sexta-feira, março 06, 2009

andar para trás


Andar para trás
para o tempo dos ideais
do matrimónio
da disciplina à cacetada
a ler ou a dizer a tabuada
(pimba zás burro toma lá)

tempo só exemplar
na virtude imaginada
de quem hoje tem tudo
e só consegue ver
que não tem nada

para que conste
nas ruas dos ideais
crescia bosta de animais
vivia-se em casas nauseabundas
no estrume dos palhais
fétido ar vida atrasada
dinheiro por haver nem esperança
alimento parco cemitério próximo

que bom que era
a vida porca a falta de progresso
a liberdade ausente
no mais pequeno gesto!

deve ser grande o vazio que dá
a fartura a qualidade que hoje há
para se sonhar com ideais assim!

porque quem já viveu
e quem ouviu contar
viu e ouviu coisas
histórias de pasmar...

doenças por curar
chicote a chibatar
metralha a disparar
fim de vida assim
não de cem
ou de mil…
mas de milhões!

ninguém lembra já o isolamento de antes
solidão sem horizonte
preto e branco serranias
olhos vendados
sol a sol no ganha pão escasso…

meia dúzia apenas de barriga cheia!

só posso rir quando se diz
perante tamanha evolução…

“que mau que isto hoje está”

1 comentário:

  1. Tantas verdades num só poema. Está fantástico. Adorei. Zé

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