quinta-feira, novembro 24, 2005

guerra de audiências


à hora do jantar na televisão
passavam os horrores mais perversos
deste mundo cão
casos de guerra arrepiantes
gente sem nada
nem abrigo nem pão nem água
pessoas atacadas queimadas
mutiladas com ácido sulfúrico
uma grávida violada
um desfilar de tanto mal que ultrapassava quase a ficção

e a minúcia era tal
que o choque e o nojo do que via
me tirou o apetite do bacalhau com grão de bico que comia
cansado de tão perverso realismo
desci os olhos ecrã abaixo
vexado envergonhado
tentando fugir naturalmente daquilo

quando saía
não deixei de ver em rodapé
um anúncio ilustrado de um próximo programa
na mesma televisão
que mostrava gajas e gajos em cuecas
uma piscina
a antevisão de um requintadíssimo deboche

fez-se um intervalo para publicidade
eu desliguei aquela máquina bizarra
quando já desfilava um anúncio que mostrava
neve
pai natal
e um combóio resplandescente
transbordando de brinquedos

fui dar uma volta pela noite fria de Dezembro
pensei muito no Menino Jesus

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