
Mal abro hoje o computador, faço quase sempre a sua abertura no mesmo "site", msn.com, para ter depois acesso à minha caixa de email, dou de caras com uma pergunta mais ou menos assim: acha que Passos Coelho tem cumprido o prometido em manifesto eleitoral?
Ri-me com a pergunta, embora o tenha feito amareladamente, uma pergunta que nem se faz pelo bizarro nela implícito logo à partida. Pergunta ferida de morte pelo país irreconhecível "para pior" que ele afirmara alto e bom som, com mimos e beijinhos pelo meio, promessas em campanha eleitoral de tudo de bom que ninguém vê, que iria mudar Portugal "para melhor".
Ganhou as eleições com tal campanha ardilosa, perdeu o país com a sua eleição.
Ri-me com vontade de chorar, já se vê, de tal modo vejo este povo como não me lembrava de o ver: sem esperança, humilhado, ofendido, ludibriado, empobrecido, desempregado, roubado, sozinho como no tempo de Salazar.
Com uma diferença neste pormenor da solidão: o "orgulhosamente sós de Salazar" chama-se hoje "sós sem orgulho nem soberania".
Até voltaram as malfadadas cargas policiais de má memória do regime ditatorial e fascista de antes do 25 de Abril...
Triste mesmo, uma tristeza que não se sentia no meu país havia décadas.

Vende-se o que resta do país e é tudo.
O governo/troika mais parece uma comissão liquidatária.
Foi por isso que encontrei algum consolo em um texto escrito no final de Janeiro que alguém me enviou via email.
Por se tratar de um jornal que nem todos lêem, o Jornal de Barcelos, aconselha-se a sua leitura.
Com a publicitação desse texto, aqui fica mais um manifesto da nossa profunda indignação.
Indignação de um POVO que merece melhor!!!
--------------------------------------------------------------------------------------------------------Poltugal, um país do calalho
"Isto sim, é um país do
calalho! Chama-se Poltugal."
Imaginemos por um momento o
ministro Álvaro. Sentado, a ler. Sobre o regaço, os poemas de Álvaro de Campos.
A sua atenção fixa-se, pensativamente, na estrofe final de um deles: "Ah,
todo eu anseio / Por este momento sem importância nenhuma / Na minha vida, /
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos / Aqueles
momentos em que não tive importância nenhuma, / Aqueles em que compreendi todo
o vácuo da existência sem inteligência para o compreender / E havia luar e mar
e solidão, ó Álvaro". O Álvaro na sua solidão. E então... aconteceu. O
momento. Aquele momento em que compreendeu "todo o vácuo da existência sem
inteligência para o compreender". Porque se deveu a uma graça divina.
Apenas. Aquele Deus que, na sua obra "Diário de um Deus criacionista",
o mesmo Álvaro tanto houvera amargamente questionado pela demora preguiçosa em
criar o mundo! E, bruscamente, com o efeito de uma revelação, um golpe de
génio. Que haveria de mostrar a Portugal e ao resto do mundo o ministro Álvaro
como o grande ministro da Economia! O momento traduzido num verso, para citar
Manuel António Pina, um só verso que, no fundo, vale por uma epopeia inteira e
que, na sua simplicidade, acabava por sintetizar seis meses extenuantes no
domínio da acção governativa. Disse ele então que Portugal "tem
falhado" no que se reporta às exportações de produtos nacionais, "tal
como as natas"! O famoso "ovo de Colombo" miraculosamente
transformado em pastel de nata.
Nessa altura, recorda Ricardo
Araújo Pereira, "quando o ministro Álvaro apontou para o pastel de nata,
os parvos olharam mesmo para o pastel de nata". Mas os visionários viram
neste gesto ministerial o zénite da aventura dos Descobrimentos, a
concretização definitiva do mítico 5.º Império pressagiado pelo Bandarra, o famoso
sapateiro de Trancoso, e por Fernando Pessoa. Era o novo Portugal, o Portugal
do Álvaro, o Portugal do futuro, que se cumpria, concretizando o apelo pessoano
- "Senhor, falta cumprir-se Portugal". Tornava-se então mais que
óbvio que "a aventura dos Descobrimentos teve como propósito principal
(para não dizer exclusivo), o de ir à Índia buscar a canela que hoje faz falta
para polvilhar os pastéis de nata". Ricardo Araújo Pereira dixit. E eu não
posso estar mais de acordo. Porque o visionarismo desta figura ministerial
resolveria de uma penada a dívida contraída com o FMI e o BCE. Bastaria,
repare-se na genialidade, colocar o mundo inteiro, "de Nova Iorque a Taipé
e a Ouagadougou", a empanturrar-se com pastéis. 78 mil milhões de pastéis
de nata. Vendidos cada um ao preço competitivo de 1€, era dívida resolvida.
Garantidamente. Mais ainda. O projecto deixaria de ser confinado ao pastel de
nata para se integrar numa estratégia de desenvolvimento global. E aos pastéis,
suceder-se-iam os coiratos em sandes, o pirolito de bolinha, o pingo directo, a
bifana e o bacalhau feito em punheta. Só faltará mesmo ao Álvaro dispor hoje de
um novo Camões, um super-Camões que verta em decassílabos heróicos esta épica
"gesta da pastelaria" lusitana. E como contraponto político desta
diáspora do pastel de nata de exportação, passámos a importar chineses. O que
vai obrigar à flexibilização da própria língua portuguesa através de um
acrescento ao Novo Acordo Ortográfico com as alterações necessárias à supressão
das dificuldades que os chineses sempre demonstram na pronúncia do R.
Reconhecidos ao comité central do PSD/CDS, logo apontaram como as pessoas mais
competentes "para o conselho do supelvisão da EDP, o Catloga, o Blaga de
Macedo, o Teixeila Pinto, a Celeste Caldona". Entre outros. Exemplos do
rigor moralista de Passos Coelho que, em campanha eleitoral e na sua voz de
"balítono", afirmava "sem colal de velgonha mentilosa" que,
"a nossa preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou
parentes, mas sim os mais competentes". E se bem que não tenha
compreendido a nomeação de Caldona, o "plesidente Catloga" já afirmou
explicar tais nomeações pelo facto de os chineses entenderem tratar-se de
"calas conhecidas"! Tendo mesmo acrescentado que está a levar a sua
nomeação tão a sério no sentido de justificar os 40 mil euros que vai enfardar
mensalmente, que já tinha aprendido a escrever e a desenhar um pintelho em
mandarim.
Estava prestes a fechar esta
crónica, quando ouvi Cavaco, o emplastro de Boliqueime, queixar-se que a
reforma de mais de 10 mil euros mensais que recebe, não lhe chega para as
despesas! Comoveu-me a indigência material deste homem, complemento da
indigência mental que sempre lhe reconheci. Este "sem abrigo", sonso
e manhoso, ao invocar a sua qualidade de "poupadinho", deveria
lembrar-se das centenas de milhares de euros oferecidos em acções pelo amigo
Oliveira e Costa do BPN. De facto, tem razão Clara Ferreira Alves quando
escreve: "O grande banquete da pátria está a ser servido aos senhores
feudais com lugar sentado. Algumas migalhas vão sobrar para os portugueses que
não se importem de servir às mesas."
Isto sim, é um país do calalho!
Chama-se Poltugal.
Luís Manuel Cunha in Jornal de
Barcelos de 28 de Janeiro de 2012.
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Fiquem bem,
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