terça-feira, janeiro 24, 2012

Português medalhado vira ladrão

LENDA DO ZÉ DO TELHADO
José Teixeira da Silva nasceu no lugar do Telhado, de Castelões de Recezinhos, em 22 de Junho de 1818. Ficou célebre na história de Portugal como Zé do Telhado, um herói que se tornou vilão. Foi um valoroso combatente militar e um controverso salteador. Enquanto militar, há registos e relatos da sua valentia, tendo sido condecorado com a medalha de Torre e Espada, por actos heróicos nas hostes de Sá da Bandeira, do Duque de Setúbal e na revolta da Maria da Fonte, sempre pelos liberais, contra os absolutistas.
As ligações de Zé do Telhado a Lousada remontam à infância e ao seu matrimónio. Casou com sua prima, Ana de Campos Lentine, que morava no lugar de Sobreira, da freguesia de Caíde de Rei, que na altura fazia parte (tal como Castelões de Recezinhos) do antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, que tinha sede em Vila Meã.
Ana era filha de uma tia de Zé do Telhado e de um antigo soldado francês que por cá terá ficado aquando das invasões napoleónicas nos começos do século XIX.
Este era negociador e capador de gado e ensinou o ofício ao seu sobrinho. Mas seria ocupação de pouca dura pois a tradição familiar e os hábitos de guerrilha e combate adquiridos em inúmeras batalhas influenciaram decisivamente para que Zé do Telhado se tornasse salteador. De facto, seu tio-avô e seu pai tinham sido quadrilheiros, bem como o seu irmão mais velho.
Muito se escreveu e continua a escrever sobre este controverso personagem. Uns, com mais pendor moralista, o invectivam e negam-lhe qualidades, enquanto que outros, mais benevolentes, enaltecem os infortúnios, os sentimentos e as façanhas de Zé do Telhado.
Diz o povo que roubava aos ricos para dar aos pobres, e por isso era por muitos considerado o Robin dos Bosques português.

Tentativa de assalto da quadrilha do Zé do Telhado em Pias

Há relatos de lealdade e honra da sua parte, veja-se o caso da tentativa de assalto à Casa de Pereiró, na freguesia de S. Lourenço de Pias, em Lousada, segundo relato contado de geração em geração naquela senhorial casa.
Isso aconteceu em meados do século XIX. Depois de ter assaltado a Casa de Talhos, em Macieira, Zé do Telhado pretendeu apoderar-se de riqueza em Pias. O alvo seria a Casa de Pereiró, de Constantino Elisiário Ribeiro Peixoto, que recebeu um ultimato do salteador.
Na carta enviada àquele distinto morador de Pias, Zé do Telhado ameaçava que se não colocasse no penedo de Sant’Ana um saco de libras, ele e o seu bando assaltariam a casa de Pereiró. O proprietário não cedeu. Cumprindo a ameaça, os bandoleiros abeiraram-se da casa, onde Constantino Peixoto se tinha entrincheirado com várias armas de fogo.
O rés-do-chão estava fechado, com barricas nas portas e janelas. No andar de cima, estava tudo aberto e uma arma junto de cada janela.
Reza a história que assim que se avistaram os dois protagonistas da contenda, Zé do Telhado patenteou o cavalheirismo que o notabilizou ao perguntar: “Dá-me autorização para assaltar a sua casa?”. O proprietário de Pereiró respondeu de forma provocadora: “Sim!”.
Contando com o apoio da sua destemida e leal criada, que ia carregando as armas com pólvora, Constantino Peixoto correu de janela em janela, disparando contra os assaltantes. Perante essa aguerrida oposição, o bando bateu em retirada.
Tendo admirado a destreza e coragem do destemido dono dessa casa, Zé do Telhado remeteu-lhe, na qualidade de rei dos salteadores da região, uma carta que Constantino Elisiário deveria mostrar no caso de ser assaltado. Servia esta missiva para segurar os seus bens perante os amigos do alheio.
Depois de vários assaltos, nalguns dos quais foi derramado sangue, fugiu para o Brasil, mas segundo o próprio terá confessado a Camilo Castelo Branco na Cadeia da Relação, as saudades dos filhos e da esposa fizeram-no regressar. Foi apanhado pelas autoridades e julgado em 1861, em Marco de Canaveses. A acusação foi feita pelo delegado do Ministério Público, Dr. Joaquim Cabral de Noronha e Meneses, da Casa da Bouça (Nogueira, Lousada). A pena de morte ainda vigorava em Portugal, mas Zé do Telhado livrou-se da forca, devido a várias atenuantes. Mas pagou pelos seus crimes, tendo sido deportado para o ultramar.
Relatos do Diário de Notícias da época, fizeram eco da sua regeneração e de actos heróicos em Angola, onde faleceu em 1875.
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Nosso comentário
Alguns chamam ao Zé do Telhado o Robin Hood português.
O Robin Hood foi um ladrão inglês, como sabem, imortalizado em tudo o que é arte: cinema, poesia, teatro, música, pintura, etc.
Lembrámo-nos de recolher a história deste homem, Zé do Telhado, uma autêntica lenda nacional, num altura em que recordá-lo nos parece oportuno.

Em Portugal corre uma petição, que já conta, tanto quanto sabemos, com dezenas de milhar de assinaturas, solicitando a saída do PR (Presidente da República) Cavaco Silva.
Parece à primeira vista que tal facto democrático, a petição, nada tem a ver com a história do Zé do Telhado, mas até tem.
A pilhagem a que se vem assistindo nesta República, por banda de banqueiros e políticos, de dentro e de fora, a falta de mensagem objetiva e equilibrada por parte dos mesmos para os seus povos, vem gerando desconfiança, descrédito, necessidade de mudança de paradigma.

Se nada de importante se fizer no sentido de recuperar credibilidade, pondo barbas de molho se isso for necessário, não temos a menor dúvida de que o barco ainda em condições de frágil navegação, por enquanto, numa sociedade à beira de um ataque de nervos, acabará por virar um Titanic.
Esta petição é mais do que a prova disso.

Não desejo à frente do meu país um pobre, um pedinte, o estatuto de pobre, por si só, não lhe confere qualidades de governação. Isso é pura demagogia.
Exijo sim homens sérios, patriotas, capazes de levar esta nação portuguesa para a frente.
Porque, na cabeça dos portugueses, generaliza-se cada vez mais a ideia de que a prática dos altos responsáveis é corrupta, de compadrio, de tacho pelo tacho, conivente com forças invisíveis, de autêntico saque dos mais frágeis.

Aqui entra o Zé do Telhado, que também tinha uma forte quadrilha.

Só que, ao contrário do Zé do Telhado, os novos usurpadores do dinheiro, parecem agir ao inverso, não deixando por isso, de ser bandidos na mesma.
Pior, leia-se que o Zé do Telhado era cavalheiro a roubar: pedia licença para assaltar uma casa... por exemplo...coisa que os de agora não fazem. Pura e simplesmente roubam.
Sacrificam o povo, as classes médias, em favor de uma elite darwinista que não olha  a meios para atingir seus fins de poder absoluto no meio da desgraça alheia.
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Fiquem bem,

António Esperança Pereira


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2 comentários:

  1. Rendida á qualidade e oportunidade do post.
    Está muito pertinente a "semelhança" do personagem Zé do Telhado com a dos actuais
    politicos.
    Perdão enganei-me, é que roubar aos ricos para dar aos pobres não é bem o mesmo que o inverso.
    Claro, roubar não é de todo um acto de louvar, mas o Zé do Telhado, com e seu cavalheirismo, também sentido de ajudar os mais desfavorecidos, sempre terá mais atenuantes...
    Abraço
    Céu

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  2. Céu que exagero... refiro-me à qualidade do post claro.
    Lá oportuno é, porque a roubalheira veio para ficar e durar.
    Hoje mesmo dou relevo em meu post, convido-a a ler, a um lançamento de um livro de um prof da Universidade de Coimbra que versa o tema: CLASSE MÉDIA EM RISCO
    Concordo que há um ataque sem precedentes à classe média, os perigos que daí advêm são mais que muitos...
    Obrigado pelo post,
    Um abraço

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