quarta-feira, novembro 30, 2005

flores de rosa tantas vezes

apareceste disfarçada em sol de inverno
vida por nascer
embrião de tudo por abrir
havia em ti o deslumbramento das neves dos glaciares
dos verdes mais abaixo debroados em castelos
havia um mar de prata cristalino
os sussurros longínquos de uma felicidade estranha

o sol não era quente
mas às vezes meu Deus aquecia mesmo
nasciam flores de rosa tantas vezes
nesse imenso horizonte inóspito e branco

o vento soprava sempre
e o sonho quente
o coração quente
arrefeciam
tal a intensidade e a força tempestiva das rajadas frias

eu sabia que não podia plantar um jardim do sul
naquele lugar
eu sabia que não podia colher ali um cacho de uvas
um brinco de cerejas
nem sentir o aroma da flor de luz saída das mimosas

mas o vento era forte e perdi a ideia das coisas

vestia-me de inverno se havia tempestade
vestia-me de roxo quando o degelo já tardava
vestia-me de branco quando a esperança morria
dava tudo a este sonho vestido de inverno
mesmo o calor que já não tinha

foi lonjura a mais para um rio de silêncio pequenino

acabei por achar a resposta no tempo
e quando a achei morri bastante

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