terça-feira, dezembro 19, 2006

rua escura ângulo recto

Tinha visto a publicidade
era ali a porta
rua escura ângulo recto
música ritmada que saía
piso superior encontro breve
em esperança sábado ilusão de felicidade

parei num espaço arrumando o carro
tentei entender-me a mim
o sítio
e o que o sítio queria de mim

havia alguma gente
percebiam-se encontros fortuitos
outros não
na porta de entrada mais iluminada
que a penumbra exterior

auscultei-me por instantes
os olhos fixavam e fugiam
iam ao fundo da rua
depois recolhiam

e no fundo de mim uma onda crescia
do estômago à garganta dor de dúvida
do não saber o que se quer
se espreitar entrar arriscar
um passo uma coragem
no som musical abraço sexo

ou ficar

senti-me ponto de embraiagem na subida
nem para a frente nem para trás
paralisado

os olhos eram mais vistos do que viam
a dúvida o medo punham-me pequenino e magro
em carro de alta cilindrada
imobilizado

só reparei com o reflexo da mão
chave rodando a ignição
que era o regresso
a resposta encontrada para aquela situação
evitar o muro a ponte o lado de lá

afinal sempre havia um jogo de bola na tv
e a mão sabia disso
do meu medo e do jogo de bola da tv
quando num ápice rodou a chave da ignição
e me pôs a salvo no sofá
entretido e sem esforço

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