sábado, fevereiro 28, 2009

a raiva dos outros


Ouço estático sem opinar
as palavras dele que saem
contundentes desafiantes
ideias construídas
glórias próprias abraçadas
encadeadas em conceitos dogmáticos

o meu silêncio aparentemente sereno
não reactivo
não colaborante
deixa lentamente
o interlocutor chegar sozinho
ao fim dos argumentos

colérico zangado brigão
roxo transtornado
tanta a revolta e ansiedade
a presunção de ganhar em toda a afirmação

figura arrepiada arrepiante!

podia ver-se o medo que o discurso encobre
na falta de confronto
a dúvida
o esgotamento
a solidão
que está por detrás do argumento

é como disputar no futebol
lá nas alturas
a bola que subiu subiu
e vai cair entre jogadores
um eleva-se veloz pesado forte
em força fúria bruta
quase a matar

o outro que a disputa
mais inteligente
percebendo a intenção maléfica
do adversário
deixa-o saltar
e habilmente esquiva-se
deixando-o elevar-se atabalhoadamente

e no afastamento hábil
que faz
em vez de levar com ele em cima
zás
é a besta quem cai desamparada
vinda das alturas
estatelando-se no relvado
sem que o outro lhe sirva de almofada!

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