sábado, dezembro 30, 2006

parece clandestino

Parece clandestino deslocado
o tempero do amor que nos anima
coisa de loucos de famintos
de poetas sonhadores
de bizarros dançarinos
náufragos de um tempo sem valores

quem quer comer come e pronto
diz quem sabe
pede a conta paga vai embora
não tem tempo para dançar
mimar sorrir experimentar
fazer caminho

porquê gastar tempo sem usar
cansar-se transpirar expor-se a julgamentos
se abundam mulheres fáceis homens também
mesmo à mão de semear

se tudo flui ao ritmo esperado
nas ruelas circundantes
come-se e bebe-se compra-se e vende-se
em prazer fácil e oferecido
basta tirar do bolso a nota da carteira

elefante branco bar catedral prazer
século vinte e um
porque não entramos
porque não compramos
porque não nos serve esta “normalidade”
da vida de qualquer cidade
da vida de qualquer um

elefante branco sexo e companhia
aos teus olhos parecemos anormais
só dançamos só sorrimos
depois ficamos num espaço tribo
pé descalço
índio fogo cambaleante
e partimos como chegámos
nem vendemos nem comprámos
nem comemos nem bebemos
nem perdemos o tino nos copos

parece mesmo clandestino
este estranho amor com alma sem cobrar
com ritmos e gestos intrigantes
comportamentos preocupantes

mas há raízes e sons que incendeiam
momentos primitivos céu e terra tão bonitos
fogo e noite lua cheia
mar e ar e seres deslumbramento
que valem mais que vómitos diarreias
orgasmos pagos anedotas de banquete

corpo sem alma é pouco meus senhores
e em vez de troça chacota desconfiança
fica o convite
juntem-se a nós com corpo e alma
dancem sonhem
que a dança e o sonho levar-vos-ão ao paraíso

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