sábado, dezembro 03, 2005

o quintal de minha mãe

com os sons diários da metralha
o contar de espingardas
o gigante da fome
a violência vendida em troco de audiência

não fazem mais sentido
os dias bonitos das ilhas do Pacífico
os lugares mansos e sagrados
os ribeiros virgens vertendo melodia
o branco puro e angelical dos picos das montanhas

morreram dez?
morreram mil?
a quem importa?

que a morte chegue por má sorte
que a morte chegue quando é chegada a hora
que se dane
mas nascer e encontrar logo à sua porta
um lamaçal
uma espingarda
um nojo de vida
um quintal em que as flores são corpos matados
do pai do irmão do amigo

o que nos faz ser assim gente
tão brutos cruéis e assassinos?
será que não há no coração do mundo
amor que baste para virar as coisas do avesso?
não há ninguém que diga o que se faça?

a partir de hoje
quando me disserem
que o senhor A
o senhor B
são pessoas de grande inteligência
e se tudo continuar na mesma
só posso soltar uma gargalhada com a inteligência deles
e olhá-los com convicto desprezo

cada vez mais
apetece recordar o quintal de minha mãe
onde as flores eram lindas
porque punha nelas muito amor
e as abelhas apareciam atraídas pelo cheiro
e pela cor
e davam mel

se a minha mãe pudesse
semearia pelo mundo os seus quintais

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