Nossa nota breve:
Deixo-vos hoje um texto de alguém que estuda temas ligados a assuntos religiosos. O texto narra peripécias ocorridas com os judeus em fuga, nas imediações do Monte Sinai. Uma maneira "sui generis" de observar e descrever os acontecimentos de antanho em terras do Médio Oriente. Honra-nos o prezado autor do texto por ter a paciência de também ir lendo o que escrevemos, na medida do possível.
Ilustramos o texto com uma foto do Monte Sinai tirada ao acaso da internet.
Deliciem-se pois, prezados leitores, com a narrativa um tanto longa, mas que vale a pena ler.
Fiquem bem, António Esperança Pereira
---------------------------------------------------------------------------------------------
Peripécias ocorridas com os judeus em fuga, nas
imediações do Monte Sinai.
A longa e absurda caminhada
do Povo pelo deserto, quase desde o início mereceu duras críticas por parte dos
que digeriam mal o rumo da excursão (e eram muitos). Os mais audazes afirmavam
estar muito pior que no Egipto e amaldiçoavam a hora em que se meteram naquela
aventura. Mas Deus, atento, ia providenciando carne, pão e água. Mesmo assim, o
Povo exigia uma alimentação mais variada, nem o maná (ementa básica durante os 40
anos…), com sabor a pão de mel (cópia do bolo madeirense), os convencia.
Diz o ditado: “Ninguém dá
nada a ninguém”, ditado que considero algo malévolo, pois nem sempre quem dá espera
obter qualquer recompensa (até existem beneméritos anónimos).
Porém, aqui o ditado assenta
que nem luva, já que Deus fez saber, através dos “self-services”, que “Ele era
o Senhor seu Deus”. E não se quedou por aqui, “a Glória do Senhor aparecia numa
nuvem”, outras vezes “envolto em poeira”, sinais que o pessoal já decifrava
razoavelmente e lhes serviam de guia. O episódio do rochedo foi interessante,
bastou que Moisés lhe desse uma bordoada com a tal “vara-cobra” para brotar
água com fartura. Penso que isto será coisa que o Luís de Matos pode explicar
(tentei, mas não consegui contatá-lo). De qualquer modo o assunto não passou em
branco, aproveitando Moisés para perguntar às massas: “O Senhor está no meio de
nós, ou não”? O narrador bíblico esqueceu-se de mencionar a resposta, talvez
por ser mais que evidente!
Vamos então ao Monte Sinai,
onde chegaram três meses após a partida do Egipto.
Montaram acampamento frente
ao citado Monte, mas não se podiam aproximar, senão morriam! “Ordens do
Senhor”, ou seja: Deus tomou o Monte só para Si, tornando-o Sagrado. Só Ele e
quem Ele escolhesse podia pisar o Monte. Escolheu Moisés e combinou um encontro
no topo, que havia assuntos importantes a tratar.
Como a gente nunca sabe
tudo… imaginava eu que o Monte Sinai fosse uma espécie de morro, com umas
dezenas de metros, mas assim não é; li algures que tem 2 288 m de altitude.
Moisés teve que subir até lá
acima e levar duas pedras grandes, onde coubesse um texto que o Senhor iria
introduzir nelas. Os incréus já estão imaginando o tamanho dos pedregulhos e a
performance do indigitado. Temos de apreciar a narrativa no contexto da época:
É que Moisés frequentava aulas, para se cultivar e as “pedras” eram aquelas
“lousas” que alguns de nós ainda usámos na Escola Primária. Mas três dias antes
de se fazer à estrada, se é que havia um trilho que fosse, avisou o povo: “Estai
preparados para depois de amanhã e não tenhais relações sexuais com as vossas
mulheres” (deixou em aberto a hipótese das amantes). Na data combinada houve
trovões e relâmpagos, para intimidar a malta; era Deus a anunciar-Se. Uma nuvem
espessa desceu sobre a Montanha, enquanto o toque da trombeta suava forte. O
Zé-povinho tremia como varas verdes, pudera! Moisés distribuiu os judeus pelo
sopé do Monte, fumegante e aos estremeções (tipo vulcão em atividade, mas sem
labaredas). Deus respondia às perguntas de Moisés com trovões (espécie de morse
que Moisés dominava perfeitamente).
Imaginem as dificuldades acrescidas
que depois Moisés enfrentou: Para além da distância, o fogo na Montanha (não há
fumo sem fogo). Bom, convém recordar o que se passou com a “sarça-ardente”
(outra questão que tinha agendada para colocar ao Luís de Matos), a sarça ardia
e não ardia. Moisés esteve 40 dias e 40 noites lá no alto da Montanha e aqui as
coisas tornam-se um tanto confusas. Para abreviar, Deus conversou sobre muitos
assuntos e escreveu os dez mandamentos nas pedras, começando modestamente: “Eu
sou o Senhor teu Deus, não tenhas outros deuses diante de mim” (mais vale
prevenir…); “Não pronuncies em vão o nome do Senhor teu Deus”; “santifica o
sábado”; “honra os teus pais”; “não mates”; “Não cometas adultério”; “Não
roubes”; Não apresentes falsos testemunhos contra o teu próximo”; “Não cobices
a casa nem a mulher do teu próximo” (a não ser que valha a pena, digo eu). Ao
tempo ainda se não cobiçava o automóvel…
Pelos vistos os israelitas,
inativos e amedrontados, desinteressaram-se da subida à Serra e, face à demora
do Chefe lá em cima, decidiram libertar os espíritos, dando corpo a uma grande
farra, para a qual obtiveram a anuência de Aarão. Fabricaram um bezerro de ouro,
com adornos que tinham roubado aos egípcios, passando a adorá-lo e a dançar à
sua volta. Quando Moisés regressou com as pedras, ficou atónito com o forrobodó
que presenciou e, após ter proferido impropérios à altura dos acontecimentos,
atirou as pedras ao chão, partindo-as. Há quem afirme que as partiu antes (num tropeção,
ao descer a encosta). A verdade é que as partiu! Voltou ao cimo do Monte e
Deus, Benevolente, escreveu o mesmo, noutras pedras.
Moisés de novo regressado, irritado
quanto nos é dado imaginar, mandou derreter o bezerro e misturou com água o pó
assim obtido, mistela que obrigou o povo a beber. Vingativo, não? Fez melhor: Quis
saber quem estava do lado do Senhor e esses deviam juntar-se a ele. Armados de espadas
e, provavelmente com o assentimento de Javé (Ele andava por ali) ordenou que
matassem a eito, sem pouparem irmão, amigo ou vizinho. Consta que pereceram
cerca de três mil homens.
Aarão, que teve muitas
culpas no cartório, só apanhou uma repreensão oral!
O Povo (pela força da razão,
note-se) lá prosseguiu a sua marcha. Para os 40 anos ainda faltavam (conta arredondada),
à volta de 39 anos e 7 meses.
Elevado número dos que
saíram do Egipto, sucumbiram a caminho da Terra Prometida…
L. Pereira, 20-7-2012
-----------------------------------------------------------------------------------------------