sexta-feira, dezembro 15, 2006

tornarmo-nos pessoas

Eram palavras demais para sairem
as ideias com a fartura engasgavam
o suor e as lágrimas corriam
pela face do homem que não se fazia ouvir

ninguém dava conta disso
nem tinha importância
o tempo era mais de falas corriqueiras
de sorrisos ocos
de fato e de gravata
tudo para fazer de conta e compor a imagem
porque só importava o que fosse mediático

quem perdesse tempo com ele nunca iria longe
nem ganharia glória ou uma brilhante carreira
muito menos honrarias de primeira página

como aquele homem sofria
porque entre o que sentia e o que via
era o abismo
entre o que queria para os outros
e o que podia dar
um impossível de alcançar

como não se achava com jeito para por gravata
como lhe faltava berço para o consolar
como o mundo era pequeno demais e não cabia nele
como ninguém o ouvia
acabou por se suicidar

desse homem apenas ficou um livro
não se lhe conhecia família

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