sexta-feira, novembro 24, 2006

tempo dos outros

Parei na rua estreita
absorto
todo parado mesmo
sem sentir que à minha volta
havia um cão abandonado
gente que mexia
janelas abanadas pelo vento
que rangiam

No meu olhar
em estado hipnótico ou quase
na minha mente
senti um calafrio talvez pela primeira vez

Não muito longe via-se a grande ponte
pesada austera férrea
e de repente senti
que o murmúrio
a labuta o frenesim que corriam lá
era um fluxo de tempo
em que eu já não ia
era como ver a vida continuar
e eu ficar
gelei

A morte deve ser assim
o movimento a gente e a força
sempre a avançar
uma massa compacta vista assim daqui
na ponte
como eu a via
eu parado e absorto ficava

e que dor grande o sentir aquele instante
era o adeus ao movimento
a desistência total
naquela ruazinha
a um tempo que fugia
e que passava a ser o tempo dos outros

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