domingo, fevereiro 28, 2010

plásticas e implantes


Pedro Quintas em crise dos 50
profissão exposta em programa
de tv
e ciente dos progressos
da ciência
no que toca a visual

resolveu meter mãos à obra
mudança radical

cuidou das gelhas
esticou-as
zonas grisalhas da cabeça
transformou-as
por implantes de africana
carapinha

a barriguinha
que mais parecia um pote
de cerveja
aspirou-a de gordura e banha
ficou com ventre liso
enxuto

faltava a cor da pele
para condizer
com a Obama mania
que o inspirava

foi a um solário
entrou branco e de tanto
a escurecer
saiu castanho

de tal forma Pedro Quintas
ficou mudado
escuro magro
carapinha e esticado
que pelos vizinhos foi comentado
que se calhar
o senhor grisalho
gordo e anafado
vendera seu andar
a jovem africano

ouve mesmo alguém
a perguntar
com ar perplexo estranho
por ali viver há tantos anos…

“para onde teria ido morar
o senhor grisalho
apresentador de tv
sem dar cavaco às tropas
nem nada comunicar?!”

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

o sítio do dinheiro


No sítio do dinheiro
aparecem logo galifões
uns à coca de milhares
quiçá milhões
outros menos diplomados
de alguns cifrões

chega-se a morrer no mar
antes de o alcançar
ou a partir um dia
clandestino
disfarçado de mercadoria

a estrela é mesmo
o dinheirinho
assuma-se ou não essa verdade

umas vezes mais limpinho
outras mais emporcalhado

procuram-se nichos de mercado
fura-se fura-se
tenta-se na terra
o caminho dos astros
das galáxias
por todo o lado

são fases da evolução
da humanidade
agora assim antes assado
amanhã quem sabe (?)

talvez cozinhado

não se podem criar comparações
ou julgamentos
sobre maneiras de viver
pensar
em remotas ocasiões

uma coisa porém
dá para afirmar

a nau dois mil e tal
é assim
há que aceitar
veloz ágil exigente
mais materialista que humanista

quem não a acompanhar
por não poder ou não querer
fica para trás
a praguejar a esbracejar
a naufragar
num qualquer mar

terça-feira, fevereiro 23, 2010

falta de liberdade (?)


Falta de liberdade?
mordaça?
que despautério senhores
que falta de assunto sério!

sabe quem antes viveu
no tempo de Salazar
que então sim
não se podia falar

nem reunir nem pensar
nem agir

e se alguém discordava
da verdade oficial
a detenção o esperava
para logo o endireitar

à trolha ou à paulada
haviam de o calar

uma só televisão
só jornais autorizados
os que tinham opinião
eram logo encerrados
perseguidos condenados

hoje há vozes para tudo
para o insulto o protesto
juízo e falta dele
muita falta de respeito
que até peca pelo excesso

há bloguistas comentaristas
colunistas humoristas
mil artistas
movimentos espontâneos
outros mais organizados

uns mais isto
uns mais aquilo
taras ócios e manias
maiorias minorias
todos são autorizados

falta de liberdade?
mordaça?
que despautério senhores
que falta de assunto sério!

parece às vezes haver
se o faro me não engana
muitos a querer poder
sem olharem a meios

sem trunfos em democracia
feridos nas expectativas
com pudor de o dizer
preferem a tirania

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Liberdade e armadilhas


Fala mal do teu país
da tua gente
incendeia o mundo dessa onda
pobres burros incompetentes
mas não te espantes
que caia sobre ti
o que semeias

vê nos da estranja só virtudes
zangado que estás de ti
da vida que escolheste
o responsável és tu
não o teu país
poupa-o pois da imagem pérfida
que dele deste

queres o paraíso aqui
brilho glória da tua inteligência
tudo a olhar para ti
só que não vês
que os burros que dizes que aqui vês
é o burro mascarado que tu és

pode-se criticar sem magoar
ser-se inteligente esperto arguto
sem ter que se esforçar
podem-se apontar feridas com o intuito
de as curar

agora dizer mal só por dizer
fazê-lo só para impressionar
chamar da pior maneira
as atenções
sobre Portugal
sem nada acrescentar…

tenho para mim
que faz bem desopilar
aos nervos ao fígado
a todo o mal estar

quero até compreender
as dores de corno e cotovelo
o querer ter poleiro e não poder

mas há bens maiores
a respeitar

que não paguemos todos
homens livres por vontade
com o excesso de liberdade
usado e abusado por alguns senhores

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

deputado europeu


Mais parecem meninos da mamã
acusa Cristos
berrando aos quatro ventos
mil queixinhas
na inépcia de terem soluções
força para agir na adversidade

vão para longe
lá para fora
gritar socorro ai ai
quem nos acode
só para chamar sobre si
as atenções

maus profetas de um país
o meu
mau serviço o seu

que sem conteúdo
nem razão nem ideias
tais gritos
se parecem com eles
complexados balofos
desajeitados

depois os anos passam
e os meninos da mamã
ambiciosos
mas sem barba nem bigode
e outros sinais de hombridade

ficam sem tempo
e oportunidade
de se tornarem poderosos

choram lágrimas
fazem birras
cantam triste fado
ao colo da Europa
que mais não pode
que aturá-los

muda-lhes a fralda
aceita-os com piedade
enquanto o mandato
de deputado
dura

domingo, fevereiro 14, 2010

Arnaldo de Barrelas


Deram nome de rua pequenina
a um grande homem
um quelho
um acesso a eira onde ninguém vai

numa terra escassa escondida remota
onde ...
se pouca gente passa na rua principal
ao quelho de seu nome
ninguém vai

o julgamento sobre a valia dos homens
vale o que vale
nada mais
não me cumpre comparar créditos e honras
de mortais

trepa-se ganham-se honrarias
apaniguados fazem-lhes a corte
outros de corte por família
já nascem imortais

a estes basta crescerem à sombra
de celebrados ancestrais
fazer qualquer coisa
nada de mais
e têm nome de praça assegurado
de avenida
de alameda
busto ou estátua em cidade grande

a outros coitados
são heróis à vista desarmada
de quem é puto e os vê com os olhos da cara
sem olhar estragado

gente que mexe com os outros
que é solidária
que anima
que puxa para cima
que tira a camisa suada
a própria pele
o sangue
se a fraqueza a alguém aperta
que vai para a frente se a coisa se escangalha

e nada

morrem como nascem
apenas trocam morada esfarrapada
por campa rasa

comparado com estes heróis sem nada
sem direito a nada
já esqueci que foi nome de quelho
que deram a um grande homem

bom amigo dado prestativo
sábio
grande conhecedor
das terras dele e de Aquilino
um português de trato fino
que me honrou só de conhecê-lo

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

sexo e infidelidade


Em boa verdade
quer se queira
ou não se queira
o sexo é a infidelidade

ele é a agravante
do relacionamento do instante

preocupa a dama na abertura
desespera o macho na ansiedade

fogueira quente ardente
corpo quase entregue dado
quase quase
encosto aperto confusão
sim não
paramos?
continuamos?
sim não?

a mente em sobressalto
hesita desiste fica-se
desmonta a situação

olham-se os amantes
sem falar
disfarçando mal a agitação
ao recuar

ainda se intenta
um ficar
num beijo dado
que se perde rejeitado
na já abortada ocasião

compõem as roupas engelhadas
os quase amantes
tropeçam no calçado
por calçar

tementes da sombra
da traição
culpa pecado razão
medo de sofrerem por se dar

apetece nestes casos
perguntar
se é no sexo que está o problema
porque não se amar sem praticar?

tape-se acomode-se a preceito
de tal jeito
que não se possa usar

ficaria descansado o viajante
a esposa fiel
o incauto amante
o sentimento de posse
porque tudo ficaria como dantes
mesmo que algo acontecesse
sem prever

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

um micro segundo


Hoje entendo o tempo como nunca
um micro segundo
que dele temos
para brindar cada vivência
neste mundo

o resto uma soma de intervalos
cada um sua realidade
longe ou perto
fora do tempo
do outro

não fora a recordação
o registo da memória
a ligação
corpo alma
e tudo não passaria
de uma sucessão
de terra semeada
ou em pousio

umas vezes espiga grada
amarelo fogo estio
outras nada
lugar abandonado
frio

Primavera Verão
Outono Inverno
de mão em mão
de estação em estação

lugar e lugarejo
longe perto
aqui ali
passos da vida que o tempo
rege

quente ou frio
semeado ou de pousio
como estou eu sei
como tu estás
não sei

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

feudos séquitos e gangs


No meu canto solitário
macambúzio
digiro como posso
politiquices avulso
gente bem endinheirada
que talvez por mal amada
trocam voltas ao discurso

uns são velhos de prestígio
saber pouco actualizado
agarrados ao poder
mesmo sem grande juízo

outros grandes gabarolas
escola de caciques arrogantes
a quem um dia as festarolas
jeito peculiar de porreirismo
e a custo dos artolas
são os “quero posso e mando”

feudos séquitos e gangs

há os novos compostinhos
de gravatas enfeitados
serviçais ambiciosos
a engolir sapos e sapinhos
a troco de caprichos onerosos

feudos séquitos e gangs

uma moldura de fortuna
vai-se à Lua vai-se a Marte
armas mais que inteligentes
um show off do caraças
deputados presidentes
catedrais de crentes
e não crentes

nas ruas e nas praças
prostitutas desempregados
e indigentes

desfasada aparece de repente
mobilizada classe social
salários baixos vida dura
altos gritos estandarte
como se isso importasse
ao cidadão apático
que os vê passar
ao desempregado à prostituta
ao indigente

tempos rápidos e fartos
incrédulos por sábios
baralhados
aonde com tanta não verdade
desigualdade falsidade
improviso falta de juízo
o descontrole é a grande realidade

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

lugar presente


A diferença que faz
olhar adiante
de onde estou
e olhar para trás
para o que passou

a mercearia fechou
a tasca também
a escola onde andei
o café que frequentei
as namoradas que tive
os amigos que abracei

tudo passou
já não vive

apetece ás vezes ir
ao passado recordar
momentos que vivi
em mil filmes de pasmar

depois de um tempo
por lá
convém na ampliação
que a saudade dá…

regressar!

é aqui que a vida está
é em frente o caminhar
pois lá atrás
já não se pode tornar

é o povo quem diz
“que para trás quem mija
é a burra”
sabe bem reviver
guardar
mas sem perder
a noção do que ora há

presente sempre é que é
a realidade maior
traçar passos para andar
sentir a vida pulsar
no lugar onde ele está

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...