
Posso ficar a recordar
pessoas sítios amparo abraço
amores da minha vida
buscar aí consolo
chorar a falta
ter assim felicidade
houve tanta parra
tanta uva
tanto trigo
tanto sonho
nas cores garridas da alvorada
sempre então
com a descoberta na palma da mão
sim tudo verdade
sítios gente que se teve
e não se tem
aventuras que passaram
veredas silvas e amoras
penhascos pedras e giestas
vozes longínquas que embalaram
namoricos que nasciam
entre raios de sol quando floriam
frescas lindas douradas
as mimosas
cheiros sazonais que embriagavam
numa geografia pequenina
entre montes
e ribeiros
que vista com os olhos de então
parecia a maior lonjura do mundo
podia ficar homem criança
dizer que tudo é breve
que tudo começou e findou então
chorar o que não há
mas pessoa e mundo é construção
sinto-o hoje
com os sentidos explodindo gratidão
pelo que sou
com o amparo de todos
neste exacto lugar
em que escrevo em português
em que abraço os que foram
e já não são
todos cabem no meu coração
mas eu vos digo
pais lugares amigos
geografia andada dos meus passos
que transporto comigo
o movimento contínuo
imparável
a vida
qual estafeta de distância
atleta herói desta experiência
cuja corrida agora está aqui
e para a continuar
vos digo
pais lugares amigos
que é AQUI
que tenho de me concentrar
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