quarta-feira, novembro 30, 2005

o meu pai foi alguém

desço as escadas sobre o asfalto
a cidade grita
vêm barulhos de tudo o que mexe
perto ou longe
longe ou perto
apresso o passo vozes quase me rodeiam
na ânsia apressada de chegarem
parte um autocarro
e logo outro
uma grua descarrega ao lado
detritos nauseabundos
colhidos num aterro
que faço aqui?
que faz toda esta gente
absorvendo ecos apressando o passo
num espaço hostil
feio
onde não cresce sequer erva daninha
nem se vê o céu
nem o sol
tanta gente neste sítio de ninguém
quem se conhece?
quem?
o meu pai viveu na terra
morreu nela
e fez bem
era ele e pouca gente havia além dele
e tinha nome e sítio e horizonte
mandava nele
virava o leme para onde queria
aqui onde estou
olho à minha volta
além
ali
para este labirinto enxameado
anónimo atrapalhado
e simplesmente sinto
que o meu pai sim
foi ALGUÉM

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