quinta-feira, novembro 24, 2011

O Diário do Professor Arnaldo - A fome nas escolas

NÃO FIQUES CALADO, SENTE-TE ANTES INDIGNADO, E FALA, SE CALHAR AO TEU LADO EXISTE ALGO IDÊNTICO, ABRE OS OLHOS E FALA....


Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.
Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.
De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila - oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.
Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas...
Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?
É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos.
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Nosso comentário
Divulgo o desabafo de um professor, tal como recebi.  Não vejo que comentário possa ser feito a uma situação destas em Portugal, União Europeia, Século XXI.
Que algo terá que ser feito e já, não nos restam dúvidas. Já são desgraças a mais para um país que de repente se vê confrontado como uma despromoção de 1.º a 3.º mundo.
Décadas a andar para trás porquê? com promessas de pobreza, desemprego, recessão. Porquê? Onde anda o dinheiro que por aí andava?
Onde quer ir esta Europa?
Que quer este governo/Troika fazer deste país e do seu nobre e valente POVO?
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Fiquem bem, mas indignados por serem roubados!


2 comentários:

  1. Numa palavra: Assustador! O estado de emergência social que estamos a assistir deixa-me muito apreensivo. Naturalmente, o recurso das pessoas às chamadas IPSS e equiparadas tem vindo a disparar. Pior do que isso, é que estas entidades, vão começar a ser tributadas fiscalmente em 2012, quando até à data estavam isentas. Neste sentido, falo de conhecimento de causa, estas entidades que já se encontram em dificuldades, vão ter pela frente dias ainda mais difíceis, com ainda mais solicitações por parte do crescente número de carenciados. Aguardo com apreensão as medidas do (PES) plano de emergência social, a ser disponibilizados pelo ministro Mota Soares (o tal que trocou a vespa pela bomba...) e espero muito sinceramnete que o mesmo me surpreenda pela positiva.

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  2. Pois é, caro Anónimo. Antes de tudo obrigado pelo comentário.
    Vivem-se tempos estranhos, tempos que espero alguém um dia destes saiba explicar melhor.
    Isto claro se não se abrirem situações de ruptura sociais, hostilidades tais, que o impeçam...
    Ninguém sabe dizer ao certo o que se passa.
    O que se sabe realmente é o que se vê, o que se sente, um empobrecimento cada vez mais acentuado de todos em geral, da classe média e dos mais desfavorecidos em particular.
    A Europa à espera não se sabe de quê!!!!
    Abraço

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