quarta-feira, novembro 23, 2005

algures num canto da cidade

quando se deixa a via larga em roncos de motores
velocidade estonteante
entre torres de cimento a perder de vista
já mesmo na curvatura onde os carros somem para baixo
um velhinho pede esmola aproveitando os semáforos

se mais nada houvesse para dizer
se outra importância não tivesse
aquela presença humana
bastaria o contraste que ressalta
olhando para ele e para os outros
para valer a pena estar ali

de um lado
uma fragilidade autêntica
envolta em farrapos que a vida lhe deu
um sorriso que ainda existe para agradar aos outros
a alguém que se interesse por ele
e não o deixe morrer

do outro
vultos empertigados sem expressão no rosto
nem em sítio nenhum
sem olhos para ver
nem coração para sentir uma situação humana

mais parecem mortos estes vivos que passam
se calhar nem eles sabem porque ficaram assim

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