Tudo manda palpites num cenário horrendo que nos tem sido dado contemplar nestes últimos dias.
As televisões como é seu timbre procuram o sensacionalismo, chamar as atenções custe o que custar, doa a quém doer. Têm repórteres, apresentadores, comentadores, também hábeis aproveitadores da desgraça alheia.
Querem mortos. Mais mortos.
Quem vai dar atenção a um incêndio, a um ataque terrorista com um morto? uns feridos ligeiros? vá lá, mesmo a meia dúzia de feridos ligeiros e dois ou três mortos?
Ninguém.
O espetador já está embriagado com a quantidade e o vício da "grande desgraça". Escravo que é dos média, espera atento e ávido que aqueles feridos graves anunciados virem mortos.
O locutor, o comentador, o hábil aproveitador excitam-se. Fazem da tragédia um conjunto de histórias adaptadas aos seus fins em vista. Com dramas horrendos, chocantes, hipnotizam o incauto telespetador que não consegue sair da teia que lhe montaram.
Chegam as atualizações. Alguém dá uma entrevista. Tinham razão. O aumento de mortos aparece a satisfazer a avidez dos vivos que estão já viciados na desgraça.
20, 30, 60, 100 mortos.
Estão a ver? eu não disse?
Cresce a sede de razão, a ânsia de poder, dos que o têm e dos que o querem ter. Impera a luta pelos dividendos da situação que leva todos, desde os mandaretes, até aos comentadores mais sensatos, passando pelos bufos, desbocados, oportunistas, com hilariantes e intempestivas intervenções nos seus postos de ganha-pão.
Infelizmente, lá fora, no mundo da realidade, das decisões difíceis, no capo de batalha, continuam os mortos a morrer para gáudio dos que deles se servem para ter mais lucros e/ou botar figura e subir na vida.
Fiquem bem,
António Esperança Pereira
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