Nosso comentário:
Por acaso hoje, ao contrário dos últimos dias, a chuva aqui em Lisboa passou ao lado.
O mesmo não aconteceu com o governo de Passos Coelho que, ao invés de passar ao lado, não.
Caiu-nos mesmo em cima.
O sr. Presidente da República empossou o novo 1.º ministro, que por acaso é o mesmo, após um desfile de carrões despejando os notáveis a empossar (ministros e secretários de Estado)
Como vem sendo alvitrado por toda a comunicação social, parece tratar-se de uma posse efémera para aquela gente toda, já que se prevê que o programa a apresentar por eles na Assembleia da República será chumbado pela maioria dos deputados.
Mesmo assim houve a cerimónia, cumpriu-se a tradição, os empossados tiveram a amabilidade de depositar a sua assinatura num livro constituído para tal, e aconteceram ainda dois discursos a preencher o solene momento.
Falou primeiro o sr. Presidente da República, depois o sr. Primeiro Ministro.
Disseram pouco, quase nada, os semblantes eram murchos, fico com a ideia nestes últimos tempos de que à ex-maioria que governou o país estes 4 anos, agora minoria, lhes está a custar muito deixar o poleiro.
Enfim, pode ser só impressão minha.
Outra impressão que me fica, esta mais grave sobretudo para o conceito de democracia, é a de que pode haver muitos partidos e partidecos, montes deles, confira-se o boletim de voto das eleições, mas só se não crescerem muito e não forem perigosos é que serão aceites (tolerados) pelos que se têm proclamado até aqui como sendo os donos do arco da governação.
Grave mesmo.
Ora ao que parece a direita tem encostado demasiado à direita e o partido que normalmente ocupava parte do centro e centro esquerda desta feita não aguentou.
O Partido Socialista incompatibilizou-se frontalmente com políticas seguidas pelo executivo de Passos Coelho e Portas. Por eles enxovalhado e desprezado, o PS não conseguiu servir de moleque ou muleta a uma direita tão extremada, a políticas tão anti-pessoas, a um regime de "quanto mais pobres melhor", a um governo que cortou nos salários, pensões e prestações sociais para financiar a banca, a um governo que colocou os portugueses outra vez na crista da onda da emigração.
O caldo ficou entornado.
Com toda a esquerda a querer viabilizar uma alternativa de governo liderado pelo PS, com políticas diferentes e com múltiplos pontos em comum, se dúvidas houvesse, logo se esfumaram.
Passos Coelho e a sua política de direita apadrinhada pelo sr. Presidente da República desde o 1.º momento, parecem encontrar-se num beco sem saída.
Ante a arrogância com que, PR e governo presentearam a esquerda, menorizando-a e maltratando-a, arriscam-se agora a engolir alguns sapos, pois a alternância democrática tem que se aceitar doa a quem doer.
E nota-se que está a doer mesmo muito a quem se convenceu, talvez por imaturidade, talvez por má fé, não sei bem, que o "caminho único" eram favas contadas.
Fiquem bem,
António Esperança Pereira