quinta-feira, maio 12, 2011

Geração à rasca




Sei que estamos todos um pouco zangados, frustrados, Portugal parecia em breve estar entre os melhores, se não num top 10 pelo menos num top 20, afinal...
uma crise mal entendida, mal explicada também, tirou-nos alguma inspiração, crença na Europa, no sistema financeiro, no presente e no futuro de Portugal e do mundo.
Eu já o tenho dito, fiquei triste com o pedido de ajuda externa, sinto o vexame, não estava à espera, ficamos por conta de outrem, vigiados como meninos de escola primária...

Mesmo assim tento compreender a necessidade dessa ajuda externa.
A gente tem que comer, habituámo-nos ao dinheirinho no fim do mês, há contas para pagar, família para sustentar, vícios a precisar de alimento, etc, etc.

Mas, e há sempre um mas, recebi um email muito a propósito, que fala no tema "geração à rasca", em quem esteve realmente muito à rasca numa época muito próxima desta, que divulgo em baixo.
Uma coisa é certa: seja em que circunstâncias for, há sempre que saber separar o essencial do acessório.

Creio que, nesta nova era, habituados a uns tempos de vacas gordas, nos custa pensar com realismo que a vida nem sempre são vacas gordas.
Nem a felicidade cai do céu aos trambolhões, nem a saúde, nem o dinheiro, nem coisíssima nenhuma.

A vida meus amigos é difícil!
Daí o interesse do email que recebi: simples, não ofensivo, que diz umas verdades de um tempo bem recente, que podem ajudar, ou os que esqueceram delas, ou os mais novos que não tiveram oportunidade de vive-las, a dar valor ao mundo abundante de hoje.

Mesmo que agora com a crise em vez de três carros, três telemóveis, três plasmas, cinco leitores de mp3 só possamos ter dois carros, dois telemóveis, dois plasmas, quatro leitores de mp3... não é nada mau, acreditem.
Leiam o email e meditem:
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O email que recebi

Geração à rasca foi a minha. Foi uma geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente ou pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.

Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.

Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.

A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.

Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos caixotes, em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter melhores imagens, mas apenas se conseguia transformar os locutores em "Zombies" desfocados.

Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa de massa.

Na rádio ouviam-se apenas 3 estações, a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os humoristas da época.

Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora Nacional, agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase todos os meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico fica a abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO antes os bilhetes esgotaram.

As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de bebidas, e não só...

O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os boémios. Éramos a geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.

As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra, ou amigos que estavam por cá.

Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e E-Mails cheios de "k" e vazios de conteúdo.

As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".

Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza... ...a viagem de ida.
Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses eram os nossos cruzeiros. Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam doentes.
Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como era conhecido o Salazar, não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos, laranjada, gasosa e pirolito.

Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a preto e branco.
A minha geração sim, viveu à rasca. Quantas vezes o meu almoço era uma peça de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao jantar, uma lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5 pessoas.

Na escola, quando terminei o 7ºano do Liceu, recebi um beijo dos meus pais, o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me dar. Hoje vão comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos organizados, para comemorar, tudo pago pelos paizinhos..

Têm brutos carros, Ipad's, Iphones,PC's, .... E tudo em quantidade. Pago pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!! Tiram cursos só para ter diploma. Só querem trabalhar começando por cima. Afinal qual é a geração à rasca?
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Fiquem bem,

António Esperança Pereira

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