Na vertical do meu espaço
quero perceber porque me disperso
porque quero ouvir-te só a ti
e ouço tanta gente
porque quero ver apenas o objecto
onde ponho os olhos
e o objecto esgota a vista
por se quedar tão pequeno
perdido na roda movimento
em toda a volta
tento num copo de vinho
aumentar o relevo do meu espaço
concentrá-lo
mas o efeito é o oposto
só aumento a concentração na vertigem circundante
só aumento o desconforto
de querer estar experimentar um outro sítio
estar noutra viagem
noutro lugar
então vejo-vos passar correr cavalgar
e eu ficar sentado a magicar
nem fico ali nem vou convosco
e sofro
como que quero estar noutro lugar
partir
e ao mesmo tempo
estar feliz ali
ficar
só olhando para ti
só te ouvindo a ti
só te vendo a ti
o possível e o impossível de mãos dadas
no mesmo espaço
ao mesmo tempo
a desilusão em tanta oportunidade
a ilusão também
refugio-me então na minha solidão
vou sem ir com toda a gente
e fico sem ficar
entre um prego no prato e um copo de vinho
escrevo palavras
para falar com a vida que vejo
que abraço
que quero agarrar e que passa
a um passo de mim
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