sábado, fevereiro 28, 2009

a raiva dos outros


Ouço estático sem opinar
as palavras dele que saem
contundentes desafiantes
ideias construídas
glórias próprias abraçadas
encadeadas em conceitos dogmáticos

o meu silêncio aparentemente sereno
não reactivo
não colaborante
deixa lentamente
o interlocutor chegar sozinho
ao fim dos argumentos

colérico zangado brigão
roxo transtornado
tanta a revolta e ansiedade
a presunção de ganhar em toda a afirmação

figura arrepiada arrepiante!

podia ver-se o medo que o discurso encobre
na falta de confronto
a dúvida
o esgotamento
a solidão
que está por detrás do argumento

é como disputar no futebol
lá nas alturas
a bola que subiu subiu
e vai cair entre jogadores
um eleva-se veloz pesado forte
em força fúria bruta
quase a matar

o outro que a disputa
mais inteligente
percebendo a intenção maléfica
do adversário
deixa-o saltar
e habilmente esquiva-se
deixando-o elevar-se atabalhoadamente

e no afastamento hábil
que faz
em vez de levar com ele em cima
zás
é a besta quem cai desamparada
vinda das alturas
estatelando-se no relvado
sem que o outro lhe sirva de almofada!

névoa prateada


Névoa prateada
emoldurando teus cabelos
longos
num fundo translúcido
de humidade praia suave
ao sol por

fito teus olhos em primeiro plano
próximos
atentos
quase íntimos
aproximo-me sem medo

de tal modo existes
sólida presente calma
na paisagem desfocada
no fresco esquecido dos sentidos
que é magnético
fácil obrigatório
tocar-te abraçar-te
beijar-te

dar sequência à totalidade
deste canto isolado do resto
e que pede o que está escrito
nos olhos

apetite fome
saciedade arrebatamento
refeição caviar champanhe
chocolate sucos

uma vingança!

profunda
ardente
gemida
carente
de tanto frio
arrepiante
de infância

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

País maior


Os mesmos que apelam às desgraças
que sopram a trombeta agoirenta
são os que temem receosos
perder conventos castelos e palácios
onde tudo era deles
nada aos outros pertencia

afinal coisas de velhos temerosos

que vêem só ameaças no prazer
no novo no amor no sonho
egoístas cépticos passadistas
com uma lição moralista ultrapassada
atraso reverência subserviência
que hoje por muito que lhes doa
já não colhe

quem viaja entende que é o belo
que nos chama
não o quiosque velho carunchoso
a barraca clandestina que envergonha
povo em guetos de pitas e de nabos
sobras dos senhores dos tais castelos

falta o hábito eu sei
a cultura do melhor
(grandes são os outros
pequenos somos nós)
e é assim que andamos para a frente?

nos quintais de pitas e de nabos
na tradição útil de ignorante povoléu
amansado inculto atrasado
a dar ouvidos a quem prega
não a quem faz?

Não!

faça-se obra recupere-se
que se entenda de vez o sol
e o mar e o céu que temos
que se entenda de vez Portugal
como um país maior…

já que foi com grande empenho
que aqui chegámos!

O Marquês hoje!


Democracia diversidade
música escolha liberdade
palavras que me ocorrem para enquadrar
o pensamento novo
em que o isolamento deu lugar
à interactividade

longe vai ficando
o escuro a fogueira
o silêncio das masmorras
a condenação do óbvio fonte vida
o livro proibido
o diferente com o dedo apontado
marginalizado enlouquecido
a mulher violentada
diminuída na sua qualidade

ainda bem que o mundo avança
que eleva patamares de consciência
que ultrapassa tantos males
e os põe melhores

muito há sempre por fazer decerto
mas é fazendo que o caminho fica feito

atente-se como exemplo o Marquês
no terramoto…
se ele então baixasse os braços?

em vez disso não alevantou-os
persistiu continuou construiu
não consentiu que o seu país esmorecesse
perante tão enorme desafio

o mesmo hoje em liberdade
progresso luz século outro
uma nova consciência de obra
a mesma vontade
de avançar em prosperidade!

sábado, fevereiro 21, 2009

Portugal tem família


Portugal tem família
tem amigos
tem vizinhos
competência proficiência
na interacção com eles

país Portugal sempre sincero
só por respeito para não magoar
é diplomático

acredita que é a fazer
que fica feito
que é a aceitar a modernidade
que a pomos nesta idade

lutar contra o novo para quê
se já aí está?
perde-se tempo força
é quando os outros nos deixam para trás
a maldizer o mais sagrado
que somos nós

em vez de maldizer
elogiemos cantemos nossos feitos

se o fizermos
seremos capazes de chegar
onde chegam os melhores
ou mais até!

falta o abanão na atitude
voltar a acreditar
porque mesmo os mais descrentes
ante jorros de obra grande e valorosa
hão-de render-se
à sua terra
aos êxitos modernos irreverentes
por tamanhos

extasiar-se nela
por tão bela
apreciá-la orgulhosos
por tão boa

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

pedinte de favores


Apetece partilhar contigo
intimidades
fazer um reconhecimento visceral
profundo do teu corpo
usando para isso os órgãos dos sentidos

ver tocar provar
ouvir cheirar
depois se amor houver
silenciar
fazer tudo sem pensar
com reacções reflexos
consoante as situações

se o amor não transpirar
e porque és um pedaço de mulher
pedir-te por favor
para te usar
para assim poder apreciar os teus recantos

sem incomodar…

se tal uso apoquentar
o teu conceito de mulher
apenas em acto oferecido e dado…

parar!

agradecer a disponibilidade havida
por saciar tanto possível

e na saciedade
se o teu coração entretanto não mudar…

serei mendigo de favores
para meus amores
pedinte grato
na tua porta aberta à caridade!

salvo em pequenino


Hoje vi o poço fogo em labaredas
os perigos todos
que a criança do campo enfrenta
enquanto cresce

vi a vida perdida num qualquer buraco
da infância
a mão salvação que aparece
que ampara protege agarra
quando este mundo nos quer cá

depois menino salvo…

o caminho longo com espinhos
pedras redemoinhos
rectas curvas
voltas revoltas
em prémios e castigos
que nos leva longe
ou perto…

sem se saber onde nos leva
nem porquê
nem para quê!

resta perguntar se o percurso agreste
duro curto
entre cortado aqui e ali
por intervalos de bonança

(que fazem tantas vezes da vida
um poema)

justifica o menino grande
que se vai esgotando no tempo
mirrado de cansaço pelos anos
sem outro horizonte agora
que não seja o poço escuro
na cidade
de que foi salvo por alguém
no campo
outrora!

sábado, fevereiro 14, 2009

movimento lesto inteiro


No movimento lesto inteiro
do teu corpo que entontece
sigo-te atraído hipnotizado
ante sons que já não ouço
ante um espectro de gente
que não vejo

sigo os teus olhos como um sol
viagem sorriso vida luz
que me aquece me ilumina
que me queima

és linda e eu sei
que tal como o sol vem
também se vai

talvez por isso hesito
quando sinto que é muita a velocidade
da tua agilidade perfeita
ante a música energética

admiro transpirado
o teu corpo leve
que implode explode
que volve revolve
mexe remexe
que puxa pelo meu em intensidade frenética

eu faço o que posso
ou mais até
por um lado porque gosto
por outro para não dar parte de fraco
e desinteressares-te assim do meu compasso

esforço-me canso o corpo os olhos
deixo-me esfalfar só por te ver
como medo de te desprenderes de mim
por não ter força e arte
para acompanhar-te

só que quando me esforço
no cansaço
tu dás conta
pela tristeza dos meus olhos
que esmorecem sem querer nos teus

é então que o sol se vai
em oblíquo desaparecer
ciclo música mulher poente
dada boa doce quente
por não entender
porque murchei!

humanismo interior


Prestemos muita atenção
a cada parte de nós
mais visível mais recôndita
mais íntima ou mais exposta
sempre valorizando
a habitual competência
de cada função

a cabeça ás vezes dói
mas as vezes que não dói…
as horas dias a fio
sempre sempre a funcionar?

a eficiência é que é regra
não a dor que é excepção!

convém sermos compreensivos
não insultar o que temos
ai que “merda de cabeça”
ai que “puta dor de ouvidos”

tal e qual como pessoas

tratar bem em vez de mal
valorizar o que temos
o nosso potencial
nos bons e nos maus momentos

pessoa sem atenção
pode adoecer zangar-se
ou até mesmo morrer
com falta de aceitação

deve pois acrescentar-se
ao humanismo exterior
o humanismo interior!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

tensão controle


Volume de água tenso em comporta
barragem hídrica electricidade em watts
minha garganta por abrir
seca esfomeada
por tanto amor ter e não sair

corre às vezes um fio de água
uma cascata com alguma intensidade
mas a paixão necessidade
o peito forte
a força capaz de derrubar qualquer comporta
onde estão?

olhos que te vêem que vos vêem
qual janela aberta à emoção
garganta coração que logo estreitam
doem na possibilidade breve
de só soltar um pouco de tensão

são muitos os muros pouca a liberdade
para aligeirar o volume a intensidade
do vermelho sangue ardente
que percorre as veias

é prudente dizer que é bom guardar
poupar a energia da barragem
gerir os stocks sem os esbanjar
energia coração água sentimento
intensos tensos em jaula controlados

quisera dar-te a mão e perguntar-te
se sinto isto…
porquê
em vez de gritar me calo
em vez de ir contigo
fico?

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

tudo existe desconforme


Se tudo se rege pelos contrários
pelos opostos
que sentido faz o equilíbrio
o certinho o afinado o arrumadinho?

tudo existe desconforme
diferente
a distância entre lugares
o posicionamento dos astros
o seu tamanho
os dias grandes
os pequenos
os sítios perto
os distantes

os caminho do oriente
norte sul poente
cada um para sua banda
o caminho das estrelas vastidão
o carreiro entre giestas estreitinho
as águas as cores os ares
os odores
os paladares

tudo tão diferente!

que sentido faz então
estar assim preocupado
em ser doentiamente ajustado
equilibrado?

não seria mais sensato
descontraído agradado
aliviar tanto controle

e simplesmente viver
naturalmente
como afinal acontece
com tudo o que mexe e que não mexe?

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Pátria amada


Quem vê de sua casa só mazelas
as mima como quem mima flores
amores
não quer decerto
libertar-se delas!

acorda Camões vive de novo
incendeia os olhos cegos
os corações descrentes
mostra aos que pregam sermos pequenos
que se enganam
que não merecem o país que têm

que mudem de vez de atitude
ou que se calem por traidores
defensores de alheias longínquas virtudes
que não passam de fracassos ampliados
pântanos criados
pelos que eles dizem ser maiores

se vêem só neles grandeza sem enxergarem
os defeitos crassos por tamanhos
eu vos digo almas do meu povo
que nossos feitos quando comparados
a tão graves e prolíficas atrocidades
nos torna incomparáveis por melhores

abram os olhos sombrias consciências
cépticas nefastas apátridas
púlpitos de vozes velhas pálidas
não sei de que interesses intermediárias

mudem avancem como o tempo
que exige soluções inteligentes
adaptadas modernas competentes

se não forem capazes
de modernizar-se de ver de evoluir
de perceber que o mundo avança inexoravelmente
calem-se de vez

dêem lugar às novas descobertas
aos barcos de hoje
novos timoneiros
com rumos incertos mas ambiciosos

e que ao menos no silêncio
de quem prefere ficar assim do que aceitar
novos ventos novos tempos
possam perceber
o chão a graça a casa
a mãe o tecto
o afecto
a falta que faz…

esta doce terra nossa
dada amiga
cheirosa clara azul atlântica
amorosa
lusa pátria ímpar
pátria amada!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

convite desafio


Os teus olhos brilho cintilante
convite desafio
calor tão forte
em que o rubor da face
as mãos a conversar nas minhas
suaves macias húmidas de se dar
acompanhavam sem dar conta
a linguagem corporal

era cego o olhar
esquecida a razão perdida na emoção

face com face
pele que se atraía
colava descolava enlouquecia
pedia dava
entregava-se entregava
em abraço apertado
que matava a raiva o abandono
a falta de amor que a razão dá

mulher esbelta graciosa
meu grão corpo doce mel
minha vida num instante enlouquecida
nos teus pés nus de bailarina
na tua capa de seda transparente
rubra
como o sangue do meu corpo
que fervia

céu inferno calor e calafrio
conexão distância a um só tempo

quis na frieza da razão chegada
no fim do paraíso andado
no tu fugindo sem remédio…

que fosses pássaro andorinha
que voasses sempre por tão bela
mas que aportasses ao meu beiral
em cada primavera
para seres um pouco minha
na estação das flores

aguentaria assim melhor
os frios os invernos
os adeus eternos de que não gosto
apreciaria a chuva o cinzento nublado
os prados enlameados
os caminhos desertos
a vida escassa

esperaria confortado e agradado
o teu regresso breve
que por não perder-te para sempre
e poder ver-te
bastaria!

excitação perversa


A excitação ás vezes é perversa
o idealismo
a fuga
dá-nos tal velocidade
ebulição
que no fim da estrada
encontramos em vez do ideal
do sonho
a confusão

a cabeça fica tonta
perde-se o norte
o que éramos não é o que somos
o que queríamos não é o que temos
na realidade que se vê
quando paramos

é então no pós vertigem
feito vazia paragem
no tudo no mesmo saco
que matutamos
recomeçar nova viagem

quando assim fragilizamos
no cansaço do cismar
(taquicardia a aumentar)
percebemos…

que para quem não tem asas
e quer voar…
é com os pés assentes na terra
que fica mais fácil tentar!

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...