quarta-feira, março 15, 2017

Carta de uma mãe alentejana



Nota do autor do blog:

Esta carta já não é de agora, apesar disso vale sempre a pena partilha-la para uma nova leitura. 
É possível que a mesma faça pelo menos soltar um sorriso, uma risota até, o que nos dias que correm vale muito a pena.
Claro que o Alentejo não é só humor, muito menos deste calibre, é muito mais que isso. Todavia, já que existem tantas anedotas e graçolas com piada sobre alentejanos, porque não aproveitá-las da melhor maneira?
Por um lado, para rir.
Por outro, pra lembrar e publicitar essa região tão querida e ímpar do nosso Portugal.

Fiquem bem


António Esperança Pereira



Carta de uma mãe alentejana...

Mê querido filho,

Ponho-te estas pôcas linhas que é para saberes que tô viva.

Escrevo devagar porque sei que não gostas de ler depressa. Se receberes esta
  carta, é porque chegô. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando ôtra.

O tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1 km de casa. Por isso, mudámo-nos pra mais longe.

Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to
  pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim, arranquei  os botões e meti-os no bolso. Quando chegar aí prega-os de novo.

No ôtro dia, hôve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O tê pai e
  eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira  vez em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.

Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.

Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar. O tê Pai ofereceu-se para comprar o tubo.

A tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina.
  Portanto, nã sei se vais ser tio ou tia.

O tê mano Antóino deu-me hoje muito trabalho. Fechô o carro e deixou as
  chaves lá dentro. Tive de ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por  sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo.

Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se nã a vires, nã
  digas nada.

Tua Mãe Mariana

PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já
tinha fechado o envelope.

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