
Passeio-me no televisor após o jantar.
Canais não faltam, a coragem da escolha é que nem sempre ajuda.
Por isso mesmo aí estou eu no dia a dia, à mesma hora, no mesmo sítio, nos mesmos canais, a levar com mais do mesmo.
E faço-o apesar de vir afirmando para mim próprio vezes sem conta que não estaria mais ali a ver aquilo, que tinha que evoluir e ser mais seletivo nas escolhas televisivas.
Falo sempre isto para mim mesmo, mas até hoje ainda não consegui mudar a cassete.
Vejo este debate, aborreço-me com a temática ou com o confronto murcho que vejo, mudo de canal. Há outros figurantes, tento descortinar se o assunto é menos fastidioso que o anterior, consigo perceber cedo as intenções e até o caminho que as palavras vão seguir, desisto por desinteresse ou até enjoo na adivinhação do paleio dos visionados.
Tento um canal desportivo, ouço falar da eleição de um ex-árbitro para Presidente da Liga Portuguesa de futebol, vejo ainda o homem eleito, a minha mente ingenuamente interroga-se sobre o que é que um jovem ex-árbitro perceberá da gestão de um organismo que lida com tantos clubes e com realidades tão complexas, parece-me frango demais para o fazer, mas há gente influente que o quer lá, desisto, mudo de canal.
Levo com mais desporto ao fugir da política; transferências de jogadores, o tema quase unânime em amplos e acalorados debates. Um jogador que fora vendido para um país árabe, outro emprestado, outro posto de lado à espera de mercado, outro a braços com uma lesão, outro acabadinho de comprar com apenas 19 anos, uma pechincha, no dizer dos comentadores.
Tudo se discute ao pormenor e em animação tal que as feiras que me habituei a frequentar em pequeno, na região onde cresci, ao pé desta animação de elevados cifrões na compra, venda e troca de mercadoria, não passavam então de locais bizarros de pequenos negócios de tostões.
Enfim...termino como quase sempre com um "zapping" e é depois desse "zapping" que deixo o aborrecimento com que me confronto todos os dias nos canais televisivos, e que volto a repetir para mim mesmo que nunca mais quero levar com tal dose.
Digo-o e repito-o sim, montes de vezes, a promessa está no ar, mas a coragem de cumpri-la ainda não chegou.
Sei que aprender a escolher é muito importante. Podemos achar por vezes que é tarde, que temos a cabeça feita assim e assado, que não sabemos viver sem isto ou aquilo, mas é mentira.
Uma boa escolha, seja ela qual for, vale sempre a pena e mais vale tarde que nunca.
Porque, na rotina enraizada nestes nossos hábitos, há tanta coisa escondida em cada um de nós que fica por fazer...
Fiquem bem,