quinta-feira, novembro 24, 2005

sempre o adeus


habituei-me a vê-las
mãos a acenar
ficava a contemplar os carros na estrada internacional
e por entre o desolado da paisagem
o futuro agreste
os meus olhos entusiasmados sorriam
mas o meu peito de menino sofria
porque a gente que me via e que eu via
era gente que passava
e que não mais veria

no caminho velho
ouvia-se um gemido de carro de bois
trepava a encosta
e soava uma voz campestre
que berrava assim
"ah qui à macho
anda mula"

percebia o contraste que via
então voltava o rosto e corria
como navegador sem idade
para fazer um mar na estrada asfaltada
construir um barco e largar

habituei-me a viver perdido na distância
num lugar pequeno mas cheio de horizonte
e punha como podia o meu coração no mundo

o melhor de mim está aí
quando digo adeus e quero embarcar
quando fico e não vou
quando vou e tenho de ficar
amo mais todos na vertigem da passagem

hoje em Lisboa sinto o mesmo que senti na Beira
berço rude
estrada internacional asfaltada
digo adeus a alguém que não é português
choro num fado da Amália com guitarras

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