quinta-feira, setembro 29, 2011

Um pouquinho de literatura muito actual


Se os novos soubessem e os velhos pudessem...

Estes já falavam assim há quase 400 anos mas ninguém os lê.

O Diálogo (séc. XVII)
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável."
-----------------------------------------
Como surgiu Colbert esse "monstro" da política francesa? só duas ou três ideias:

Em 1651, Michel Le Telier, o apresenta ao Cardeal Mazarino que o contrata para gerir a sua vasta fortuna pessoal. Antes de morrer, em 1661, Mazarino recomendou Colbert ao rei Luís XIV de França, salientando as suas qualidades de dedicado trabalhador. Nesse mesmo ano o rei fez de Colbert ministro de Estado e, em 1664, atribui-lhe o cargo de superintendente das construções, artes e manufacturas e ainda o de intendente das Finanças.

Colbert desenvolveu todos os esforços para arruinar junto do rei a reputação de Nicolas Fouquet, o superintendente-geral das Finanças que tinha acumulado fortuna por meios fraudulentos; tendo este sido detido, a mando do rei, por D'Artagnan, Colbert tornou-se controlador geral das Finanças (1665). Viria ainda a desempenhar as funções de secretário de Estado na Marinha e na Casa Real (1669).

Em 1670, comprou o baronato de Sceaux no sul de Paris. Converte o domínio de Sceaux em um dos mais charmosos da França, graças a André Le Nôtre que desenhou os jardins e a Charles Le Brun que se encarregou de toda a decoração tanto dos edifícios como do parque.

Como ministro de Luís XIV, Colbert quis tornar a França a nação mais rica da Europa, e para isso implantou o mercantilismo industrial, incentivando a produção de manufacturas de luxo visando a exportação.
---------------------------------------------------
Nosso comentário

Este interessante diálogo entre Manzarino e Colbert, foi-nos remetido via email por alguém dos nossos contactos que muito estimamos.
Muito interessante o diálogo.
Por isso mesmo decidimos colocá-lo no blogue para que os leitores possam lê-lo.
A sua actualidade é impressionante.
Então o último parágrafo, quando o grande cardeal Manzarino diz ao ainda inexperiente Colbert o que deveria fazer a nível de impostos, está demais!!!

Relembramos essas palavras do cardeal dirigidas a Colbert:
"Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável."

Pois, estão agora a ver os modernismos deste governo, FMI & friends?
Como está ali chapada a fórmula de ir tirar dinheiro à classe média, já viram?
(média alta, média e média baixa)
É nas ditas classes médias das sociedades que existe o medo de perder, a vontade de enriquecer. Eles sabem isso, logo, toca de sugar até mais não poder.
Aos ricos, não se tira, aos pobres já não se pode tirar mais.
Eles, governantes, já sabiam isso com muita clareza no séc. XVII.

Está a ver agora por que eles, governantes, como diriam os brasileiros, "estão mexendo no seu bolso"?
----------------------------------------------
Fiquem bem,

António Esperança Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...