quarta-feira, junho 30, 2010

Mundial 2010 e Portugal


Chorar sobre o sangue derramado
não tem tento
fica a memória de uma situação
quiçá conseguida
pouco a contento

pois factores dela determinantes
tais e tantos
não foram a seu tempo
ponderados
estudados mudados
até alterados

fica a lição
foi assim que se fez
fez-se o que tinha de ser feito
e como nada mesmo nada volta atrás
cabeça levantada
situação passada

não pode a marca que deixa
da batalha perdida
impedir o recomeço de nova tentativa
aprende-se com os erros
todos o sabemos
para enfrentar a vida

serve a derrota às vezes
para mostrar
uma raivinha de partir a loiça
que pode renovar o ânimo
que só com vitórias
tantas vezes esmorece fica brando

não se pode sempre e em tudo
ser-se grande
faz-se o que se pode neste mundo
e não é pouco
o que faz e faz bem
o nosso Portugal

em tantas coisas o primeiro
segundo sexto trigésimo terceiro
em tanta outras pioneiro

podemos achar pouco
mesmo assim
e querermos mais
o que é humano

temos é de parar de vez
de maldizer os que se empenham
os nossos
os que têm verde rubro
o coração
audazes heróis aventureiros
por alma lusa terem os maiores

não os traidores
“miguéis de vasconcelos “
“andeiros”
rendidos a uma ambição maior
sem qualquer pudor
como se algo de maior houvesse
que o nosso Portugal

sexta-feira, junho 25, 2010

Lusitanos "brasis"


Momento que começa
que existe que se esgota
lágrimas de raiva libertadas
quando parece mentira
a bonomia da vida que acontece

nem se aguenta
de tão bom o sítio a gente
a paz saudável forte
de tão dada relaxada branda

de ser-se e ter-se
quase de bandeja
o que na selva das regras
por mentir-se à essência
parece só poder acontecer
com drogas alterações perigosas
não naturais
dos estados de consciência

ficam as heranças dos arautos
poetas iluminados corajosos
que aplicamos
que tentaram mudar qualquer coisa
para melhor
mesmo sem certezas

quando é de amor de vida de hino
que se trata
haja coragem nas urgências de mudança
somas pequenas pequenos nadas
se implementados
decerto em dia por nascer
serão louvados

os que foram de loucos apelidados
tal a seda
a viagem sã diferente
em que se empenharam
hão-de ser os Gamas os Cabrais
dos frios povos sem mel
de amor tão pobres

lusitanos “brasis” tão tropicais
praias quentes areais
exóticos coqueiros beijando
oliveiras
cachoeiras frugais
mimando ribeiros pequeninos

um fruir bom da vida doce e breve

a terra prometida enfim achada
a chegar ao mundo com naturalidade
partilhada
na música na dança
na temperança dos sentidos

o amor buscado em tantos anos
por atalhos enganos desenganos
mentiras apregoadas
a acenar à saciedade
ao mundo global desacertado
actual
dele tão carenciado

quarta-feira, junho 23, 2010

Nobres e nomes


Falava-se em conversa de café
da parvoíce que modernamente
é
pôr nomes à gente
apelido mais apelido
nome sobrenome
um comboio atrelado de palavras
qual história de família
assim contada

depois na vida exacta
concreta
quando há que ser lesto breve
assinar um contrato em stress
um negócio na hora
uma viagem a Bruxelas
à África ao oriente
um registo pessoal na ocorrência

se perde na concorrência
para o desenrascado
que com simplicidade dinheiro
velocidade
passa à frente
e faz o que tem que ser feito
rapidamente

um nome um sobrenome
nada mais
e segue em frente

nome grande não é prático
nem adianta
porque afinal gente
família está no sangue
não no nome

soa a grotesco
a exibição exterior
de tanto sobrenome
arabesco atrás de arabesco
uma espécie de rococó familiar

se dantes nome enorme distinguia
o senhor nobre
do servo plebeu
hoje nome grande é mais complexo
do que sente parco o nome seu

e para compensar-se
tenta imitar um jeito nobre
que já ardeu

sábado, junho 19, 2010

Decisões velhas


Calçada romana isolada
pedras soltas
detritos de rebanhos
carreiro pouco visto por humanos
assim era o caminho
que ligava
minha terra natal
à minha terra de morada

que esforço desumano
fazer o que eu fazia
cobras lagartos poucos ais
percorrer um tal caminho
em pasteleira bicicleta
quando nem chegava aos pedais

montava desmontava
consoante o piso permitia
subia descia
animava desanimava
o Côa quase enxuto
bem no fundo
tudo o que em redor se via
eram infindáveis pedregais

o desafio até gostava
contornava obstáculos
engendrava soluções
como que me sentia vivo
no cansaço

só que a meio do caminho
cães enormes longe do pastor
e do rebanho
ladravam corriam
ameaçavam arreganhando os dentes
à alma penada
EU
que ali passava

descia da bicicleta
e com ela como escudo
para me defender
tentava afastar os animais
até o grito do pastor os demover

sentia em sítio onde nascera
alguma ingratidão
no tempo de medo e solidão
que não passava mais

reconheci certo dia
que era demasiada estoicidade
fazer o que eu fazia
com tanto cão a ladrar

um ou outro não seria!

e com tanta dificuldade
pedras e pedregulhos
arribas tantos engulhos
o que era empresa aventura
candeia ali novidade
ficou inferno tortura
virou impossibilidade

deixei o caminho velho
que tão mal me recebia

quarta-feira, junho 16, 2010

Vida sobe e desce


Alto do outeiro
vista alongada
o mundo inteiro
a nossos pés

há céu há ar há tudo
contentamento
no coração
há alma há Deus
estrelas espaço
o futuro na mão

há noite morna
o sol a nascer
aquecendo a terra
a seiva crescendo
em bafo fresco
acordando o campo

há vozes há risos
há passarinhos
há flores amores
sonhos risonhos
cheiros a erva
a rosmaninho
por todo o lado

longe do cume
do céu da luz
do pulsar da vida
também há
longa pedregosa
via sinuosa

perda tristeza doença
voltas mais voltas
na noite longa
silêncios perdidos
passados andados
passos confusos
num barco sem sorte

novelos pesadelos
um tempo que cresce
no desespero
na ausência de vozes
de mãos de abraços
na falta de céu
na perda da esperança
que tresanda a morte

com sorte sem sorte
com norte sem norte
com pico sem pico

o sobe e desce que a vida é

segunda-feira, junho 14, 2010

Dona Grécia


Velhinha andada já na idade
uma vida de saber trabalho
muita luta
o tempo não perdoa
carnes flácidas peles com gelhas
desadaptada na modernidade
toda em ruína sua incontável glória
quase se apaga tal grandeza
da memória

sabedoria clássica berço da cultura
Grécia assim dá pelo nome
a velha senhora
passeia-se agora como pode
acabrunhada
ela é casino jogo copos até drogas
e já sem tino
gasta a fortuna como pode

roubam-na fazem chacota
e ao fim de mais um dia de vício
em desmando
desgrenhada cambaleando
entornada
é um guarda de giro que aparece
a recolhe e leva a casa

tudo assim vai gastando D. Grécia
império de glória de outra idade
com artes e artimanhas
fugindo à actual realidade

e não fora uma alma nova
bem na vida
a comover-se a ajudá-la por esmola
teria desaparecido ou morrido
na fome da rua sem abrigo

ela a maior que foi quando valia
casa grande berço fonte
inspiração de tudo que no mundo
era gente

por agora foi só acautelada
a velha senhora
a fim de não gastar o que não tem
arrumada em asilo
para cuidarem dela
pagarem a dívida acumulada

o que a seguir virá
para modelos de valores e de cultura
numa Europa sem norte
sem liderança nem solidariedade
nesta altura

só o futuro o dirá!

quarta-feira, junho 09, 2010

Pátria amada


Que honra a quem
ou que desonra
queremos prestar povo português
quando em palavras mais que duras
falsas pérfidas ofensivas
brindamos o solo pátrio
nossa casa?

que revolta zanga mal querença
move tantas atoardas…
um povo mais que digno
brilhante
que faz a diferença para melhor
onde se espalha?

queremos mal a quem?
a nós…
ao recanto oeste Europa
tão soalheiro
tão morno de tempo
de temperos de hábitos de crenças?

só umbigos grandes nos fascinam
irrealidades floreadas
mundo português desencontrado
baralhado

há sempre vendilhões em cada templo
noctívagos medonhos
morcegos pregoeiros
da desgraça
apesar de sermos gente
com tantas tão ilustres
provas dadas

parece agora Europa
em desalinho
nas mãos de senhores sem jeito
querer fazer o favor a cama
a tais pregoeiros

dizer-lhes que Portugal é pequenino
(Portugal em grandeza pioneiro)
agora roto falido
sem dinheiro

e eles ficam todos contentinhos
essa meia dúzia de coveiros

Portugal foi grande sem economistas
traficantes de dinheiros
ora com mania
deu-se e misturou-se
sem arrogância
com trabalho honesto competente
espalhou humanidade
e valentia

não será com tantos séculos de existência
com morcegos ratos falsos pregoeiros
alguns coveiros
fazendo o jogo de qualquer potência
que esta terra amada
por trisavós de trisavós
a nós legada
perderá um rumo na grande estrada
soberana independência

quem sonhe Portugal só vida dura
que o queira pobre só sem nada
que rebole sua consciência
avinagrada
em remota fria ínfima
sepultura

que deixe para quem ama
a Pátria amada!

segunda-feira, junho 07, 2010

Tolerância


Os outros não existem
à nossa medida
com os condimentos
a pressa a disponibilidade
o exclusivo
os desejos correspondentes
carentes
que exigimos

intervalo imenso entre
respostas
ausência ausência
equívocos do peito
que nos danam

depois conciliar os tempos?

estão lá no sítio deles
no ritmo deles
nós no nosso
e não aceitamos

desespera-se com isso
podemos adoecer ferir
matar até
pela falta de juízo
que a posse dá

quando
o que é preciso
é fazer um esforço
aceitar o que é

dá dá
não dá não dá
é é
não é não é

ninguém é dono de ninguém
muito menos dos espaços
intervalos
esse tempo do outro
que gera ansiedade
por não controlar-lhe
os passos

tornemo-nos
seres mais sábios
capazes de entender
a vida
e os seus limites

sim’s não’s
talvez
perdas ganhos
possibilidades dificuldades

e saboreemos
esse enigma também no amor
que a vida é

sexta-feira, junho 04, 2010

Língua pátria


Liga-nos a língua ao mundo
América África Atlântico Índico
Pacífico
afectos espalhados
por caminhos tantas vezes
inventados

andámos caminhámos
amores e desamores de braço dado
espinhos silvas raiva alguma guerra
mas tantas flores!

misturam-se lágrimas e risos
nas andanças
nos adeus longínquos
nas mornas e nos fados
sambas coladeras
lânguidas quentes
derretidas de peito
como nós

alegres ninfas tropicais
deusas por achar
trôpegos lusos marinheiros
de andados esforçados
tão famintos

tudo se foi entrelaçando
as cores os usos
a soma de valores
e de tanto semear
de tanto dar e receber
de tanto se amar e se sofrer…

há hoje povos grandes
lições de paz e humanidade!

em mim português europeu
por pragmatismo
racionalidade realismo
há um coração grato amigo
amante

África minha Brasil tão grande
Timor Macau Índias longínquas
haja o que houver

somos enorme global comunidade
que mistura a saudade
de um tempo ido de crescer
a um presente actual
moderno fraterno
eterno!

quinta-feira, junho 03, 2010

Poupem poupem...


Crise três em pipa de assustar
poupem poupem
dizem os banqueiros descaradamente
os mais ricos
os bem pagos
que tão galhardamente
nos fizeram acreditar
na multiplicação dos pães
melhor
na multiplicação aritmética
geométrica
dos bens

sentia-se que os malabaristas
“incompetentes” economistas
tinham curtas vistas

nasciam produtos mais produtos
vender vender vender
faziam crer
que o último grito da moda
a novidade
era sempre possível de se ter

e o Zé pagode bom levado
crente
comprava pagava
endividava-se
dir-se-ia que coleccionava
o que a sociedade farta
lhe impingia

juntou-se o roto ao nu
com tal ciência
uns sem dinheiro para comprar
outros com produtos por vender

e a economia está o que se vê

puseram números estatísticas
no lugar das pessoas
agora nem há números
nem pessoas

há umbigos confundidos
que eles criaram
há desespero e medo
que geraram

mas também há
quem não se assuste com tão pouco
os que não tremem
por a queda se a houver
ser mais pequena

os que se habituaram a ver fartura
nos pomares nas hortas
nas searas
nas azedas nas amoras
nas refeições caseiras

na pródiga terra mãe
abandonada

pois se foi mentira
tanto dinheiro de plástico
e se o que estiver a haver
for um acerto
pois que o haja
mesmo que seja drástico

quem fez a cama que se deite nela
e que o tombo
a havê-lo
contemple à risca
os que pregaram
a farsa liberal capitalista

quarta-feira, junho 02, 2010

Farol


Era farol
que alumiava
orientava
quem se perdia
na dificuldade
e ali se achava

quando era preciso
na bruma ou na noite
no medo
no dar um jeitinho
em barco à deriva

era luzinha na alma
sozinha perdida
um tempero de vida

sem regatear presença
uma mão
orientação
um sítio de esperança
na ocasião

farol velhinho
a luz foi sumindo
os barcos estranhando
sua falta sentindo
no apontar do caminho

fez falta um tempo
farol apagado
houve confusão
rotas tremidas
na indecisão

mas o tempo passa
o mundo não pára
e àquele farol
eis conforto e sol
apagado em lida
já ninguém liga

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