
Vamos defender o que é pequeno
dar-lhe incentivo
defender as hortas os quintais
os galinheiros
as couves os porcos nas marquises
as tascas onde se bebe
se arrota se desabafa
mas onde em cultura
nada se faz que faça Portugal
vamos ficar nos matraquilhos
na saudade de ser pobre
xaile preto medo espera
guerra
serranias vazias de um país adiado
cresci nessas serranias
nessa guerra sem sentido
nesses tempos onde
pobreza convivia com desespero
fome medo morte
onde para ler a carta do exilado
do emigrante do soldado
era preciso correr espaço
pedir a leitura por favor
em obediência lágrimas e dor
a um qualquer letrado
dos poucos que havia neste país arcaico
continuemos assim vá
uma enxada ao Zé
uns servicitos à Maria
uma empresa pequenina
que por ser tão escassa
nem se vá manter de pé
é continuar o Portugal com medo
condená-lo a ser pequeno
pobre inculto
incapaz de merecer
o que merecem os melhores
é ouvir a voz do dono
o sabichão que ordena
sem visão maior
ou horizonte
que não seja o seu
e dos que reinam na incompetência
dos seus pares
dê-se ouvidos a quem vê mais
que o fado triste
a aldeia pobre inculta gasta
pobre porca
os caminhos de cabras
os burros a enxada
os pescadores sem barcos
cresça-se sonhe-se com a Lua
com o saber a tecnologia
a cultura
o mundo dos vivos
o futuro o longe
não se apodreça nas curvas
dos caminhos velhos
salazarentos poupadinhos
onde …
ou se foi perto
ou não se foi a lado nenhum!
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