quarta-feira, janeiro 10, 2007

desintegrei-me integrado

Era cedo ainda
o meu corpo estava
nem acordado nem dormido
devia ser quase dia ou dia mesmo
porque um galo já cantava

eu sonhava pensando
ou pensava sonhando

e acontecia
primeira vez
entrar no teu lugar contigo lá
imaginar imaginar
assim como ir voar
ver muito e nada ver
sentir-te toda e tanto e não sentir
não ocupar o teu espaço e ocupar

estive em ti

fui o teu riso
fui o teu rosto
fui o teu corpo
confundido
misturado

o teu lado e o meu lado ao mesmo tempo
eram sítio unificado penetrante
penetrado

os meus braços os teus braços
o teu ventre o meu ventre
puro iluminado e branco

desintegrei-me integrado
numa mesma dimensão energética
contigo

senti-me a mim sentindo-te a ti
senti-te a ti sentindo-me a mim

fiquei dessa maneira o tempo suficiente
para perceber o quanto existes sempre
cá ou lá
onde estiveres

e suavemente
ao contrário do que normalmente acontece
quando a emoção é forte e a realidade é sonho
ainda meio regressivo
incrédulo e confuso mesmo

fui muito lentamente
em pés de dia sete de Janeiro
amparado ao chão tapete ruído elevador
afastar o cortinado engelhado do meu quarto

e na humidade noite fria vidro da janela
escrevi com a ponta do dedo indicador
o teu nome o meu nome
um coração
e uma seta atravessando o coração

infantilmente
tal e qual como se vê
desenhado em qualquer sítio vulgar
por onde a paixão passa

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