segunda-feira, agosto 31, 2009

memória como lição


Jovem estudante em férias de verão
tive a veleidade de pintar com letras de carvão
as paredes da minha terra
coisas simples escritas a fugir
sem ofensa pessoal
ao senhor maior do regime ditatorial

o mais forte que escrevi
foi “abaixo Salazar”
“abaixo a ditadura”
“fim da opressão”
“liberdade de expressão”
e na minha ingenuidade de aprendiz
disse também na altura
a duas centenas de colegiais que ali havia
não mais
que lutassem pelo futuro
pelos seus ideais

escrevi isto sem ofender ninguém
pessoalmente
mesmo assim foi suficiente
para me levarem para longe
detenção interrogatório isolamento
alguma violência pela ousadia adolescente
longe de tudo da família dos amigos
da minha gente

dias que passei atrás das grades
a ver a vida fora
fechado interrogado ameaçado
violentado

o que vejo hoje Portugal 2009?
um mundo sem comparação

liberdade liberdade liberdade

apesar disso
de uma tão diferente realidade
insultam-se políticos de valia
com valores de liberdade democracia

afrontas pessoais com nome
não debates de ideais!

e o que acontece a tais senhores?
NADA
nem perseguidos nem detidos nem interrogados
nem violentados

alguns dos mal educados
(asneiras gratuitas de criança mimada)
são políticos de nomeada
sem um naco de ideais
mas de língua bem afiada

queixam-se então os ofensores
que há prepotência no regime…

sei que há palavras porcas na amargura
gritos frustrados que transbordam
que a razão se zanga
de múltiplas maneiras

mas dizer que há prepotência no regime…

só se benevolência a mais perante o crime
liberdade a mais para a indecência!

que pena ser impossível mandar estes senhores
muitos com tachos e arrogantes
fazer um estágio de inteligentes
ao tempo negro ditadura
em que uma ideia só que fosse nova
diferente
podia ser presságio
de um cheiro a morte
em sorte
nos labirintos esquecidos das masmorras!

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