EDP mantém remuneração de 600 mil euros/ano a Mexia
Nota do autor:
Esta talvez a notícia mais escandalosa que li hoje na imprensa. Isto depois de o "governo poupadinho em funções", ter aceite a demissão do secretário de Estado que, pelo menos, se propunha, lutar pelos consumidores, contra gente desta.
Acreditem que já nem ligo a Ronaldos, Mourinhos, outros ricaços cá da praça, os ditos homens da alta finança e do "capital sem fronteiras"... não sou invejoso, apenas sou sensível e muita coisa mexe comigo, choca-me.
Mas para alguma comunicação social, para os verdadeiros invejosos que ela alimenta, a culpa é mesmo de Sócrates, não há dúvida.
Mais uma notícia bombástica hoje afirma que Sócrates gasta 15.000 euros por mês...(!!!???)
Mais do que nunca estou convencido que o homem fez obra neste país por maldade, as autoestradas, para ele próprio fazer jogging, as Energias Alternativas, uma distração pessoal, as Novas Oportunidades, um ato de propaganda política, as pontes, claramente também para o seu jogging, os computadores Magalhães de exportação, uma fraude, os índices de eficiência do SNS (Serviço Nacional de Saúde) uma mentira. Etc etc.
Porque, tirando ele, olho à minha volta e é tudo gente séria: vivem do cultivo de suas hortas, do amanho da terra com suas juntas de bois e de machos, trabalhando arduamente o campo agreste, de sol a sol. Comem uma buxa de pão e toucinho, apacentam seus rebanhos magros de seca, bebem um pouco de vinho amargo, vestem velhas roupas de cotim, rotas, sujas, pés descalços, encostados a seus cajados.
Não metem a mão nas pensões dos reformados, nem vão ao bolso dos portugueses com impostos excessivos, não gamam até dizer chega. Não pagam salários de miséria aos seus trabalhadores, não enriquecem com mão de obra precária, não sonham com turbo-rotundas, nem com turbo diesel's, nem com condomínios privativos, nem com saunas e greens de golf, nem, nem.
NÃO........
É tudo gente séria!!!
Sócrates, porque sonhou um dia fazer obra nesta terra, poque quis ir mais longe e quis que Portugal fosse um país moderno, estar entre os melhores (para o que era preciso investimento, já se vê) ele sim, é o mau da fita.
Por estas e por outras, sem mais delongas deprimentes, prefiro deixar-vos com a origem do conto do vigário, contada por quem sabe: o ilustre Fernando Pessoa: Um enorme português.
-------------------------------------------------------------------------------------Origem do conto do Vigário
Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e
«estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.
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Contado por Fernando Pessoa.
(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário».
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Fiquem bem,António Esperança Pereira
http://nucleo.netlucro.com/clique/13276/596/
Adorei mesmo de verdade o post. Está mesmo muito bem visto. Agora no nosso país anda tudo muito poupadinho... sorry enganei-me;) há mas é muito gamanço, daquele que dói, que revolta...
ResponderEliminarA culpa é do Socrates???Pois dá jeito ter sempre alguém em quem "bater".
São todos santos, intocáveis, honestos...
Abraço
Leta
Leta, grato pela presença. Ainda bem que gostou da temática. Os 600.000 euros do sr Mexia são bem agradáveis em tempos de crise e de se apertar o cinto...
ResponderEliminarAliás parece que a crise é só para a classe média, os mais pobres, os que procuram emprego e os que o perdem.
Mandam emigrar os jovens roubam os reformados. Aumentaam despesas sociais, vendem o país ao desbarato.
Vigarice, défice democrático...
Um abraço