terça-feira, dezembro 29, 2009

mesa redonda


Ouço-os falar no pequeno ecrã
sentado no sofá
silente objectivo atento
sem tomar partido à priori

mesa redonda democrática
espectro político nacional
presente

ângulos diversos
palavras diferentes
cruzam debate
ao mesmo tema referentes

alguma inteligência na abordagem
há diferenças
mas como a política está
predomina a habilidade

o barroco das palavras
o adornar do discurso
em espectáculo

verdade e inverdade

esclareço-me pouco
sobre temas importantes
de Portugal tantos anos adiado
e estes homens com responsabilidade
eleitos pela comunidade
mais parecem interessados
em conjugar o verbo “sou”
que o verbo “somos”

show político oco de tv!

e o país amado
este chão que partilhamos
e que queremos colocado
entre os melhores

em risco mais uma vez
de ficar adiado
porque as ideias faltam
e a confusão impede a acção

sábado, dezembro 26, 2009

Tratado de Lisboa


Compara-se aldeia com cidade
inculto com letrado
inabilidade com habilidade
resulta disso pessimismo atroz
que eleva os outros
nos rebaixa a nós

país de rima
mas com parca auto estima!

temos políticos famosos
especialistas
escritores
pensadores futebolistas
treinadores actores
fama de bons trabalhadores

uma revolução dos cravos!

só que herdámos
uma cruz um cemitério
um rosário de amargura
um triste império

uma ideia sem critério
isolada desolada
que perdura

não entendemos das coisas
que fizemos
a grandeza
mas a sua pequenez

só saudade e vil tristeza!

faz falta meditar rezar
de quando em vez
até chorar
quando a força humana nada pode
contra a natureza

mas acontece o mesmo em todo o lado
no mundo português e no resto do mundo

com o Peter dos outros
e com o nosso Pedro
com a Mary Ann dos outros
e com a nossa Ana Maria

tanto carpir porquê?
dizer mal de nós porquê?
ter olhos na cara e todos os sentidos
e não querer ver ouvir sentir
mudar
porquê?

estas as perguntas que eu faço
em dia de natal
ao povo português

olhai bem para vós
pois a terra que está aqui e que habitais
é boa pródiga liberta
testemunho lar de ancestrais
avós

orgulhai-vos dela bem babados
na filhós
nos sonhos
nas fatias douradas
no copo de vinho
na língua que falais

Tratado de Lisboa
Europa mais

Portugal encostado ao atlântico
a um passo dos Urais!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Momento eterno


Um cacho humano irregular
na forma
na idade
no ideal
na proveniência
no estado social

em música suave
de pé em roda pendular

chega a doer ali estar
a taquicardia a aumentar
ver de perto
os olhos dos outros
a olhar

mas vencida a dificuldade
trazida do exterior
angústia
ansiedade
stressante realidade

é a viagem perfeita
ao fundo do peito
embalo amparo
encosto gosto
seara de corpos a ondular
a crescer em sentimento

a pele comanda
toca resvala treme
sente ruboresce

ás vezes…
por o que toca ser tão bom
desperta o som
que geme
esmaga o amplexo
que em transe
desfalece

dedos rostos
ombros costas
cabos enseadas
curvas rectas
duro fofo
tudo se entrelaça
se abraça
no fruir do momento eterno

é mar é terra
é ar é fogo
é estar perdido
tão achado

no fim desfeito
inteiro cheio
quente
com tudo e sem nada
entendo o conceito
de “momento eterno”

comparada com isto
e como a imaginamos
achei a eternidade
um vazio
uma seca
uma fria enormidade

terça-feira, dezembro 22, 2009

glória nova


Muito vejo incomodados
os que dantes eram poucos
minorias ditas esclarecidas
minorias ditas mui letradas

andaram os tempos
mudaram-se as verdades
essa meia dúzia de repente
conquistadas liberdades
virou milhares milhões
democratizou-se a sabedoria

sobraram uns velhos e jarretas
os filhos deles outros que tais
zangam-se dizem mal
defendem com unhas e dentes
mundo antigo
que não existe mais

calem-se por zangados
meus senhores
por ultrapassados

que a vida nasça a cada dia
novidade possibilidade
pois a matriz arcaica
que defendem obstinados
se finou na idade

que os coveiros do país
mascarados de botas e tamancos
poupadinhos por armanço
e não por ser verdade
sumam de vez

é mais fácil dizer mal
representar
fazer o que se viu fazer
(fazer igual)
que ter ideias avançar

ficar na glória antiga por preguiça
e conveniência
que trabalhar a glória nova
com eficiência
e mais justiça

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Terapia do riso


Uma senhora praticante
entusiasta
de tal forma empolgada
convencida
que o remédio é rir…

nem se deu conta
quiçá de tanto rir
que já pôs
o marido de muletas!

sem querer ser psicólogo
ou analista
parece-me óbvia
descompensação
conjugal
à vista

ela
em grande excitação
fuga ao trivial
à vida morna
ri

ele
sem abertura à inovação
nem hábitos de rir
em enorme sofrimento

cultivando a sisudez
no comportamento
não aguenta
na consorte
tal matriz

chama-lhe “tretas”

e zás!

uma queda
o hospital
mulher feliz
ele de muletas!

quarta-feira, dezembro 16, 2009

melhor pagar


Quanto mais se evitar
pagar
mais a soma aumenta
mais se amplifica a dor
da dívida
a saldar

melhor realizar
que adiar
a renda o seguro
a prestação
as contas
com e sem juro

o mesmo em casa
com objectos
espalhados desarrumados
loiça por lavar
roupa por cuidar

quando se dá conta
da barafunda
da falta de método
parece loucura

tudo se agita
muito se grita
o pior acontece

tantos passos a dar
(por dar)
decisões a urgir
(por cumprir)
sempre a adiar
a remendar…

chega o momento
por tanto “adiado”
tanto “acumulado”
que o que era lixo
vira lixeira
o que era conta
vira calote

e fica difícil recuperar!

terça-feira, dezembro 15, 2009

Frio Dezembro


Frio Dezembro
folhas caídas
corpos tapados
horizontes desolados

branco cinzento
quase que neva
no sopro de vento
que vem de Castela

foi de lá que eu vim
raia bem perto
nevava gelava
quando o inverno arribava

havia natal
um cheiro a lareira
poucas as vozes
na pequenez do local

um vazio gélido
noite geada
em tão longe sítio
natal consoada

mesmo assim…

que bem sabia
bolo rei coscurel
filhós doçaria
na fantasia
da criança de mim
doce como mel

encostava o nariz
na janela embaciada
fria
e nela desenhava
letras nomes
depois apagava

como que vivia
já então
entre o amargo
e o doce
entre o inverno
e o verão

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Deus maior


Tudo a correr aqui
em tamanho pequenino
no campo na cidade
na casa ou na rua
a trabalhar ou nem por isso
a amar ou nem por isso
devagar
ou em maior velocidade
virtual
ou em maior realidade

aqui onde habita Cristo
o maior dos visionários
e a vulgar gente

útero Deus
sem fim à vista
por tamanha infinidade
que mal dá para imaginar
mas que se sente

potente incandescente
Deus silêncio energia espaço
onde tudo se esgota
e onde tudo pertence

a aldeia a cidade
o mundo português
a humanidade
o espaço e o não espaço

tão grande Ele é
abrangente
que fica invisível
o que se vê
parece vazio o preenchido
parece parado o que não pára

ficam menores
os deuses maiores

domingo, dezembro 06, 2009

pais lugares amigos


Posso ficar a recordar
pessoas sítios amparo abraço
amores da minha vida
buscar aí consolo
chorar a falta
ter assim felicidade

houve tanta parra
tanta uva
tanto trigo
tanto sonho
nas cores garridas da alvorada
sempre então
com a descoberta na palma da mão

sim tudo verdade
sítios gente que se teve
e não se tem

aventuras que passaram
veredas silvas e amoras
penhascos pedras e giestas
vozes longínquas que embalaram

namoricos que nasciam
entre raios de sol quando floriam
frescas lindas douradas
as mimosas

cheiros sazonais que embriagavam
numa geografia pequenina
entre montes
e ribeiros
que vista com os olhos de então
parecia a maior lonjura do mundo

podia ficar homem criança
dizer que tudo é breve
que tudo começou e findou então
chorar o que não há

mas pessoa e mundo é construção
sinto-o hoje
com os sentidos explodindo gratidão
pelo que sou
com o amparo de todos

neste exacto lugar
em que escrevo em português
em que abraço os que foram
e já não são

todos cabem no meu coração

mas eu vos digo
pais lugares amigos
geografia andada dos meus passos
que transporto comigo
o movimento contínuo
imparável

a vida

qual estafeta de distância
atleta herói desta experiência
cuja corrida agora está aqui

e para a continuar
vos digo
pais lugares amigos
que é AQUI
que tenho de me concentrar

valia e dimensão


Dimensão não importa
tamanho não é grandeza
nem quantidade
qualidade

países há grandes
pequenos
outros pequenos
bem grandes!

num jogador de futebol
que tenha que cabecear
ou num de basquetebol
que tenha que encestar
ser maior pode ajudar

mesmo assim consideremos
que o alto corre bem menos
perde na habilidade
para o mais leve
e pequeno

de nada serve um império
se se quedar
na aparência
mostrar muitos gigantones
impressionar
perder em vez de ganhar

quem privilegiar
competência
com todos no melhor lugar
o mais pequeno local
pode crescer aumentar
brilhar

ser pólo de referência!

domingo, novembro 29, 2009

intelectuais e orientação


A cada plano de actividade
crescem regras e papéis
na limitação da vontade

um conselho apropriado
uma conduta indicada
assim é bem assim mal
uma roupagem acertada
a cada cometimento

um cansaço ilimitado
também
de tanto apropriado
de tanto assim está bem

deveres no comportamento
a vontade mutilada
um registo em cada evento
a pessoa encaixotada

o racional equilibra
põe consciência na acção
mas não deixa existir
nem a intuição se soltar

fica tudo arrumadinho
feito por “intelectuais”
sem grande história nem glória
ademais

defendem a tradição
para evitar a mudança
que contraria seu mofo
e abre à inovação

tanta e tal representação
faz a comodidade de uns tantos
que à afirmação e vontade
contrapõem “orientação”

quarta-feira, novembro 25, 2009

Menina do Baleal


Não a conheço
nem conhecerei
não sou importante
nem nunca serei
um dia na net
sítio ocasional
vi-a em foto
na praia do Baleal

rapariga bonita
num sítio familiar!

sem a conhecer
sem nada saber
chamei-lhe com graça
por isso
“menina do Baleal”

numa outra foto
alta ternura
Chiado Lisboa
vi-a beijar
Fernando Pessoa

deixei comentário
á toa
marialva brejeiro
desejei ser Pessoa
para merecer seu beijo

e acrescentei
(como escrevo também)
que talvez um dia
se tiver estátua
e já no além
mereça seu beijo

ainda vi mais
uma foto em que estava
modelo bonita
em alfaromeo
carro de infância
do meu coração

coincidências a mais
de “crenças” iguais
das nossas pessoas

por isso lhe digo
menina do Baleal…

sem saber quem é
nem nunca saberei
sem nunca a ter visto
nem nunca verei
que não a esquecerei!

terça-feira, novembro 24, 2009

amigo da onça


Cansaste dele
desapareceste
quando enfim percebeste
mensagem de afirmação

amigo só para muleta
sem valência nenhuma
que ampare a treta
que vendes por
coisa boa

problema e mais problema
esse o mar
do teu sucesso
tornar fraca a força alheia
disfarçando
o insucesso

para teu desespero
tudo cresce
ele cresceu
deixou de ser coitadinho
e isso fez mossa
doeu

para sobreviveres a brilhar
da forma que escolheste
(bom de mais para ceder)
precisas sempre de achar
podres buracos e dor

sem jeito para mudar
nem olhos de quem quer ver
no sim dirás que vês não
no não dirás que vês sim
para teres sempre
“razão”

apesar de te perder
ainda bem que mudei!

sábado, novembro 21, 2009

só dieta


Pão integral
só dieta
nada que “faça mal”
tira-se brilho ao olhar
põe-se triste o paladar

é o excesso do não vício

mas abusar…
de álcool drogas e vícios?

diz a experiência
a vetusta consciência
que com o andar do tempo
fica tudo a avariar

verga o corpo do excesso
da risota hilariante
da eufórica excitação
da morbidez da ressaca

esta a grande dualidade
para o comum dos mortais

vida longa comedida
regra a regra bem cumprida
ou cansaço no desmando
no que se lixe do como
do quando?!

dito assim de outra maneira

noitadas farras e pica
e morrer não importa quando
ou vida de grande tino
certinha sã compridinha
sem gozar um desatino?

triste mesa água e sal
um peixinho branquinho
numa fraqueza integral
e morrer como um anjinho…

ou só partida loucura
excitação desafio
para o tempo aproveitar
sempre a vida por um fio?

terça-feira, novembro 17, 2009

há dias e dias


É daqueles dias
em que tudo esgota

sair da cama com frio
os deveres a cumprir
a seguir
a quase inabilidade
de ser

faço tudo a correr
olho o relógio as horas
o ponto que tenho que picar
penso penso
sem pensar

notícias cansam
filas de tráfego
grassam
o emprego farta

quando enfim paro
despacho o carro
mal estacionado
junto ao trabalho

um colega conta
que há salvação
passos a dar
em moleza tal
a pregar
que aumenta o stress

outro desabafa
queixa-se grita
exploração
e ameaça o patrão
com o sindicato

dói-me a cabeça
um ouvido
já não ouço ninguém
sinto-me deprimido

saio apressado como entrei
preocupado
não sei que fazer
deste meu fado

para já irei ver
se o carro mal estacionado
ainda lá está
ou se foi rebocado

depois a seguir
logo verei!

sábado, novembro 14, 2009

teoria e prática


Os teóricos pregam pregam
escrevem ensinam
e os ouvidos do mundo
as consciências
nem sempre alinham
a pôr em prática
o que ensinam

sofre o teórico
em verdade
com a ideia que teve
a luz
que quis que fosse
um acrescento
um mais
para a sociedade
e a vê esquecida
posta de parte

sofremos nós
que desprezamos
o que o sábio sabe
e não o aplicamos

melhor deixar tudo como está
ignorar quem toca a ferida
só que a ferida para curar
tem que se enfrentar
e ser mexida

sabedoria no corpo nos sentidos
mundos pessoais tão ricos
visionários
que merecem ser ouvidos
lidos estudados
ensaiados

por isso digo
aos poderes de decisão
aos fechados aos descrentes
no permanente iluminismo
da “verdade”
que abram à sábia possibilidade
ao novo ensinamento…

como se pode ajuizar
entre o que há e o que vem
se não der para comparar?

quinta-feira, novembro 12, 2009

pobre ser humano


A emoção ferve o corpo treme
agita-se
há como que um sim que arde
e um não que gela

na hora da opção
pensa-se pensa-se
pensa-se

e se o pensamento ás vezes é amigo
nos livra de difícil situação
nos encaminha
para a melhor das consequências

outras não
atrapalha põe razão
condena a coisa boa
antes mesmo que aconteça

tudo tem um tempo
uma oportunidade
que se perde na desistência
ou se ganha na insistência

pobre ser humano
cheio de vontade
de olhos de sentidos
de infinito imaginário
de garra crença trabalho
que ao fim e ao cabo
se confina

o que é extraordinário…

a uma distância pequena
um triste calvário

do palheiro ao prado
do casebre ao adro
do ganho ao gasto

vida sonho tão grande
que tudo tem
tudo contém
e nós por defeito
ou falta de jeito
tornamos pequeno!

domingo, novembro 08, 2009

Tampa


Faz tempo já que a tampa
o não estar lá quando eu queria
me desesperava
me feria

ficava na espera
como se meu nome em testa escrito
fosse “SÓ”
abandono desconsideração
pelo eu de mim
que aparecia com toda a prontidão

puxava então
pelo cigarro companheiro
disfarce mais á mão
do que sentia
fumava ansiava sofria
enquanto esperava

mas a vida enquanto corre ensina
aprendi a deixar de ser assim
só cumpridor de horário
presença dada
gajo porreiro amigo grátis

aprendi a estar comigo
com quem está se está
se não estiver ninguém
aprecio meu melhor amigo
EU
e não me sinto só

quando acontece
se acontece
faço da tampa um alívio
tiro fantasia ao evento
e sem fantasia
qualquer evento
tem o seu lado lunar
fica vulgar

já não dói tanto!

a vida está em mim
enquanto me quiser
ela sim
tenho que o reconhecer
é determinante de SER

a tampa não
é apenas minúsculo detalhe
pequeno grão de uma seara
esqueço-a no passo que dou
no instante próximo

só sinto falta
de quem sente a minha falta
porque o sentimento sente
e está para além do encontro breve

sexta-feira, novembro 06, 2009

Povo grande


Entendo quando o barco á vela
e a carroça
eram transportes importantes
quando a concorrência
dos lusos encostados ao atlântico
eram potências…

que a voz faltasse
a esperança mingasse
que as lágrimas disfarçassem
a solidão
da ousadia
de ser Nação

quis independência
e Portugal sofria
na pele na alma
geográfica consequência

mas os deuses já sabiam
que aviões viriam e com eles outras distâncias
que Portugal fazia bem e falta como era
no sítio atlântico em que pousava

hoje a poucas horas de Moscovo e Nova Iorque
no centro da geografia do mundo
Lisboa ponte amiga um povo eleito
vizinhos poderosos hoje unidos
milhões de irmãos amigos
falando português!

que falta pois a este povo
para sentir isto
esta vocação histórica de ser grande
medianeiro diplomático pioneiro?

abram-se os olhos
avivem-se certezas
pois se Portugal esteve cá
e se foi grande
quando o longe se cumpria
á vela ou de carroça

o nosso hoje aqui neste pomar
moderno
é um lugar ao sol bonito amado
em que só não acredita nele
quem não gosta dele
ou quem…

depois de tanto o ver andado
anos séculos desafiados
experimentados
nem acredita no que vê
cego
na descrença triste fado

sabe-se lá porquê!

para quem o povo português
em vez de ser o cântico dos cânticos
uma elegia um poema heróico
mais parece soneto de sepulcro
um beco sem saída
morte e dor ultra romântica…

sabe-se lá porquê!

terça-feira, novembro 03, 2009

meu serão


Levei com bola telenovela
notícias deprimentes
arranquei do sofá queixoso
e meio tonto

um serão anafado de lazer
desconfortado de prazer

subi os degraus do meu duplex
triste comigo por caminhar
sem gosto
trôpego e devagar

agradeço a fartura deste tempo
mas com doses duplas nos canais
em véspera do dia do defunto
fico a pensar
se será falta de imaginação
ou imaginação a mais

notícias só chocantes
sem grande significado
que na mistura com o resto
deixam o incauto cidadão
bem arrasado

nada vi que me orientasse
que me desse uma ideia pragmática
um roteiro de vida
e me ensinasse

e há tanta coisa a acontecer
boa de ver
tanto por fazer que urge empenho!

sei que fico depois disto
coscuvilheiro e esquisito
mais piroso a falar
que um cabeleireiro de moda
a pavonear-se
num show das mil tv’s

falo da vida instável do artista
do político não sei quantos
vigarista
das quecas da vedeta que se publica
só para se fazer ver
e se falar dela

ainda acrescento ao falatório
a menina pequenina
triste sina
cuja vida se disputa
entre pai bêbado e mamã prostituta

completamente extenuado!

acabo meu serão na internet
a ver o que acontece
o que aparece
o que enlouquece
sem o fazer com convicção

antes de me deitar
para dar sentido a isto
ainda passo pelo site do primeiro ministro
com os olhos a piscar

mas desisto
pois já não consigo atinar!

segunda-feira, novembro 02, 2009

liberdade e tradição


Ficamos com uma ideia das coisas
das pessoas dos povos dos lugares
do conhecimento que passa
e se transmite
de geração em geração

uma estafeta de vidas
que nos liga nos enlaça
uns a correr outros já não

porém que fazer deste rio
de águas de hoje
do leito adulterado
que não é mais o rio antigo?

cultivar a ideia feita tradição
água passada
que impede a novidade
a abertura ao que acontece
carga mental de outrora
muralha
ao novo entendimento…

ou não?

a liberdade
se alguma vantagem tem
no percurso moderno
no testemunho que levamos
é ser um grito de possibilidade
de poder levar verdade
aonde mentira era

assim caem mitos falsidades
tantas enormidades
que os poderes pregavam
como verdades para reinar

sem haver lugar
a que uma qualquer flor
diferente do habitual
pudesse brilhar!

sexta-feira, outubro 30, 2009

casamento complicado


Casal convencional
obrigatório
desigual
assim são o corpo e a mente

ela sempre a controlar
travar
ele a querer furar
ir experimentar escapar
sem conseguir

companheira só moral
saber estático
herança cultural
do parece mal

e só ás escondidas
quando a sente distraída
adormecida
pode o corpo ensaiar
algum consolo extra

mesmo assim
parecendo que não vê
ou que consente
a verdade que virá
é bem diferente

a culpa
que debita no coitado!

chama-lhe de estroina
valdevinos
debochado
incapaz de um comportamento limpo
exemplar

só por tentar
consolar um pouco o stress
a ausência
a carência
que a fria implacável consciência
lhe provoca

ele com o tempo
(o corpo)
também pelo hábito
opta pela desistência
na impossibilidade
de lhe fazer frente

de dar peito cheio
ao peito que já vaza

vai murchando entristecendo
encarquilhando
aceitando
em postura conformada
o poder incontornável
da mente

casamento obrigatório
fica mesmo insuportável!

segunda-feira, outubro 26, 2009

guerra


O estilhaço dispara
A VIDA é matada

na fome de sangue
na cegueira instalada
o ódio grassa
no nada que deixa

ceifeira de vidas
a guerra
é choro o que traz
é negro o que veste
é cinza o que faz

o que se ganha?

um pedaço de chão
um poço de petróleo
uma qualquer razão?

e o filho partido
a irmã violada
a casa queimada
tudo destruído?

nada há que pague
esta oportunidade

A VIDA

vida que é festa
vida que é dança
vida que é amor
vida que é tudo
menos matança

acordem pessoas
de todas as idades
de todas as raças
de tantas verdades

conversem respeitem
respeitem-se
se não se entenderem
na solução
se ficarem tensos
escravos de uma “razão”
esperem um tempo
parem
e em vez de matarem
de arma na mão…

NÃO!

enquanto esperam
a solução
dêem as mãos
façam uma roda
e dancem
que o sorriso vem!

no passado de visita


É nestes dias mais oblíquos
Outono transição
os dias grandes de verão
a findar mais cedo
que pequenas tristes coisas
causam medo

cheguei a este sítio
vindo da cidade
era domingo e não sabia onde ir
chovia

era em hora ainda cedo
mas o Sol já ia tarde
talvez cansado como eu
da falta de calor
nesta planura de Novembro
onde em Agosto
é sítio abrasador

dei com isto com dificuldade
tudo parecia ter fugido
com a largueza do asfalto
que estreitava aqui
em outra idade

ainda cuidei a espaços
que era problema de visão
algum cansaço
as árvores os carreiros
a própria dimensão do monte
circundante
tinham mudado

até na rádio o fado
que ali ouvira dantes
sofrido amado transpirado
entre deus e o diabo
entre céu e inferno
entre tudo e nada
tinha mudado

não era a Amália que cantava
era outra voz
a mesma letra a mesma música
só que alterada

irreconhecível lugar
que não existia
nem a curva que a estrada fazia
nem o sentimento
que o fado tinha
que em outro tempo
fez chorar

um choro de uma alegria de morrer
agora em outro entendimento

deu para perceber
abrindo os olhos
realidade
num último sopro de vento outonal
antes de voltar
que pôr passado no presente
é confusão e sofrimento

sexta-feira, outubro 23, 2009

nós e o rio estreito


Sim afirmativo vamos
penso isto enquanto acompanho
o fio das palavras que não pára

e falo falo falo
animo pedalo depois canso
desanimo
com o decurso de discurso
perfeito
para nada

comparo a dois rios lado a lado
um direito plano cheio
que logo atinge o mar
sem se esforçar

o outro
mais estreito
com curvas contra curvas
no trajecto
fragas montes quedas
voltas e mais voltas
tanta dificuldade na distância…

que ou fica seco antes
de chegar
ou chega tarde demais
ao mar

cabe perguntar
ao tempo que é só tempo
e que se esgota
a valia de tanta teoria
que seca os lábios
o peito a voz?

haverá depois disto em nós?

ou só voltas e mais voltas
curvas contra curvas
secura de fluidos
embargada a voz
sem se chegar a qualquer
foz?

fêmea linda delicada


Fêmea linda delicada
olhos de mar
que só de os ver
brilhar
meu peito ecoa
a suspirar

sei o teu nome
nada mais
sei que me vês
de vez em quando
e quando o fazes
gosto

apetecia perguntar-te
pedir-te
que te desses um pouquito
que te emprestasses
que fosses um miminho

como raminho de salsa
de vizinha
como amor amarelinho
de canteiro

que te pudesse tocar
sem recear
que te pudesse ver
sem esperar

que matasses enfim
a utopia
a sede de sentir
o vazio que há
a fantasia
entre mim
e não sei quê!

sexta-feira, outubro 16, 2009

família democrática


Uma família real
mediática
em Portugal
bem democrática

são três irmãos
uma mãe um abrigo
a mesma Pátria

um é de esquerda
outro de direita
outro do meio
e tudo se ajeita

faz impressão
a qualquer cidadão

mas vendo bem
até tem vantagens
se der pró torto
de esquerda ou direita
qualquer revolução
não é desconforto

um apaixonado
que seja sensível
impulsivo nervoso
fica baralhado

imagina tiros
berros e murros
numa família assim

mas não
são todos amigos
e há que afirmar
que estamos perante
família exemplar
de democracia em Portugal

incompletos sofremos


Fiquei atento ás palavras
concordavas comigo
assentias
que a vida é um puzzle
de peças dispersas

tantas…
que na carência na falta
perde-se o tino
o sentido do essencial

lá fora há tudo
procuramos
uma possibilidade em mil
mas na ansiedade
a coisa é difícil
logo endoidamos

não há o que queremos
ou talvez haja
e não vemos

mundo imenso
nós tão pequenos

puzzle em formas herdado
que logo o tempo
põe desactualizado
nós incompletos
sofremos

como criança
perdida no medo
na ausência de colo
de peito materno

erramos pedimos calamos
berramos
enfim perguntamos

que será que eu quero?

Povo português


Queria dizer-vos para mudar
sair da triste história
da tibieza
mais de espírito que material
dessa necessidade de agradar
a trabalhar a trabalhar
para gregos e troianos

eles os outros são melhores
dizeis
em quê?

não vejais só as moedas
que vos dão
vede também as feridas que colheis
e o que perdeis
em exclusão

povo que um dia se perdeu
se confundiu
que deixou de ver futuro
em solo seu

queria dizer-vos
para mudar
que é tempo de arrepiar caminho
acreditar
que sois melhores que serviçais
que sois um povo grande

e vós sabeis!

é tudo uma questão de atitude
de entenderdes o país real
entre os melhores
europeu histórico
fantástico de cores
moderno

com mar com céu
com espaço atlântico
num sítio tal
que o põe no centro do mundo

equilibre-se pois
a direcção das atenções
olhemos para os outros
sim
gostemos deles
afinal somos bons fraternos
tolerantes globais
pioneiros

mas que os outros
por merecimento
por indómita vontade
(natural em quem é grande)
sejam os primeiros
a olhar para nós!

segunda-feira, outubro 12, 2009

mudanças de papéis


Fêmea branda suave receptiva
caseira sofrida
assim era noutra idade

quase santa em paciência
ela lá estava capaz de ouvir
de abrir
de transmutar
tanta força em raiva
por sair

o homem trabalhava
bulia
a mulher dava à luz
criava
distribuía alimentava

tarefas bem diferenciadas
um berrava o outro ouvia
um batia o outro levava
um ia á guerra
o outro chorava

mundo evolução movimento
nada hoje é como era
novos valores realidades
um diferente entendimento
tantas mudanças rápidas
que até causam sofrimento

mulher com tarefas de homem
homem com tarefas de mulher
pelo que há que ter
nova maneira de ser
que nada tem a ver com ontem

se não
é o fim do casamento
como molde de união
do compromisso entre opostos
pela não compreensão
das mudanças de papéis

sexta-feira, outubro 09, 2009

Estado solidário


Que ninguém fique de fora
em exclusão
sem emprego sem abrigo
solidão

que o Estado seja solidário
que puxe para cima
o carente o necessitado
o que na curva descendente
do sucesso
ficou desanimado

que ninguém fique sem cheta
ou tenha que entregar a sorte
a qualquer falso profeta

um país esclarecido
no presente
não deixa ninguém sem solução

o mundo andou experimentou
já percebeu
liberdade sem apoio é solidão
pois então que ela seja protegida
que não se perca tão grande bem
por ingenuidade

incentive-se o invento a coisa nova
que se prospere
na inovação
impedindo o abuso a corrupção

um Estado social evoluído
com iniciativa responsabilidade
um jardim florido
onde todas as flores
sem excepção
cresçam floresçam
em liberdade

quinta-feira, outubro 08, 2009

Ildefonso


Em Paris de França
nasceu um rapaz
de pais humildes de cá
a quem o trabalho lá
deu abastança

um nome com intenção

o pai queria que fosse
“Ille de France” por paixão
por vontade da mãe
seria Afonso
nome de tio folgazão

só no dia do baptismo
tudo se resolveu
nem Ille de France seria
como o pai queria
nem Afonso
como a mãe pedia

ficou assim por consenso
um misto de ilha e de Afonso

ILDEFONSO

agora em Portugal
tímido por defeito
a relação com o sexo oposto
vai mal
apesar de homem feito

sem saber o que fazer
em existencial sofrimento
mexeu no seu visual
crista de galo e tal
depilou-se

só que a depilação
revelou-lhe o que temia
com pele lisa acaricia-se
gosta
e de galo só a crista

que o resto
assim liso depilado
por si próprio acariciado
é ele a Ildefonsinha
que nas mulheres receava

terça-feira, outubro 06, 2009

fora da rota antiga


Fora da rota antiga
que estudámos como nossa
atlântico sul
madeira açores
costa africana antes e depois
do cabo Bojador
Brasil
Américas
as índias o oriente

agora aqui
norte Europa amiga
unida
hoje também nossa
a estender abrir
outros mares
outras rotas
outros desafios por cumprir

terras frias nada tropicais
como as que Camões dizia
povos separados antes
pelo diverso
de aventuras
determinadas pela geografia
ou pelo vizinho adverso

diferença entendimento
África negra norte loiro
exótico oriente
latitudes longitudes
de tantos cambiantes…

que bem me sinto aqui!

por ter a sorte
de ser português de sempre
hoje em viagem como dantes
em rota nova bem aberta
também nossa
quase pólo norte terras da Finlândia

só posso passar mensagem
aos que vierem
que não chorem
memórias idas por notáveis
que se concentrem participem
nesta era
tão aberta partilhada
da nossa Europa

que reconheçam a largueza de alma
e de horizonte
tanta grandeza nacional
brilhante
posta em favor
ao dispor
do todo em geral

um espaço enorme
moderno próspero apaixonante!

segunda-feira, setembro 28, 2009

futebol


Gente a vir de todo o lado
corres berrantes vendaval
é dia de encher o saco
fora da rotina habitual

come-se bebe-se
transgride-se
na ilusão de um tempo
a encobrir o tempo todo

parece doideira
falta de senso lucidez
muita cegueira
misturada a estupidez
mas não é

há segredos há medos
gritos entupidos
desejos reprimidos
agressividade

há paixão ausente
presente
vertida loucura
no calor da luta

há ódio encolhido
ali berrado
aos do outro lado
árbitros otários
inimigos necessários

o jogo anima desanima
chuta cabrão
golooooooo
grita-se
és o maior

o estádio agiganta-se
o som ensurdece
as bocas escancaram
as caras rebentam

logo depois
no lance a seguir
o “herói” hesita
enfraquece
perde a jogada
falha
logo se grita
“nódoa” “maricas”

gritos silêncios
insultos ameaças
do princípio ao fim

vitórias derrotas
potência impotência
guerra em paz
é o que um jogo de bola é

uns insultos apupos
asneiras gozadas
às vezes pesadas
a enervarem a tola

mas não passa disso

bem melhor esta guerra
a escoar frustração
que a guerra das armas
na devastação
de vidas ceifadas!

sábado, setembro 26, 2009

equilibrar


Tanta coisa para ver
que não havia
trabalho suplementar
para os sentidos
vozes vistas desafios
permanente novidade

hesito na escolha
não preciso com facilidade
o gosto o apetite
o que realmente quero
de verdade

ficar parado
no ontem saudosista
ido andado
ultrapassado
na actual velocidade …

ou ir por ir atrás do que aparece
da moda do último grito
onde a calma desaparece
as finanças somem
e o corpo fica aflito?

nem perder a razão
nem travar a novidade!

e se tal correria
deixar de ver por excessiva
a invasão da coisa boa
a solução para quase tudo

espírito ciência inovação
fortuna de cor de paladar
como nunca dantes se vira…

há só que equilibrar
velocidade com possibilidade
para não estragar
a onda fértil de ser
em saciedade!

quarta-feira, setembro 23, 2009

arruaceiros hoje


Às vezes a raiva tem mesmo que sair
qual pesadelo que se vive
noite longa
em que as pernas têm que correr
fugir
do medo próximo da besta
e encolhem
paralisam
perante a letal ameaça
sem reagir

ouço vozes gritos miseráveis
com trombetas arruaças
a soarem forte e feio
com o demo a emergir

no meu país que ajudei a libertar!

por incrível que pareça
é essa liberdade quem permite
que gente reles obscena
que já desgovernou este país
cresça se agigante e esteja aí

apetece perguntar á liberdade
que tanto custou a conquistar
porquê consente tanto insulto pessoal
e não o julga por ofensa
em tribunal?

há limites para tudo
em qualquer conduta…

que os que não tiveram medo
de enfrentar tiranos
e os expulsaram
por tantos danos
em tantos anos
ponham cobro a isto

que não se corra o risco
de perder-se o Portugal liberto!

quinta-feira, setembro 17, 2009

mal herdado de raiz


Ver só um lado da questão
peca por defeito
em cada situação
porque o julgamento feito
é fruto de copianço imitação
nunca de um trabalho livre
independente
adaptado ao presente

ainda lavra infelizmente
o orgulho o preconceito
de seguir-se o céptico o triste
o que só defeitos vê e aponta

azeda o queixume e paralisa
leva passos novos desafiantes
para lugares velhos
repetidos

esse mal herdado de raiz
o fado triste a cruz da vida
nunca a flor o amor o bom da vida
como bandeira a ser seguida

depois no AQUI nas contas feitas
são tantas as históricas desgraças
a maledicência por aceite
que mesmo os que querem
os que intentam

esbarram com um tal enredo
de mazelas de erros dados
outros incutidos inventados
que não há corpo nem saúde nele
que se aguente
ou se alevante

e qualquer novo entendimento
iluminado
(ser ousado diferente
querer ir mais longe)
arrisca-se como em tempo recuado
a ser levado para a fogueira

Visão maior


Capto dentro de mim
um eu uno universal
uma ligação maior
mais a ver com o tudo
o sempre
a origem do meu ser total
presença eu
fio condutor de espaço
tempo silêncio imenso

como fica pequenina a mente
com as suas opiniões
ilusões e julgamentos
sentindo assim intensamente
e sem esforço…

o entre os astros o entre estrelas
o vácuo nada
onde tudo cabe!

meu corpo maior presente
a ele ligado totalmente
mil vezes mais radiante
que todas as montagens
conjecturas
perpetradas pela mente

um agora ligado ao intemporal
ao todo existencial
onde o mundo das formas
em que funcionamos
e nos esgotamos…

não passa de um microcosmo
pequenino
onde egos lutam
pela posse
do finito
num planeta bolinha de menino

coisas de nada vistas do centro do infinito
que é o mesmo que dizer
vistas do fundo
do meu ser profundo
quando assim percepcionado

terça-feira, setembro 15, 2009

ansiedade e descontrole


Alturas há que nada pára a ansiedade
o fogo arder
o querer ser mais do que se é
ter mais do que se tem

aborrece o livro que se lê
farta a casa que se tem
o prazer que não se vê

muitas vezes sem se saber porquê!

quando assim é
há que ir fugir cumprir a ideia
que nos cega absorve
desconcentra inquieta apavora

energia a mais descontrolada
um grito a transbordar para fora
num dentro que não chega
por pequeno
em tal hora

mesmo que se queira
que se faça um esforço
que a consciência lhe dê atenção
paciência

até parece que quanto mais se tenta
pôr paciência
um pousar sensato a meditar
para suster tal impaciência

mais aquela força aumenta
incha cresce
nos atormenta
nos enlouquece

quarta-feira, setembro 09, 2009

mágua por curar


Ia insultar-te uma vez mais
violentamente
com aquelas palavras
que se guardam algures
no inconsciente

amargas porcas vergonhosas

sei que passei uma noite dos diabos
daquelas que a dormir
se cansa mais a gente
que acordados

que no duche um champô
sem qualidade
me causou uma tal ardência
ocular
que momentaneamente
e sem a toalha de banho á mão
perdi toda a paciência

sei que sempre o adeus me fez sofrer
chorar desanimar
por isso a dor a arder
por não te ter

mas amor não é poder
se te amei quando te tinha
porquê não te amar
por te não ter?

voltei atrás com a amarga decisão

mesmo em tão zangada condição
desta vez
não te insultei ave migrada!

amor é muito mais que posse
guerra
um rosário de cobranças e insultos
amor é um sentimento único
que não morre por profundo!

terça-feira, setembro 08, 2009

estar atento


Peço ao silêncio uma resposta
porque é nele
que qualquer ruído existe

aguardo com paciência
algo que venha
em forma de mensagem
que dê ao meu pedido
algum sentido

um carro ronca
um martelo bate
ouço o falar de uma pessoa
nas escadas do prédio
alguém que desce

eu espero crente no sucesso
de que num tão grande espaço
onde tudo cabe
as estrelas os planetas
nebulosas
coisas grandes e pequenas
um brilho e um calor de tanto fogo
tanta matéria tanto peso

nessa imensidão que tudo acolhe
nesse silêncio
de onde o ruído brota…

vou estar atento
para o sinal
o tempo breve
que ele há-de dar
á resposta que lhe peço

paixão e sofrimento


Cuidei rebentar por não te ter
por depender de ti
esperei esperei
enfim chegaste
para apagar o fogo em mim
a arder

amei explodi gostei

um pedaço de céu um êxtase
fugaz por sempre pouco
depois o fim

com o amor paixão é assim
porque logo a seguir àquele momento
fica a separação em mim
do meu ser metade incompleto
que leva sempre a depender
de alguém em sofrimento
por esse alguém ser o complemento

és o êxtase mulher o fogo que completa
reconheço
mas sei passar sem ti se não estiveres
porque aprendi
que o dentro de mim ninguém o leva

tenho agora esse amor em sintonia
com algo maior que a simples forma
de um corpo belo de mulher
por companhia

se não estiveres
aceitarei isso porque é assim
conviverei com o que tenho
metade
poupar-me-ei enfim à ilusão
ao vício
da mulher paixão totalidade

domingo, setembro 06, 2009

Domingo na cidade


Deliciava-me em passeio de domingo
com coisas pormenores
que fogem á rotina
pela labuta pela pressa
correria ininterrupta
azáfama diária de uma cidade como esta

uma atenção punha-a no que via
outra nos pés do chão incerto
que descia

mal vi um táxi parar na fina rua
bem pertinho a travar
que me fez entrar em vão de escada
para dar lugar á exígua rua
ao carro enorme
que no pequeno espaço agigantava

na frente dele
uma pomba desengonçada
em vias de ser atropelada
essa a razão porque o táxi travara

logo colaborei na situação
enxotando a ave com denodo
aplicação

de tal forma lhe berrava
(à pomba)
gesticulava
que de turista manso de domingo
passei a parecer a quem me visse
um soldado bravo
um lutador apaixonado

ela afastava-se do perigo
caminhava
depois não
voltava
como a colaborar no sim à vida
depois desinteressada a dizer não

aquele táxi gigante não a assustava

apesar desta vez ficar a salvo
deu para entender que aquele ser
em forma de ave
preferia perecer

senti isso no olhar que não trocámos
no penoso esforço que fazia
para se salvar

quando o tempo que o acaso reservou
aos intervenientes
acabou…

eu continuei meu passeio de turista
o táxi desapareceu rumo á avenida
a pomba lá ficou
para já viva!

sexta-feira, setembro 04, 2009

aves agoirentas


Aves agoirentas fantasmas do passado
país habituado a lamúrias mais lamúrias
povo bravo sem merecer um tal castigo

querem-no medir por baixo
só ver feridas
descobri-las nem que estejam escondidas
fazer delas um pérfido estandarte

quando há dor e onde a há
há que a cuidar com devido tratamento
não a aproveitar
para ser rei de barriga cheia
usando e abusando de um povo em sofrimento

pobres e analfabetos
nos chamam políticos ineptos
a tantos de nós perdidos na lonjura
no pouco acesso herdado
à cultura
na pouca obra ousada
por eles legada

ingenuamente em vez de pedirmos contas
a tais senhores
pelas afrontas
acreditamos ser piores

procuramos nos outros que encontraram
o que há também em nós e não achamos

e emigramos

deixem o leme arautos da desgraça
curem vosso mal herdado de raiz
de um país entendido por sem graça
e sem qualquer merecimento

e que os que gostam dele e que acreditam
o reponham grande como ele é

rectangular insular europeu atlântico
equilibrado
Portugal aberto dado modernizado
habitado por tal gente
que povoou ilhas continentes
e que em meu entendimento
é o centro geográfico do mundo

segunda-feira, agosto 31, 2009

memória como lição


Jovem estudante em férias de verão
tive a veleidade de pintar com letras de carvão
as paredes da minha terra
coisas simples escritas a fugir
sem ofensa pessoal
ao senhor maior do regime ditatorial

o mais forte que escrevi
foi “abaixo Salazar”
“abaixo a ditadura”
“fim da opressão”
“liberdade de expressão”
e na minha ingenuidade de aprendiz
disse também na altura
a duas centenas de colegiais que ali havia
não mais
que lutassem pelo futuro
pelos seus ideais

escrevi isto sem ofender ninguém
pessoalmente
mesmo assim foi suficiente
para me levarem para longe
detenção interrogatório isolamento
alguma violência pela ousadia adolescente
longe de tudo da família dos amigos
da minha gente

dias que passei atrás das grades
a ver a vida fora
fechado interrogado ameaçado
violentado

o que vejo hoje Portugal 2009?
um mundo sem comparação

liberdade liberdade liberdade

apesar disso
de uma tão diferente realidade
insultam-se políticos de valia
com valores de liberdade democracia

afrontas pessoais com nome
não debates de ideais!

e o que acontece a tais senhores?
NADA
nem perseguidos nem detidos nem interrogados
nem violentados

alguns dos mal educados
(asneiras gratuitas de criança mimada)
são políticos de nomeada
sem um naco de ideais
mas de língua bem afiada

queixam-se então os ofensores
que há prepotência no regime…

sei que há palavras porcas na amargura
gritos frustrados que transbordam
que a razão se zanga
de múltiplas maneiras

mas dizer que há prepotência no regime…

só se benevolência a mais perante o crime
liberdade a mais para a indecência!

que pena ser impossível mandar estes senhores
muitos com tachos e arrogantes
fazer um estágio de inteligentes
ao tempo negro ditadura
em que uma ideia só que fosse nova
diferente
podia ser presságio
de um cheiro a morte
em sorte
nos labirintos esquecidos das masmorras!

sexta-feira, agosto 28, 2009

Sintra sempre


Fui comprar móvel pequenino
suporte de audiovisual
madeira feita chumbo pelo compacto
também pelo impacto
nas forças poucas para o levar

no mesmo sítio ponto de partida
sítio tão especial
berço Sintra de passagem
janela mulher da minha vida

que por tanto dar
em meu entendimento
por tanto que me deu
há tanta santa no altar
sem o seu merecimento

ninho de voos que pude dar
uns em que acertei
outros que repeti sempre a errar
nem uns nem outros vi cobrar
para meu bem e crescimento

foi aparecida por ali
em serra lugar beleza universal
que me tornou possível
por a ter

assim quis a vida validar
outro lugar
que primeiro quis que eu fosse
em nascimento

o meu primeiro berço

tu Sintra foste ponte
entre beira raia quase castelhana
preto e branco isolamento
e o Portugal moderno
encantamento

esta serra este lugar que continua belo
como o Byron o viu e eu o vejo
e que hoje por vir aqui
a uma casa de móveis sofisticada
de rodovias rápidas cercada
a olho com respeito

pelo marco que foi no meu trajecto
no meu êxito pessoal como projecto
e que em outro tempo
quando tanta coisa estava por acontecer
sentia sempre curto
ameaçado incerto

sexta-feira, agosto 21, 2009

totalmente presente


Estou sempre no meu corpo
pelo menos parcialmente

vendo bem
menos em consciência
do que realmente

quando o faço em consciência
quando olho
quando ouço
quando amo
quando vibro
percebe-se melhor o préstimo
do meu amplexo

interior e exterior

bonita a árvore
bonita a flor
bonita a mulher
bonita a vida
sim senhor

só que todo o esplendor
do que se vê
apenas se reflecte em mim
esse bom gosto
esse deleite amor

quando ao contemplá-los
do meu ser perfeito
em entendimento superior
conseguem ser espelho
de um estado de alma
e de corpo
nu nascente cristalino
aberto

totalmente presente!

quinta-feira, agosto 20, 2009

amor vulcão


No começo peito aceso em fogo
qual vulcão prenhe de lava
uma explosão fechada
em sítio tão pequeno
acomodada

por tão pequeno ser
para tanto fogo
tem de arrebentar abrir
semear encosta abaixo a bruta força
para abrandar

abranda o ardor a lava arrefece
passado um tempo
tanto lume incandescente
tanta fúria de dragão cuspindo
mata real em chamas
logo se apaga murcha amaina
acalma fenece

com o amor também é assim
vendaval emoção calor insuportável
um tempo quente quente
força paixão no pico
coração mais coração
esquecido por entregue
e enlouquecido

depois com o mudar das estações
os outonos os invernos
vai arrefecendo fica acomodado frio
quase inerte morto

amor vulcão cume na ardência
da paixão
por transformado no tempo
manso apagado
até parece que mudou
de coração

segunda-feira, agosto 17, 2009

memória de ti


Nada se revive em realidade
pois tudo passa em velocidade
os dias as noites de permeio
os sonhos os pesadelos
de tantos anos pelo meio

sei que se viveu um poema
que se escreveu com lágrimas sentidas
um adeus
sei que a razão perdida
por mim por ti
foi oásis nesta vida

mas também sei
que é loucura viver o que não há
suspirar calores de mãos vazias
querer-te cá
repor o impossível no porvir

por isso digo
obrigado espaço que preenchi contigo
paixão que me visitou
e foi abrigo
guardo essa mão cheia de vida
essa luz fugaz de uma estrela
que iluminou o céu do meu país

rogo a deus que se te vê
deus que não penso que seja
o que se pensa que é
que te envolva que te abrigue
que te acolha
como se foras parte do seu reino

forma de mulher aparecida
para eu ver
sorriso aberto que não quis perder
e que tão cedo vi partida

sábado, agosto 15, 2009

abuso da pendura


Desocupada sem trabalhar
nem fazer nada
apanhou o jeito de viver do esforço alheio
de umas queixas regulares que são razão
para um papel social de nada dar e tudo receber

recebe o bom e o mau de quem colaborar

o bom já se vê vem em cachet
casa carro uma forma hábil de cobrança
pelo fazer crer a quem trabalha e arde com a guita
que a sociedade o mundo laboral
desgasta esgota só faz mal
sem lhe dar reconhecimento
em seu entendimento

seria muito esforço pouco ganho
para quem nasceu prendada
o que em verdade quer dizer
ser grande a habilidade
para deixar os outros na penúria
em proveito próprio
pelo uso e abuso da pendura

é sempre pouca a roubalheira
de esforço alheio em que se empenha
e fá-lo de tal maneira
que transmite um ar simplório
altruísta preocupado
quando chupa e a quem chupa

chamar-lhe-ia chupa chupa exemplar
de jovem mulher
que em vez de se esforçar trabalhar
andar na vida dela
põe-se no esforço alheio á saciedade
em proveito próprio
desmesurada intensidade

só sofre fica pálida doente
quando se vitimiza e ninguém liga
quando quer encontrar avidamente
um choro um sofrimento
para sugar
e no momento
ninguém aparece para a alimentar

quinta-feira, agosto 13, 2009

retrato


As pessoas a paisagem
o areal mais perto
a água do mar
tudo translúcido disperso
nada mesmo nada sublinhado
só tu em primeiro plano

há sons gritos algazarra
burburinho junto ao mar
para os lados da barra
há motas de água
pranchas de surfar
uma avioneta a passar

tudo tão ínfimo lateral
semi-visível
contigo em primeiro plano

sentada em pose angelical
jeans brancos pés descalços
nus como a pele
que se vê nos rasgões amplos
abertos a preceito
nos jeans de marca

um top com alças de rendinha
generoso e também branco

o cabelo a contrastar preto
solto ondulando ao vento
uma mão assente na areia quente
a outra reforçando a graça
do corpo perfeito
levantando suavemente

a leveza é tal a luz do rosto
a graça a postura corporal
que fica fácil ao olhar-te
imaginar-te
bailarina a dançar
garça esbelta a esvoaçar

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...