
é o lugar mais belo do mundo

aproveita se quiseres
o belo mundo
deste ribeiro pequenino
faz-lhe companhia
e aquece-lhe o caminho até à foz

sexta-feira, novembro 28, 2008

a dança da garça


Ia esforçava tentava
uma perna flectia
o braço em jeito de asa
esticava

sozinho na dança da garça
esvoaçava

sem a graça dela
o corpo cansava
com asas sem penas
eu ficava tenso

vai que não vai
cai que não cai
abaixo levanta
o meu equilíbrio…
AI AI!

fechava os olhos
abria-os
para ver como as outras garças
faziam

uma delas em frente
baixava elevava levantava
eu diria
tal a harmonia do voo
que aparecia desaparecia
ora subindo nos ares
ora aterrando

numa descida planando
com a asa tocou-me

eu já desistia
pesava-me o corpo
o ânimo sumia
mas depois daquele toque
ligeiro
agradado companheiro

eu vos digo

que mesmo a brincar
um pequeno gesto
tudo pode mudar

naquele instante senti
que até humano pode voar!

esculturas perfeitas


Enleados colados
um calor dos diabos

que esculturas perfeitas
que eram
aqueles cachos
de corpos cansados

os braços o peito
as pernas os pés
ocupando
espaços sobrados

num silêncio calado
os rostos brilhando
os olhos fechados
a vida pulsando

energia completa
dar receber
respirar amar
núcleo do SER
que em nós habita

e para nosso mal
pouco se agita
no fado usual
de sobreviver

domingo, novembro 23, 2008

uma mão estendida


Alguém pedia
de mão estendida
os olhos brilhavam
à moeda que caía

das árvores despidas
folhas tombavam
jaziam
espalhadas na avenida

alguma gente passava
após missa acabada
na igreja ao lado

alimento de esperança
a moeda dada
a missa acabada

depois é a espera
a viagem
a noite e o nada

senti ali
a esperança
em que estamos
entre alguma coisa
e não sabemos o quê

esse intervalo
é o brilho dos olhos
o conforto o consolo
o tempo certo
porque depois
mais nada se vê

sexta-feira, novembro 21, 2008

fontana di trevi


Eu sei que a água ali é pouca
para quem tem um oceano à sua porta
uns quantos fios de cascata
nada mais
mas é água quanto baste
para recordar recordar
e voltar a recordar!

então vista de ti
dos teus sonhos
céu azul de Portugal
rubro de papoilas
espelhando namorados
em teu rosto lindo…

que loucura de local!

se eu pudesse lá estar
no dia iluminado em que estiveste
pela beleza de ti
perdia-me de vez
nas pizzas e nos vinhos
nas vielas nas praças
nas ruínas
feitas para se desaparecer nelas

bebido comido inebriado
apaixonado

que importaria o resto
o dia seguinte
as obrigações
a agenda por cumprir
se se tinha encontrado
o melhor de Portugal
num sítio encantado do mundo?

primeira ida ao mar


A minha primeira ida ao mar
à praia
foi assim como levar
a minha terra deserta
seca pela geada e pelo sol
a um oceano de água
e de gente

aquelas ondas medonhas
frias
que sabiam a sal da cozinha
de casa
que engasgavam
que faziam tossir e cuspir
assustavam-me

não entendia para que aquilo servia

nuzinho lá ia
empurrado levado
na vaga pesada
eu tiritava de frio
chorava
de medo de areia vestido
na humidade sombria
no nevoeiro cerrado

mal vi o sol dessa vez
em quinze dias seguidos
só mais tarde entendi
o verdadeiro sentido
de se ir ali

saber-se o que se quer

Saber-se o que se quer
depois ir sem medo
como velejar e acreditar no vento
como cheirar e acreditar no cheiro

só se pode aprender experimentando

apreciar cada momento
sem pensar
porque o pensamento sabe muito
e causa medo
quando nos diz
que tudo o que é bom
começa e termina cedo

por isso nem começamos

ou desligamos a mente
e cuidamos bem
e só cada momento
a leveza do ser
com intuição e sentimento

ou utilizamos a mente
o pensamento
só o tempo certo
sem que nos possa
causar dano
sofrimento
com o seu saber omnisciente

terça-feira, novembro 18, 2008

quero amar (canção em jeito de "rap")

Quero amar quero amar
deixar ir e deixo
os tempos idos
que não voltam mais
a novidade a luz eu quero
aqui

amar é meu desejo
ser forte receber e dar
estou vivo e gosto
meu amor vou partilhar

é saudável ter sucesso
saber ver ouvir sentir
dar-te um abraço a ti
para alegrar

quero amar quero amar
deixar ir e deixo
os tempos idos
que não voltam mais

quero viver esta aventura
esta rua este jardim
esta fartura
que agradeço aos pais avós
ao meu país ao universo

eu quero amar quero amar
deixar ir e deixo
os tempos idos
que não voltam mais

a novidade a luz eu quero
aqui
neste espaço imenso
a que pertenço

domingo, novembro 16, 2008

os ditadores e a razão


A sociedade julga sempre as situações
chama nomes
faz marcações
num controlo apertado
que nem serve gregos nem troianos
por desactualizado

qualquer líder medíocre
parece genial
basta-lhe berrar o trivial
que assim é bem
assim é mal
que assim é justo
assim injusto

se houver animação
não controlada
leva-se porrada
a conter a intuição

e o impulso morre assim
na proibição do não
a matar o sim

tantas regras de conduta
proibições
que só dão impedimentos
frustrações

alivie -se o ser de tanto racional
soltem-se as emoções os sentimentos
diga-se basta aos ditadores
a tanta gente a mandar mal

o passado já passou


O passado já passou
está longe
no tempo
na distância

não se aguenta a excentricidade
de confundir presente
realidade
vida
com outra qualquer leviandade
já andada inexistente
morta

por lado a lado
as duas
sonho ilusão distância
e realidade…

é como misturar
querer meter no mesmo saco
mentira e verdade
e aceitar ambas
com a mesma credibilidade

é como acreditar
que é possível
estar
na procissão e no adro
ao mesmo tempo

é como ficar
a meio de SER
e não viver

segunda-feira, novembro 10, 2008

a santidade e o pecador


A santidade justifica o pecador
sabe-se
atira os outros para a dor
o mal estar da consciência

perante o mostruário de virtudes
da beatífica assexuada feia santa
tão anormais que somos
não há passo bom
com cor aroma cheiro
que seja acertado
nem aconselhado

beatíficas esposas se tementes
demoníacas se descrentes!

Deus e o mundo nada têm a ver com isto
com a moral desactualizada
ensinada
é tudo tão mais essencial
pequenos nadas
o ar uma flor dançar
uma mão um amigo
trabalhar
que a santidade pregada no altar
só serve para controlar

e de consciência controlada
o pecador
coitado
fica isolado humilhado
anormal na sua normalidade
perante a virtude apregoada

sente-se mal e condenado
com tanto pecado
no rebanho hipócrita
da sua comunidade

e não há santo que lhe valha
ou que o venha salvar!

sexta-feira, novembro 07, 2008

música terapêutica

A alma precisa de silêncio
paz
depois de sons tónicos
que elevem o potencial
do nosso sentir interior

uma abertura consciente
a essa dimensão musical
consola vitaliza
rejuvenesce

se a escolha for adequada
houver sintonia
entre os sons da vida
e a alma
esta alimenta-se dá brilho
acalma

uma sensação semelhante
a inalação de ar
fresco colorido
crescendo nas narinas
espalhando-se depois ao corpo todo
qual doce arco-íris de veludo

o resultado pode ser
uma deliciosa quietude
radiante iluminada
sossegada

pode ser também o impulso perfeito
para correr saltar dançar
inebriar-se na nudez
de uma alegria
contagiada contagiante
só entendida pelos deuses

saio da noite em pesadelo

Saio da noite madrugada
em pesadelo

cai-me ao pequeno almoço
uma cárie dentária
deixando em seu lugar
um buraco uma cratera
onde o ar a água o alimento
causam dor

perturba-me a dor
a idade física
a exposição aos outros
hoje e sempre questionada

mais uma vez
o meu carro é companheiro de abalada
um amparo na solidão velocidade
em que acalmo
apaziguo cruzando a estrada
no silvo do vento
na paisagem desfocada

que explicação para meus extremos?

ou paro medito estabilizo a inquietude
em total e impressionante quietude…

ou parto desatinado
como agora
para me encontrar em meteórico movimento!

de que fujo?
que procuro?
que haverá que vejo ou que não vejo
que me faz murchar parar
ou correr acelerar?

segunda-feira, novembro 03, 2008

mergulho nos teus olhos

Mergulho nos teus olhos luz
de madre pérola
espelho profundo dos meus

melhor que em sítio nenhum
vejo que há longe perto
flor amor paz
viagem encantada

entrar neles
sorrir com eles é estar
num túnel protegido
onde me perco

túnel fechado
meu e teu somente
e simultaneamente
aberto descomplexo
debaixo do céu

não sei se existo
se há tarefas por cumprir
se há mais qualquer coisa fora daqui

só sei
que estou feliz e completo
aqui
no fundo dos teus olhos

que o diga a lágrima iluminada
que aparece
que brilha que me queima
e que sorri!

a cada um o seu papel

A cada um o seu papel
a sua função
um existe
para o outro existir
e vice-versa

há o juiz
o infractor
o polícia o ladrão
o aluno o professor
o homem a mulher
a presa o predador

quem fez isto assim
fê-lo bem feito
uma espécie de organização
pensada em molde
“complemento”

e goste-se ou não
queira-se ou não
tudo vai girando
mesmo sem grande entendimento

como que o natural funcionamento
compensa
a geral desadaptação
e falta de contentamento

enquadro-me comigo

Enquadro-me comigo
com o que sou
com o que posso
com o que quero
escolho o que preciso
e vou

depressa encontro o desafio
a nódoa no tecido
a pergunta sem resposta
a solução por descobrir

mas está um dia Outono lindo
não dá para não ir
deixo para trás o embaraço
a notícia triste
da imprensa do quiosque a deprimir
e animo

sei que a seguir
há sossego e mimo
a consolar as pedras do caminho

a natureza para onde vou
não quer saber
de tricas ditos
mexericos
taras vitórias e derrotas
medos

apenas é o que é
e está onde está

por isso hoje dia quezilento
de má língua eleições
outras confusões
é para lá que vou

receptivo confiante

Receptivo firme
confiante
pousado concentrado
braços abertos de gigante
inebriado consolado
atento sem qualquer julgamento

assim me apresento
escancarado e crente
diante do amor
que está na minha frente
a menos de um palmo
de mim

voz romântica

A voz romântica que ouço
estende voa
o meu coração respira
um “slide show” mágico de cores
sítios sentimentos
aproxima distância geográfica
e tempo
numa só idade

que êxtase fascinante
a vida toda
percebida no melhor detalhe
neste instante

o lindo dos teus olhos
aquele regato aquele regaço
o branco amendoeira
o amarelo quente das mimosas

os gestos imprecisos
que faziam rir
a malícia que fazia tanto bem
de tão ingénua que era

que filme de vida sinto e vejo
entrando pelo ouvido
nesta voz romântica…

de tal forma fico em transe
com ela
que sou capaz
de dar vida a sítios idos
a gente morta
ou perdida na distância
e a quem tanto quero!

domingo, outubro 26, 2008

os meus sermões


Uma mente inquieta
um insatisfeito nato
um carente indiferenciado
alojado em mim
de tenra idade

entendo assim o inconformismo
que me afecta
numa qualquer conversa mais brejeira
onde ninguém entenderia
de mim
uma explicação mais corriqueira

aguento fico fraco
atrofio
mas resisto
porque a vida
sempre me levou
me leva
a qualquer lado

vou insisto não desisto
e talvez por isso ainda existo

escrevo teoria sobre o assunto
em poesia
até dou dicas
e assim me esgoto
dia após dia

digo o que sinto
publico
mas não pratico
e assim
a teoria certa
bem estruturada nas palavras
vale de pouco
na prática aconselhada
urgente e desejada

assumo para mim
que sei pregar
aconselhar
mas que me falta aplicar
o assunto dos sermões
para eu próprio me ajudar

sexta-feira, outubro 24, 2008

réptil voraz

Estico os braços rastejando devagar
alongando-os o mais que posso

sou réptil de língua de fora
esforçado
esfomeado
mordo a presa que encontro
com minha fome
lancinante

tacteio apalpo toco
ora com vontade de comer
ora com a suavidade
adequada àquela pele
macia lisa eléctrica
electrizante

fico descomposto na vertigem
quando viro o corpo
pondo a boca
onde estava o rabo

réptil humano
forte e frágil a um tempo
enroscando envolvendo
insinuando
pensando deixando de pensar
pedindo sem falar
dando sem nada esperar
e tudo esperando

a fome é muita o pasto farto
inebriam-se os sentidos
que retiram força egóica

fico desfeito qual esqueleto ambulante
rastejante
pedinte
entregue na realidade
suculenta boa
fêmea mulher gata
alimento útero inesgotável
totalidade

de mim só uns olhos brilhantes
na penumbra do lugar
no chão duro em que pouso
de mim só um eu
saciado descomposto
desarticulado desnorteado
de mim só um amplexo de réptil voraz
vertido em menino amado

terça-feira, outubro 21, 2008

o medo adia a conquista


O medo adia a conquista
que se quer
afasta do objectivo pretendido

a renúncia pode então
fazer sentido
desistir pela desilusão
de não se ter
o que era desejo bom
e se queria

o sal o açúcar o prazer
encolhem na possibilidade
o coração entristece
parecemos a mais
neste turbilhão de rodopios
vitais
e anoitece

a lua entrando pela janela
ainda espreita apazigua
mas logo a noite escura
se instala em pesadelo
e dura… dura!

como é longa a noite
potenciada pelo breu
e pelo medo…

só com o nascer do dia
a brisa o sol a vida
o desafio de vencer
com ousadia
se volta a por

a questão de ser ou de não ser

fico na noite escondido
esquecido
no escuro
ou mostro-me à luz tal como sou?

dou ou não dou
o grito interior
do merecimento e do amor?

domingo, outubro 19, 2008

vida quem te entende?

Vida quem te entende?
ora és força ritmo
mudança transe
ora fraqueza tristeza
uma mão cheia de nada

se pudesse
e fosse dono de sementes
semearia
o revolver de muita tradição que vejo

sempre e sempre mais do mesmo

cópias fotocópias
ao serviço alheio
não em proveito próprio

no lugar de árvores secas
mortas caídas
poria
água viço renovação
revolução

que pregações nos deram
que fizeram de nós errantes peregrinos
à procura de migalhas
quando o mundo está pranho
de fartura?

não da fartura que nos deram
de problemas
de carências
de desgraças
que fizeram de nós
seres dependentes deles…

dos seus negócios
dos seus serviços
dos seus talentos duvidosos

viajantes de patamares esclarecidos
gente descontente
por falta de contentamento
chegou o tempo
de por mãos à obra
encontrar caminhos novos

dizer basta
a tanta podridão estabelecida
tanto conselho
de um pensamento mentecapto
ultrapassado e gasto

assustada temerosa

Assustada temerosa
uns olhos vivos brilhantes
grandes lacrimejantes
um abandono frágil
em forma de mulher

de pé em dificuldade
indefesa nesta sociedade
alienada

ao ver-te assim
pedi cá dentro
que Deus se cumpra em ti
dádiva oferecida
nos limites da vida

que te veja bem por dentro
como eu te vi
no fundo dos teus olhos suplicantes
quase gritando
“tirem-me daqui”

espelho que és de cada um de nós
turbulência
dor
insignificância
a corda na garganta
que nos ameaça
a cada instante

diz-lhe Deus que tudo podes
que estás bem no fundo dela
no fundo de cada um de nós
o que lhe falta a ela
o que falta a cada um de nós

quinta-feira, outubro 16, 2008

aos que partem


O caos faz parte da vida
a crise
o desencontro entre o que se quer
e o que se tem

é insultado o país
quando se diz
se apregoa
se grita
aos quatro cantos do mundo
a desgraça por ter nascido aqui

e o sonho chega
ao bairro à aldeia velha
ao emprego parco e gasto
emoldurado de eldorados
de terra prometida

com ele a troca da raiz
por um cacho de cifrões
tantas vezes envenenado
pela desconfiança marginalidade
xenofobia
distância
saudade
que afogam tantas ilusões

claro o impulso é forte
é difícil resistir-lhe
zanga-se a alma e o corpo
com as condições que se tem

e na reacção
os nervos esticam
a paciência esgota-se
a clarividência foge
fica tudo negro em volta
sem solução

os olhos deixam de ver
a razão deixa de ser
é tempo de ir e aprender

não fiques a chorar Portugal
por ser assim
deixa-os ir
deixa-os clamar
insultar-te

“eles nem sabem nem sonham”
como é longe de ti
que se sente
na alma da gente
a falta que faz um país!

quarta-feira, outubro 15, 2008

chuva de outono


Outono chuva miudinha
um cheiro a verde França
de outra idade

sinto-me afinado com o tempo

o prazer de escrever
o frio da Beira
a escola os lápis de cor
a afiadeira

um ruído de cidade aqui
a busca do agasalho
o céu mais baixo
que o cinzento das nuvens
torna mais parecido
com o campo

estou longe e perto
ao mesmo tempo

hoje como ontem
o espaço molhado
a rua a gente
a natureza que sempre
se repete

só a sensação cidade de progresso
evolução agitação
faz esquecer o fluir campestre
de estação em estação

nesta chuva miudinha
que me envolve
me entristece
mas que é tão doce!

terça-feira, outubro 14, 2008

prazer e motivação


A motivação vem
do prazer que se sente
na interacção com o mundo
com a gente

tem que ver com objectivo
equilíbrio entre o que se quer
e o que se tem

sem isso
sem provar a vida a gosto
vem o desgosto
a ferida
o arrastar a asa de qualquer maneira

pode-se andar distraído
mesmo sem rumo um tempo
mas chega o momento
de buscar apoio amor
para a vida ter sentido

sem se ter
prazer amor motivação
não há fado que resista
a tanta dor desolação

e o som da vida
que encanta
que se ouve que se dança
que se canta...

por mais voltas que se dê
nem sequer nos vê!

sexta-feira, outubro 10, 2008

perdido na escolha


No anfiteatro da vida
perder-se na escolha
faz mossa
amachuca

sente-se a forma encolhida
agastada ferida

os olhos abrem fecham
comunicam
sofrem gritam
a forma estremece

tenta manter-se
aguenta representa
mas rodopia
enlouquece

na persistência
de viver a situação
ganha a desistência
na rejeição

que expectativa me encolhe?
que preocupação me enlouquece?
que ausência me falta?

porquê...

nada que vejo em redor
me consola
me preenche
ou me basta?

mundo bipolar


Não questiones sempre
que te esgotas
já viste algum lugar
sem bem e mal?

há sombra luz
há ódio amor
bem-estar pior estar
espinhos fel
pele de mulher
e doce mel

a espada corta
o tiro mata
a fome grassa
é difícil de aceitar
sem questionar!

mas é real verdade
que o mundo é assim:
BIPOLAR!

se esgravatarmos sempre em negativo
em mal em fel em dor
perdemos a oportunidade
de ver...

o bem o mel o amor

e espalhá-lo para contrariar
os que só vêem
e semeiam dor

tabus ultrapassados


Educam-nos primeiro
comportamo-nos depois

com rédea curta já se vê

tem que ver com o senso comum
com a má língua
a defesa do bom nome
da família
a semelhança que se dá
à "ovelha tresmalhada"
e a loucura

saúda-se a preocupação
que temos
com o cuidado
de cuidar-nos

mas a educação
tem que considerar
que a receita que cura um
pode a outro não curar

sim ao senso comum
que dá estrutura
sim aos bons princípios básicos
mas entenda-se
que cada um
na afirmação da sua verdade
é que pode acrescentar mundo

uma nova realidade
novos temas levantados
tabus a serem debatidos
esclarecidos
quiçá mesmo ultrapassados

quinta-feira, outubro 09, 2008

quase virgem de uso


Perturba-me os olhos
tanta coisa que se vê
perturba-me o tino
tanta recordação
de que falo ou que imagino

fico então menos atento
em confusão
e de pouco me serve a inteligência
na ocasião

decido então o regresso à essência
ao zero da minha consciência

desfoco assim
as cores os dissabores
que ao aproximá-los
abordá-los
ficaram tão perturbadores

sinto-me a mim
ao ar que inspiro
e pouco mais
faço uma pausa um intervalo

assim se vai
recordação após recordação
conversa fiada
imagens coisas seres
que trouxeram inquietação

e tal como fica
um casaco sujo
velho pelo sol e pelo uso
virado do avesso
pela magia e arte do alfaiate
limpo
quase virgem de uso...

assim também eu fico!

terça-feira, outubro 07, 2008

nem vou nem fico

Ando de um lado para o outro
que faço?
vou ou fico?

a balança da escolha está confusa
a dúvida paralisa
que decido?
vou ou fico?

adivinho se for
as conversas os cheiros os olhares
que não desejo

adivinho se ficar
a incerteza do meu acto
se é certo ou não é certo
se devido ou indevido
o que faço

com o cansaço instalado
em silêncio inquieto
o nervoso impera
nas pernas na cabeça
engulo uma aspirina
um calmante
sinto eminente a enxaqueca

com medo de ir
com medo de não ir
decido enfim adiar
só para me consolar

nem vou nem fico!

reencontro breve

Ai que tonto que alegre
o abraço que acorre
ao reencontro
que falta de braços
de dedos de lábios parvos
em sorrisos broncos

tudo corre velozmente
a carícia o toque o reconhecimento
(linda sexo quente cabelo farto)
que faço contigo
neste mar de gente?

aperto aconchego afago
que podia ser permanente...

mas é já a curva descendente
do momento
o fim do histérico
ampliado sentimento
que morou na alma

que desce para se alojar
na mente
perdendo brilho fulgor
intensidade

fica urgente a palavra
no enlevo desgastado
no nervoso miudinho
disfarçado
palavra que é pergunta
que é resposta
discurso directo e indirecto

foi-se de vez a chama
o rubro do sangue engrossando
as veias

ainda ternamente em ansiedade
a voz emitida pela mente
grita
FICA!

mas é já um som exterior
realidade
uma voz verdade céptica
água jorrada sem piedade
no sítio amor calado e intenso
onde havia pouco
só fogo era!

segunda-feira, outubro 06, 2008

tento relaxar

Tento relaxar
contrariando o movimento
fazendo pausas
nesse mesmo movimento

faço-o na escrita
quando paro a caneta
faço-o na marcha
quando encurto o passo

ir na confusão
na correria
na pressa desenfreada dos sentidos
é alimentar a dispersão
o medo
e viver nele

há que refrear a agitação
trocando-lhe as voltas
contrariando-a

antes que o medo cresça
se agigante
nos controle
nos apavore
e nos enfraqueça

sexta-feira, outubro 03, 2008

crença forte


Atraí quando bebi
a crença forte
o impulso firme
sentido
de te ter aqui

andava a imaginar tocar-te
projectando o pensamento encantado
em ti
dentro de ti

fazia-o com tal intensidade
que o intocável sonho
pôde ser tocado
a silhueta fugidia
virtual
que tanto queria

ficou mais perto
mostrou-se
deu-se
e é agora tão real
intensa

como intenso e virtual
era o sonho e a crença
dantes

dá o passo agora

Dá o passo agora
enfrenta tenta
aconteça o que acontecer
é nobre e fortalece
sentires tu próprio
que tentaste

o espaço que é teu
será sempre o teu espaço
o rosto
o corpo
o jeito

a confiança ganha-se assim
indo experimentando
reflectindo
aferindo depois
o que acontece

nunca ficando só
espreitando os outros
julgando os outros
apreciando os outros
depreciando os outros

e nada fazendo
em proveito próprio!

os meninos


Tão virgens divinais
a espreitar na luz clara
(a vida)
uma oportunidade
de amar

cedo se vai o doce encanto
a descoberta do amor
e toda a graça

perfilam-se no escuro
os primeiros pesadelos
aprende-se a apontar o dedo
de dedo apontado

se tu julgas também julgo
se tu matas também mato
se tu tens eu também tenho

e o pacote ambulante
que ao ex-menino desenha o porte
mexe remexe
gaba-se incha
é inteligente é forte
mas não resiste

rebenta quando encontra
outros pacotes na mesma onda
e em choque com eles
sufoca esgota-se
e morre

segunda-feira, setembro 29, 2008

olhos gulosos e vazios

Olhos gulosos e vazios
meia luz em passerelle
emprestada à fantasia!

uma plateia bem vestida
enfastiada
entretendo a vida ociosa
pouco criativa
vendo desfilar adolescentes
sem corpo nem jeito
pela pouca idade

deveriam estar na brincadeira
a comer um bolo um chocolate
a sentir a Primavera dos seus anos
de outra maneira

liberdade aqui tão abusada
para mal da liberdade
sociedade ansiosa de iniciativa
na verdade apodrecida
por mal encaminhada

confunde-se o certo e o errado

a uns a lei pune
a outros não
acha-lhes graça
para desgraça dos outros

apreciar adolescentes
em poucos trapos lingerie
para uns é tara
para outros não
é iniciativa inovação
perspectivas de negócio exploração

que critérios tão díspares
me suscita a imberbe passerelle
na justiça e injustiça da nação!

tendências variadas

Espaço humano de liberdade
partilhada
um mata o outro esfola
outro cura
outro consola

nascemos e crescemos
com tendências variadas
ou mais compostas
ou mais avariadas

que complexo invisível
nos regula
as atitudes insensatas
e as mais sensatas?

miséria e fortuna misturadas
poder e fraqueza
de mãos dadas!

como conciliar em liberdade
sem destruí-la
tanta desigualdade?

é fácil aceitar o aceitável
mas o inaceitável?

escolha bem difícil nesta era
que tanto dói
ficar alheio indiferente
sonso egoísta...

como partilhar
e carregar
tanta dor e angústia
bem à vista!

terça-feira, setembro 23, 2008

que ruído é este?

Que ruído é este
que vem do interior?
ora espasmo ora êxtase
ora sensação de cheio
ora vazio?

silvos de vento
percorrendo o corpo
rodopios de água ribeirinha
a murmurar

deixo de existir
só para escutar

será energia a transbordar
ou vazio enorme a preencher?
será ferida por curar
ou flor ainda por nascer?

acto solitário este
na vertigem da fartura...

quem pára um momento só
na correria exterior
para ouvir e perceber
o que se passa
no interior?

onda em mar revolto

Sou onda em mar revolto
(o frio a noite a tempestade)
longe da praia verão
que o teu corpo era

sul de Portugal
Rocha mar desse país
calor de amor em tal sossego
que nunca mais vi

aí eu era suave branda
ficava parada deitada
qual gata regalada
em telhado de zinco quente

que frio sinto aqui
no meio deste mar imenso
que perdida que estou
entre ventos e marés
que me empurram
para a frente para trás
sem piedade

fenda-se já o céu daqui
nuvens negras trovoada
solte-se um raio de luz
que tome o leme de mim
e me ilumine
o caminho do sonho
do sossego
água azul céu e mar
doce praia Portugal

Rocha areal
sol amor desse país
que não mais esqueci!

segunda-feira, setembro 22, 2008

meu lar assento

Quase me diluo no lugar
que piso
em lento caminhar
que observo que sinto
como se eu fora ele

as pedras da calçada
a relva viva
verde
o cão sem trela em liberdade
o ar que entra nas narinas
soltado pelas esquinas

é bom ir longe
ficar até um tempo lá
mas sempre regressar
porque é aqui neste lugar
que a vida é

no tocar da folha da árvore
que me beija
ao passar
na sensação de acolhimento
que se sente
no som ouvido e conhecido
língua mãe

meu lar assento
minha oferta de vida
que em silêncio sublime
a caminhar
tanto agradeço e amo

sexta-feira, setembro 19, 2008

vagueio longe

Saio deste espaço físico
que me acolhe
mal acordado
incomodado
pela cabeça fosca de enxaqueca
pelo desempenho obrigatório
pelas ideias que cansam

vagueio longe
farto das coisas vistas
outras por ver
das energias paralelas
que quase paralisam

e já vai longo o dia
altas as horas
quando me sinto a mim
ombros aqui
queixo em presença
tombado contra o peito

finalmente o adeus à enxaqueca
o consolo da paz
no reencontro comigo

e pela primeira vez
hoje
os meus olhos abertos ficam perto
lúcidos neste sítio
e vêem só
o que me rodeia
e que realmente importa

iluminado louco

Leio no jornal
em letras garrafais
que um louco dito iluminado
depois de tanto mal causar
foi apanhado

não deixo de comparar
com a notícia ao lado
de impacto ambiental

dose de nafta derramada
por fábrica descuidada
em braço de rio
que se não fora circunscrita
a nível local
poderia atingir o grande rio
e virar catástrofe nacional

o mesmo não aconteceu afinal
com o louco "iluminado"
que em vez de controlado
ficou descontrolado

a tarada da cabeça
entrou em erupção
e o que a princípio era só céu
virou pesadelo
chamas
gente enganada
aniquilada
seita de dor
em lugar de amor
na Terra Prometida

domingo, setembro 14, 2008

Berlim um dia


Glória e holocausto perfeito casamento
grandeza variada nesta cidade imensa
a Europa toda aqui em tamanho de cidade
cheiro a esforço a guerra a confusão
quezílias de outros tempos
outra idade

ideais em dose múltipla
força fraqueza em cada geração
perda ganho intervalo
humilhação
o poder de uma potência
e a impotência do poder

criar reconstruir para voltar
a renascer
de um caos manicómio ensanguentado
agiganta-se o homem quando
o desafio é grande
não dorme não entende
não se resigna

a ferida dói é funda
mas não desiste
desinfecta
trata
cura

neste quarto sossegado morno
nórdico
em romance apaixonado
doce
com som de fundo melancólico
de Shubert
a paixão certa hoje aqui
em Berlim paixão errada dantes

quem sabe cidade secular
espelho maior da Europa
sempre em guerra
não venhas a ser um dia
a dor curada
a paz sonhada
a capital da nossa Europa
toda unida!

sexta-feira, setembro 12, 2008

morrer e renascer

Ora brilhando ao sol quente
qual seara ondulante
ora secando desaparecendo
escurecido na noite

assim estou eu
para que o ciclo recomece
dia e noite
vida e morte

sinto a permanência do lugar
num ciclo eterno de mudança
sempre a evoluir
sempre a morrer
sempre a nascer
como a seara

sinto convosco
em movimento natural
essa energia imortal
os olhos incendiados
os corpos quentes
contidos no desejo
quiçá guardado
para outra altura
outro local

não posso
não podeis morrer
sem renascer
porque se tal acontecesse...
só morrer...
eu?
tu?
vós?

só posso crer
que Deus deixaria de ser

tanta seria a dor
da falta
do meu amor
do teu amor
do vosso amor
de tanto amor!

meu porto abrigo

diversidade
graça desgraça
a entrar por todo o lado

tão fácil perder o norte
o rumo o leme
ficar confundido
excêntrico
à deriva

quando caminhamos
transviamos
fora de nós

nas ideias dos outros
no passado dos outros
no presente dos outros
no futuro dos outros

porque em boa verdade
tudo começa
e tudo termina
em nós

na minha morada
meu corpo
meu sítio
meu porto abrigo
meu barco amado

amor e confetis

Tenho às vezes uma coragem
invejável
não aquela coragem da espada
da porrada
mas uma centelha de amor
que espalho

como se tivesse toneladas
de confetis
e os espalhasse no vento
para chegarem
onde eu queria que chegassem

não tenho a certeza se é amor
o que eu espalho

como não sei sobre os confetis
se os hei-de ver
coloridos
festivos
apetecidos
pelo prenúncio de alegria que são

se apenas
pedacinhos minúsculos de papel
ridículos
confeccionados
numa fábrica qualquer
por rostos fartos tristes
pelo magro salário
que o seu fabrico oferece

ponte frágil


Sinto-me apartado de ti
sem o querer
ponte frágil
num precipício qualquer
quase a cair

entre os dois lados
em baixo
o abismo o medo
o sobressalto

para quê passar a ponte
e arriscar?

terreno minado de fantasmas
tempo que passou
morreu...

dizer o quê?

na dúvida das vidas separadas
azedam as palavras
na distância
só o imaginário é cor de rosa

o resto é o conta gotas
da sobrevivência
onde o que conta
não é o poema
a promessa que se fez
de amor eterno

mas a vida real
a dependência
o dinheiro essencial
o afecto que se encontra
ou que se compra
para aliviar as noites
longas de insónia

sexta-feira, setembro 05, 2008

entre a palavra e o gesto

Que entalado que estou
entre a palavra e o gesto
entre corpos barulhentos
à frente atrás
e o meu silêncio
que me pede tanto!

olhando timidamente para trás
vejo-te e gosto
"faz qualquer coisa avança"
diz-me uma voz

mas dentro de mim
uma força exausta
anula a insistência da voz
paraliza-me

sinto as vozes passar
uns olhos brilhar tanto
como faróis para eu seguir
eu em vez de andar arrancar animar
fico a sumir
no passeio estreito
esmagado por sons
silêncios
que não têm nada a ver
com o que quero

cobarde e solitário
na essência do desejo!

vá inventa
arranja uma desculpa
(continua a voz)
sobe desce cansa-te
esquece
porque o que te falta mesmo
é ver o que está perto
e te apetece

e por estranho que pareça
isso cansa-te mais do que fugir
partir fingir
ou mesmo subir
o Monte Evereste

embrulho mental

Além dois homens
um franzino outro encorpado
carregados exaustos
transpirados
entregando encomenda enorme
no casulo alto
de um casal do prédio grande

são móveis que transportam
qualidade mogno pau brasil
condensados em tal tamanho
que não cabem no elevador
moderno

são as escadas intermináveis
prédio acima
o caminho necessário
íngreme achatado
para justificarem o ordenado

coitados deles triste de mim
quando àquele peso me comparo
embrulho mental que sou
construído arquitectado
que às vezes sinto tão pesado

justifico assim como eles
o ordenado
no dia a dia transpirado!

que na qualidade de vida...

um tal peso antiquado
histórico arquivado
mais atrapalha do que ajuda
numa vida que se quer
natural
agradada e leve

segunda-feira, setembro 01, 2008

os meninos e a intuição

Não fica bem o menino ser o pai
o forte o poderoso
deixar o mais idoso
perturbado baralhado

tantos milénios de sabedoria
para quê?

sei que um menino cresce
fica maior
inteligente

os cursos não param de nascer
mais complexos
exigentes
que fazem do menino
um sabichão
que lhe podem dar poder
armas melhores ali à mão
e mandar assim no mundo

mas então...

e o respeito pelos mais velhos?
os que já viram nos seus rios
correr fel e mel?
que construiram enfrentaram
persistiram
para que os que ainda não eram
pudessem vir a ser?

aceitemos os meninos na sua rebeldia
ousadia
demos a mão à sua novidade
mas atenção
não os deixemos fazer tudo
se se excederem na intuição

porque pode matar-se o mundo
com tamanha confusão

despojado do meu ego

Chegava àquele lugar
ido de longe
senti-me despojado do meu ego
nem bens
nem amigos
nem gente ou sítios conhecidos
ou carro próprio para me deslocar

podia nem sair do aeroporto
voltar para trás
como sempre faço
quando aumenta o embaraço
tomava o primeiro avião
rumo ao aeroporto
onde o meu ego se sente em casa
e em conforto

mas não
decidi ficar

como os olhos e a mente complicavam
a estranheza do ambiente
fiz como algures li
e aprendi

sentei-me aonde pude
e desligando o olhar e o pensamento
fixei-me mais no tronco
e nos ouvidos
e em alguns instantes
o milagre acontecia

não recuperei o ego
e os artefactos
esses estavam longe
mas o ser sim
senti-o brando
com as raizes que me puseram no mundo

talvez pela primeira vez
num sítio estranho
perigoso ao mundo dos olhos
e da mente
fiquei sólido enraizado
confiante

mesmo sem entender nada
nem conhecer ninguém
já parecia eu mais dali
que os dali
tal a serenidade que sentia

pensamento perdido

Quando os olhos se perdem
nas luzes que ofuscam
no desempenho dos outros
no fora de aqui

quando o pensamento
voando no tempo
em busca de nada
restos
migalhas
me põe pesado
triste perdido...

eu grito: BASTA!

abrandem olhos perdidos
ansiosos
deixem o sonho
as idas tão longe
voltem a mim

e tu pensamento
que vais ao passado
enganos e perdas
que triste que estranho
voltas a mim!

quem sofre sou eu
o riso não vem
o doce não vem

o próprio Universo
ao ver-me assim
cabisbaixo pesado
fugido
zangado comigo
não gosta de mim!

o mesmo mar outras as águas

O mar que me banhou
menino
é o mesmo mar
outras as águas

a felicidade que me beijou
menino
a mesma felicidade
outros os beijos

que ilusão que é
a marcação cerrada
dos anos
o julgamento exausto
do que foi
e do que é

ou do que foi
e já não é!

mais parecem vagas
de enganos
vêm e vão
vão e vêm
a aparência
sabe sempre a repetição

só mudam mesmo
as marcas
que o tempo deixa
no fluir obrigatório
da existência

segunda-feira, agosto 25, 2008

falar de amor


Soube-me bem
falar de amor de sentimento
inflar o peito a todo o pano
como se quisesse
pudesse
no meu barco já pequeno
dar ainda a volta ao mundo
de oceano em oceano

que água fresca que caía
cascata de esperança
nas palavras!
Japão Tailândia
Neptuno Marte
tão possíveis de alcançar
pela alma alargada que sentia

fala-me de amor
para eu voar
sentir
mas não fiques
por favor não fiques
para não teres um dia
que partir

quero como o sol
que vás que voltes
para não te aborreceres
hei-de encontrar-te sempre
quando apareceres com ele
por detrás do monte...

quente rubra livre
para te abraçar
num ciclo intenso e eterno

sábado, agosto 23, 2008

o aqui da vida

O que faz mal mesmo
é apoderarmo-nos de tudo
das pessoas das coisas
dos lugares

porque o adeus chega sempre
umas vezes com pezinhos de veludo
outras abruptamente

de nada serve a dependência
a luta inglória
porque o tempo ganha sempre
leva separa tira

e o que dá
embora pareça um castelo
um palácio a ouro debruado
a coisa mais bela
com que jamais sonhámos...

de repente a coisa
(ou nós)
se vai embora

é maior a dor
se não entendermos isto
é ilusão pura
a soberana permanência

é dor profunda
prendermos o que tem asas e voa...

resta-nos a graça do momento
o aqui da vida
desprendido
agradado e leve

sexta-feira, agosto 22, 2008

encorajar faz falta

Cada parte de nós pode falhar
de vez em quando
não é por isso que a vou abandonar

é na dificuldade
que encorajar faz falta
persistir uma necessidade
para continuar

repare-se no relógio
certinho
sempre a trabalhar
um dia começa-se a atrasar
em vez de lhe darmos a mão
agradecer-lhe a eficiência
a dedicação
a disponibilidade que teve sempre
sem errar

zás!

zangados mal agradecidos
irados
logo o jogamos fora
e o lançamos à parede

olha se eu fizesse o mesmo
à cabeça
numa qualquer enxaqueca?!
ao baixo ventre
num qualquer entupimento?!

nada restaria de mim
em pouco tempo!

órgãos dos sentidos

Os olhos e a zona que os circunda
(cabecinha incluída)
é órgão de sentido sobre usado
cansam-se os olhos de tanto ver
dói a cabeça de tanta mensagem
ler

é preciso
temperar melhor
equilibrar
estender a actividade
à aplicação
de todos os órgãos dos sentidos

porque não poupar
alguns deles de vez em quando
e pôr outros a funcionar?

evita-se que uns fiquem atrofiados
por subutilizados
tristes por não poderem mostrar
as capacidades
e outros cansados
por tanto trabalhar

puxa mais a sociedade
mediatizada de consumo
pelo desempenho
pela ansiedade
e no deslumbramento
de tanta novidade
são os olhos quem mais paga

desligue-se um pouco a tv
perturbe-se menos a visão
com tanta distracção

procure-se mais regularmente a natureza
menos regularmente as catedrais da moda
deslumbramento tornado frustração

dê por si em alegria
tacteando descobrindo a vida
tanta coisa boa à espera do seu tacto!

sinta
cheire
ouça

descubra enfim o sentimento
o maravilhoso que há em si por descobrir

terça-feira, agosto 19, 2008

canção do emigrante, em jeito de

Tinha saudades
andava triste
quem está longe
não resiste

é Portugal no coração
é a nossa terra
é o nosso berço
nossa paixão

sou o Manel
nasci aqui
sou emigrante
voltei pr'a ti

vi minha casa
meus pais velhinhos
e a Maria
nos teus caminhos

ó minha terra
pr'a cá do mar
eu ficarei
para te amar

e o longe longe
tem dono tem
que fique lá
quem lhe quer bem

Deusa menina


Linda simpática delicada
uma graça no desenrolar do movimento
desde o simples apontar do dedo
ao descobrir equacionar
cada segredo

a ideia certa
transmitida por uma cabecinha
que parece por momentos que adivinha
qual escultura feminina
com oscilações imperceptíveis
na postura

uma deusa enorme
em forma de menina

que deus te leve onde queres ir
deusa menina
ou mais ainda

mundo melhor
amor sem questionar
princípio do céu
só de te ouvir

só posso dizer
que bom ser acariciado pela palavra
sentir a solução

chega a parecer
olhando para ti
em esbelta simplicidade
que tudo pode acontecer
ou quase
com toda a facilidade

a magia o amor
a paz a festa
um paraíso sem fim
pela eternidade

o espaço vazio

Só o vazio determina
que além do meu ponto
lugar em que me encontro
haja outro ponto
onde não me encontro

e outros pontos
noutros lugares

para existirem
para dizermos
que há longe
que há perto
aqui além acolá
um planeta um país
um animal
uma planta

é necessária
a existência invisível
do espaço

do vazio...

tal como o silêncio
é princípio e fim do ruído

assim o vazio
na cidade no campo
no universo
em toda a parte

é princípio e fim
de tudo o que vemos

terça-feira, agosto 12, 2008

esperança amiga

Esperança amiga
fantasia
de toda uma vida
espelho cruel
do meu processo

engodo enigma
o que queres de mim?

dizer-me que a vida já foi
ou que está aí?

dizer-me que só engano existe
no que faço
ou que é este o desejado passo
nunca dado?

que é tempo de deserto
ou de jardim encantado
que guardaste
para mim?

que é chegada enfim
a invernia
ou que pode haver primavera
ainda?

diz-me que eu não sei

viajo muito nos olhos

Viajo muito nos olhos
na aprovação dos outros
desanimo quando é de animar
contradigo-me
em cada afirmação

quando chego lá
e se mostra a ocasião
com algum
mesmo talvez muito cansaço

que falta que me faz
repousar sentar
parar recuperar

ter assim um cair em mim
estático sossegado
de suor húmido
recolhido
sem mais nada

acreditar só no lugar
sem sequer o ver
ou aceitar

para depois
com voz recuperada do cansaço
firme pausada
com ou sem alento
dizer o que me vai na alma

pedir sussurar abraçar
ir na vida como se fosse natural
aceite por quem me quiser levar
tal como sou

acordar com atitude

Eu quero acordar com atitude
um rumo

que não sinta só o rabugento
fechado enfastiado ar da obrigação
a fobia que causam as divisões pequenas
celas de uma vida escurecida
persianas corridas
copiando a régua e esquadro
cada movimento do dia anterior

se eu corresse ao despertar
um pouco o cortinado
deixasse entrar a luz que é vida
e antes mesmo de pensar fizesse?

se logo de manhã me borrifasse no correcto
no meticuloso ciclo do relógio
se eu alterasse assim que acordasse
a importância das coisas?

e visse com olhos de ver
solto livre espreguiçado
num conforto novo
ou desconforto desafiante
a beleza da vida
vista mesmo do lado de mim?

sem o obrigatório amanhecer em frete
remeloso cambaleante
somado a outros que já passaram
e outros que hão-de vir?

Deusa venerada


Claro que gostava
de fazer amor contigo
(qualquer homem gostaria)

mas isso é apenas pormenor
em tanto que me apetecia
fazer contigo

sentir o medo em cada orgão de sentido
tocar teu tacto com meu tacto
o meu sabor com teu sabor
cheirar-te como se cheira uma flor
sensível breve

percorrer com os olhos cada pormenor
como se quisesse gravar na tela
num poema belo
cada célula de ti

tocar-te sempre
marcar-te
deslizando em cem por cento de atenção
dedicação
como se fosses solo pátrio
terra mãe amada

fosse que tempo fosse
que eu te desse
havia de ser só teu
esquecimento e suavidade
todo o tempo

serias deusa venerada
eu um deus menor
descobrindo o céu!

domingo, agosto 10, 2008

mulher emancipada(?)


Tudo faz sem explicar
nem contas dar
com ar desenvolto
autoritário
sempre a mandar

impressiona
quem está mais desatento
a quem vê tanta acção em movimento

mas eu quando fico mais mental
crítico céptico
e me ponho a pensar
olho para aquela mulher
e em vez de a achar
determinada
eficiente
como já lhe ouvi chamar

penso na emancipação da mulher
e no ridículo que é
querer parecer ter mais mãos
mais pés
do que é normal

querer parecer mais competente
que a própria competência

é muita emancipação em movimento!

e nem um saborzinho a anjo
só que seja
na mulher veloz
rude seca agreste
onde pouco já flameja
o feminino

festa e sinfonia

O ambiente gerado
no local
cansa uns anima outros

eu que estou a observar
o que se passa
sou levado a pensar
que não há sinfonia
com cada qual
a tocar para seu lado

o espectáculo da festa
que se queria animada
acaba em cansaço
quase em tragédia
pela falta de partilha

mais umas notas desafinadas
sobrepostas
exaustas
e não chega a vontade
de agradar
se não se souber tocar
avaliar aprimorar

e finalmente aceitar
que para haver festa
uma sinfonia afinada
tem que gerar-se empatia
e limar-se muita aresta

como há charangas e orquestras
também há
grandes secas e grandes festas

domingo, agosto 03, 2008

estranho milagre

O milagre que acontece
em sugestão
pode durar um instante apenas
muito tempo até
conforme a convicção
a expectativa que o remédio é

um bruxo milagreiro conseguia
curas de fazer pasmar
a quem delas ouvia falar

conta porém quem viu
e quem experimentou
sem vergonha de contar
que o que com ele se passou
foi relação homossexual

queixava-se de impotência
males do ventre
corpo vergado doente
pelo que era urgente
aliviar a existência
ir o bruxo consultar

após diagnóstico peculiar
com cenas capazes de impressionar
depressa o curandeiro foi
direito ao mal

doze tratamentos a cuidar
de um nervo bem fininho
situado no chacra sexual

iniciado o tratamento
era fácil começar
no nervo
e passar às partes próximas

o homem honesto hesitava
tremia
sempre que ele lhe tocava

mas se não colaborasse
(pensava)
lá se iria o milagre
de que tanto precisava

durante doze semanas
um dia de peregrinação
pôs a família feliz
com excelente evolução

o que ninguém suspeitava
naquela felicidade
era que o milagre que havia
estava na sexualidade
que fora ali despertada
diferente da que vivia

sábado, agosto 02, 2008

oásis ou deserto

Ninguém sabe ao certo
se é oásis ou deserto
o que tem
toda a referência está tão perto
que nos parece espelho
do que temos

se não temos medo ainda olhamos
se temos medo de ver
o que não queremos
já nem vemos

dá jeito interiorizar
uma verdade absoluta
própria estática
como se toda a razão
fosse só nossa

um papel monocórdico
de uma peça de palco
vista revista
usada como embuste
toda a vida

só que assim
não há esforço nenhum
nem sementes novas
nem consciência sequer
para perceber
se o que realmente se tem
neste universo...

é oásis
ou deserto!

é excitação a mais

É excitação a mais
para uma vida tão pacata!

é mar a mais
para um barco tão pequeno!

ir longe navegar
sair da velha escarpa
triste pobre isolada
agreste

exige trabalho querer
e menos "faz de conta"

de que vale dizer
afirmar berrar
só da boca para fora
a vontade de mudar?

se quando chega a hora
e os ventos sopram
de feição
a excitação pára...

e nem um passo se dá?!

se a vontade real
e interior
é não fazer nada
para mudar...

da carga pesada
alta escarpada
do velho promontório
que se teima em carregar?

quarto escuro

Lembro a sala fechada
trancada
recheada de móveis e valores
de coisas valiosas boas
que em menino quase nunca
vi aberta

também o quarto reservado
a familiar ilustre
que de quando em vez aparecia
vindo de Lisboa

restava-me a cozinha
o corredor
um quarto escuro
e pouco mais

eu que era passarinho
livre
que tinha ganas de voar
parecia quantas vezes
morcego triste em noite escura
a esbarrar num espaço curto

"ali não mexas
ali não vás"

ouvia!

eu espreitava pela porta
e via lá fora
um mundo de luz
imenso
que começava num pátio
e continuava pelo campo
com barulho de gente
até ao silêncio distante
do espaço

como entendo hoje
a necessidade permanente
de ultrapassar o horizonte
correr mundo
ver gente

de ficar inquieto
quando penso
que em tantos lugares
esse horizonte ainda é curto
fechado triste
como a casa trancada cinzenta
o quarto escuro
onde em menino cresci

a vida exige

A vida exige
é dura
nem sempre há ninho
ternura

instala-se a raiva
revolta
o verbo não sai
sem aceitação
desanima-se dói
em rejeição

recorre-se ao pai
à mãe
ao colega do lado
ao professor
ao amigo
ao doutor

e nada
não há resposta para nós

a ferida instala-se
cresce
o dia claro enegrece

o sucesso é dos outros
as qualidades dos outros
é tudo dos outros

abraça-se o caminho mais fácil
desiste-se

e mais uma vítima nasce

sábado, julho 26, 2008

o ceguinho cambaleante

O ceguinho cambaleante
tacteando
busca em ziguezague
a escada rolante

alguém o vê naquele apuro
próprio de quem sente muito
mas não vê
nada...

estende-lhe a mão
o braço
e em jeito de união
caminham juntos

dádiva e humildade de mãos dadas

enquanto os observo
primeiro subindo
depois desaparecendo
no cimo da escada rolante

penso na falta que faz
a humildade a todos nós
a aceitação
a confiança numa mão

porque o outro é
em troca de tanto pormenor
dar receber ensinar ajudar
uma possibilidade maior
por descobrir

um livro aberto de partilha
a quem o quer abrir

sexta-feira, julho 25, 2008

espreito distraído

Espreito distraído
(que é o mesmo que dizer
a quem me vê
que não estou a ver)
o fino dos teus seios
que se escondem
na peça curta e branca
cintada bordada
que os encobre e os descobre
ao mesmo tempo

o meu céu de hoje é ali
na textura quieta sossegada
cândida
arrepiada só de a ver
de tão lisa
apetecida que é

no tacto contacto
redondo macio
de carícia que pode começar
na parte mais visível
do teu seio
e entrar por aí

o detalhe instantâneo
em disfarce grosseiro
que levei dali
do espaço público

foi apenas prelúdio
de uma febre loucura
de te abraçar
de te esmagar

que causou
mais embaraço estardalhaço
a imaginar
no meu íntimo e solitário
quarto

do que quando disfarçava
no público espaço em que te via
a causa que o teu seio era
de um grande inchaço
que sentia

segunda-feira, julho 21, 2008

raparigas no wc

Temas sexuais sempre foram
são serão
pelo medo oculto
proibição
tema de risota ou contenção

nestes tempos de abertura
os tabus ficaram
menos em clausura
mas são demasiadas gerações
séculos demais a encobrir
o encoberto

apesar de tudo ter mudado
um episódio simples faz pensar
se algo mudou
ou se está tudo por mudar

numa multinacional
em laboração
uma rapariga bonita
sensual
sentiu-se mal
e foi chorar a dor
no espaço recatado wc

uma amiga percebendo
o mal-estar
juntou-se a ela
no recatado espaço
para partilhar

o tempo passou
a linda rapariga saíu a chorar
a outra que entrou
abraçava-se a ela
a amparar

wc em "open space"
colegas de trabalho a observar

tudo está a evoluir
mas a má língua
sobre o que dizemos
ser natural
não deixou de existir

mesmo um simples mal entendido
lágrimas e dor
casual...

não é fácil de explicar
para duas raparigas
no "open space"
de uma multinacional!!!

mau génio

O sangue a ferver
a tensão a subir
só quer falar
para não ouvir

sem ponderação
a pele a sangrar
vazio o olhar
louco zangado
o tempo a faltar

que silêncio e que nada
em tanta energia
acumulada!

uma torrente de voz
enche o espaço em redor
onde ninguém
tem espaço para dar

aquele homem que fala
que berra
que pede consolo
um abraço
daquela maneira
só recebe pena dó
e espalha cansaço

que humildade que falta
no orgulho instalado
no mimo perdido
na fartura de nada!

Mulher reprimida


Porque me agarra a angústia de outro tempo
me refugio nela?
nas caras frias obtusas
pesadelo de outra idade?
guardo esse nada
essa carência total de tudo
que vi
como a abundância maior que tive

porque cometo tal loucura?
onde guardo em mim
o medo e o respeito
por fantasmas que me oprimem?
pior
porque espalho este nada à minha volta
como se tudo o que é bom
moderno aberto
me assustasse?

ser saudável ter prazer
gostar
tocar a vida senti-la
será pecado?

freiras contidas davam conselhos
mas que sabia eu
que sei das suas vidas?
puras castas
mais filhas de Deus que eu?

ou o casal composto
que ao Domingo
se mostrava exemplar
na missa?
que sabia eu
que sei das suas vidas?

que me fez copiar fachadas
exemplares
de vidas deprimidas?

porque não saio de vez
com humildade
verdade
deste pesadelo inchado
que me faz tanto mal?

sexta-feira, julho 18, 2008

que graça cativante

Que graça cativante
nos adornos pequeninos
tantos
com que semeias teus espaços
do corpinho

por instantes
lembrei o tempo distante
do feminino mãe irmãs
as rendas os bordados
as mantas de retalhos
os trapos variados das bonecas
o amor de mãos suaves
brancas
que acompanhei de tenra idade

eram quentes e longas as tardes de Verão
naquele sossego
o futuro nem existia então
porque ficava tão longe
que não cabia
nas nossas cabeças pouca idade

para elas só existia
ou quase
o espaço circundante
o pasmo
com qualquer coisa que mexesse
ou se fizesse

se agora pudesse
menina que passas
com toda essa graça cativante
pedia-te que me mostrasses
cada pormenor
do teu engenho em arranjar-te

manta de retalhos
conjugação perfeita
dos artefactos
coberta descoberta
composta descomposta

que boneca que és
menina que passas
da cabeça aos pés

corpo ferido

O estômago apertado
a ideia em revolta
o corpo dorido
ferido sentido

o dono está longe
imagina viaja
não se importa com ele

é abandono que sente

que discrepância se gera
no stress que existe
entre o longe e o perto
realidade aqui
o sonho acolá

tronco morada de nós
o corpo
que voltas mais voltas
que exigência pedida
ao longo da vida
e nunca frustrada!

corpo ferida sangrando
ele sofre
com o pensamento longe

qual criança intuitiva
dada divertida
que é posta de lado
deixada abandonada

trocada

por um sonho qualquer
que nunca fez nada!

corpo errado em mente certa

Ombros largos
peito forte
músculos de aço
quis Deus que este homem fosse
um corpo errado em mente certa

mente mulher
coração solidário com ela
pensa e sente feminino
suave brando
voz aguda a condizer

um corpo errado
possuído de mulher!

a vizinhança que o vê
reage como pode
como faz ao que é diferente
espreita comenta lamenta
aceita rejeita

uns mal disfarçam a chacota
o nojo até
outros ao invés
sentem-se agradados
surpresos sorridentes
com o ser bizarro
que o vizinho é

é como ter no bairro
à mão de semear
a delgada frágil bailarina
de uma peça de Tchaikowsky
em versão de músculos de aço

um espectáculo diário
que dá um brilho controverso
ao bairro
e para quem o vê
sem comentários
o torna mais agradado até!

sexta-feira, julho 11, 2008

Portugal mudado


Que silêncio absurdo depois daquele email
a solidão dói sobretudo do lado de lá do atlântico
um país ganho pela aventura
o futuro sonhado de outra altura
um país perdido nessa idade
por falta de horizonte
oportunidade

estendi-te a mão escrevi-te
respondendo a um entendimento
que fiz da tua situação
que vagamente me contavas

não eram aquelas palavras as que querias
falar-te em felicidade vida boa
do sítio atrasado que deixaste
da aldeia pequenina que virou cidade
progresso
modernidade

chora o grande quando o pequeno cresce!

e tu na rica Califórnia
nunca pensaste
que pode haver mais felicidade
aqui em Lisboa cidade
que em Los Angeles city

só posso entender esse silêncio
pelo choque
das palavras "triste fado"
que esperavas
e não tiveste

creio que calaste
por o sonho americano
que te vestiu o ego pela nacionalidade
que te deu uma certa superioridade
já não ter eco
no meu país europeu
que é afinal por nascimento o teu
e já não conheces!

Senhor doutor magistrado da nação

Senhor doutor magistrado da nação
íntegro no trato
mestre no parecer
para ninguém o ver
por dentro

quis a profissão que tem
não a mulher que o sustém

daí o permanente embaraço
que o faz encolerizar-se
enervar-se
porque ela (a mulher)
na sua simplicidade
tudo o que faz o faz com charme
natural

previra o doutor erradamente
antes de casar
que a sua simplicidade
(a da mulher)
bastaria para afastar qualquer rival

por não ser assim
e provocar até desejo sexual
faz mossa no ciumento homem
registo de valores antiquados
que o levam a usar
métodos arcaicos de controlar

em casa
quando periga o desempenho doutoral
põe logo em sentido
mulher e filhos
também algum outro familiar
de visita ao lar

logo faz constar recolhimento
no seu retiro de trabalho
lendo livros complexos
ouvindo música clássica
para impressionar

quando está ausente
deixa a família a ler
livros que insiste em acumular
na sua biblioteca lar

se a leitura não foi cumprida
põe o seu mau génio e berra

tal ambiente triste sem prazer
não tem levado a nada
nem a ele
nem aos filhos
nem à mulher

é ele a aparecer a vida a desaparecer!

coitado do doutor
um dia destes
já rebentava
entre os tribunais os livros
a música clássica
e sei lá que mais

teve de desopilar para não endoidar

fê-lo em triste e má figura
suplicante degradante mesmo
calças desabotoadas na braguilha
olhos esbugalhados
camisa engelhada e retorcida

a vítima...
coitadita!

uma empregada doméstica contratada
numa fugida dele a casa
às escondidas
à hora da ida da família à missa

sexta-feira, julho 04, 2008

vivi existiu foi


Não tem consciência a dor que sinto
é mais preenchimento de vazio
confundir o passado do tempo
em um qualquer recanto
do meu conhecimento

vivi existiu foi

e a dor que sinto
não é mais
que o ampliar da confusão
de um tempo
rebobinar de uma qualidade exagerada
de algo que guardei
e que não tem mais lugar aqui

só que era veloz o horizonte que fugia
era esquecido e bom o espaço
que ficava
idade de mim
sentida arrebatada
que não esqueci

daí a obsessão neste acordar cansado
solitária dor
de ferida que ainda sangra
sem sangrar

vivi existiu passou
aceito a nostalgia em que estou

com um sorriso triste e molhado
passeio os olhos pelos contornos
do mundo aconchegado
próximo
amigo
que me acompanha aqui
no meu espaço tempo

e tal como penso
este é o tempo este o lugar
que mais sinto
que mais agradeço

Eu's tão nus

Olho em meu redor
e percebo com estranheza
este desmando
esta fuga
sem o necessário equilíbrio

carapaça dos que podem
nela por safiras e brilhantes
tema de capa de revistas
colunáveis pelos jornais

milhões esbanjados
outros tantos por esbanjar

por outro lado
com outros argumentos
seres de luz
ou seres sem luz
refugiam-se em guetos
ajuntamentos reuniões
ou perdições

estes talvez por pouco terem
ou nada terem
ao invés dos outros
falam muito em troca
em partilharem

Eu's tão nus
Egos tão vestidos
vá-se lá entender porquê
o desequilíbrio!

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...