sábado, agosto 02, 2008

quarto escuro

Lembro a sala fechada
trancada
recheada de móveis e valores
de coisas valiosas boas
que em menino quase nunca
vi aberta

também o quarto reservado
a familiar ilustre
que de quando em vez aparecia
vindo de Lisboa

restava-me a cozinha
o corredor
um quarto escuro
e pouco mais

eu que era passarinho
livre
que tinha ganas de voar
parecia quantas vezes
morcego triste em noite escura
a esbarrar num espaço curto

"ali não mexas
ali não vás"

ouvia!

eu espreitava pela porta
e via lá fora
um mundo de luz
imenso
que começava num pátio
e continuava pelo campo
com barulho de gente
até ao silêncio distante
do espaço

como entendo hoje
a necessidade permanente
de ultrapassar o horizonte
correr mundo
ver gente

de ficar inquieto
quando penso
que em tantos lugares
esse horizonte ainda é curto
fechado triste
como a casa trancada cinzenta
o quarto escuro
onde em menino cresci

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