sábado, julho 26, 2008

o ceguinho cambaleante

O ceguinho cambaleante
tacteando
busca em ziguezague
a escada rolante

alguém o vê naquele apuro
próprio de quem sente muito
mas não vê
nada...

estende-lhe a mão
o braço
e em jeito de união
caminham juntos

dádiva e humildade de mãos dadas

enquanto os observo
primeiro subindo
depois desaparecendo
no cimo da escada rolante

penso na falta que faz
a humildade a todos nós
a aceitação
a confiança numa mão

porque o outro é
em troca de tanto pormenor
dar receber ensinar ajudar
uma possibilidade maior
por descobrir

um livro aberto de partilha
a quem o quer abrir

sexta-feira, julho 25, 2008

espreito distraído

Espreito distraído
(que é o mesmo que dizer
a quem me vê
que não estou a ver)
o fino dos teus seios
que se escondem
na peça curta e branca
cintada bordada
que os encobre e os descobre
ao mesmo tempo

o meu céu de hoje é ali
na textura quieta sossegada
cândida
arrepiada só de a ver
de tão lisa
apetecida que é

no tacto contacto
redondo macio
de carícia que pode começar
na parte mais visível
do teu seio
e entrar por aí

o detalhe instantâneo
em disfarce grosseiro
que levei dali
do espaço público

foi apenas prelúdio
de uma febre loucura
de te abraçar
de te esmagar

que causou
mais embaraço estardalhaço
a imaginar
no meu íntimo e solitário
quarto

do que quando disfarçava
no público espaço em que te via
a causa que o teu seio era
de um grande inchaço
que sentia

segunda-feira, julho 21, 2008

raparigas no wc

Temas sexuais sempre foram
são serão
pelo medo oculto
proibição
tema de risota ou contenção

nestes tempos de abertura
os tabus ficaram
menos em clausura
mas são demasiadas gerações
séculos demais a encobrir
o encoberto

apesar de tudo ter mudado
um episódio simples faz pensar
se algo mudou
ou se está tudo por mudar

numa multinacional
em laboração
uma rapariga bonita
sensual
sentiu-se mal
e foi chorar a dor
no espaço recatado wc

uma amiga percebendo
o mal-estar
juntou-se a ela
no recatado espaço
para partilhar

o tempo passou
a linda rapariga saíu a chorar
a outra que entrou
abraçava-se a ela
a amparar

wc em "open space"
colegas de trabalho a observar

tudo está a evoluir
mas a má língua
sobre o que dizemos
ser natural
não deixou de existir

mesmo um simples mal entendido
lágrimas e dor
casual...

não é fácil de explicar
para duas raparigas
no "open space"
de uma multinacional!!!

mau génio

O sangue a ferver
a tensão a subir
só quer falar
para não ouvir

sem ponderação
a pele a sangrar
vazio o olhar
louco zangado
o tempo a faltar

que silêncio e que nada
em tanta energia
acumulada!

uma torrente de voz
enche o espaço em redor
onde ninguém
tem espaço para dar

aquele homem que fala
que berra
que pede consolo
um abraço
daquela maneira
só recebe pena dó
e espalha cansaço

que humildade que falta
no orgulho instalado
no mimo perdido
na fartura de nada!

Mulher reprimida


Porque me agarra a angústia de outro tempo
me refugio nela?
nas caras frias obtusas
pesadelo de outra idade?
guardo esse nada
essa carência total de tudo
que vi
como a abundância maior que tive

porque cometo tal loucura?
onde guardo em mim
o medo e o respeito
por fantasmas que me oprimem?
pior
porque espalho este nada à minha volta
como se tudo o que é bom
moderno aberto
me assustasse?

ser saudável ter prazer
gostar
tocar a vida senti-la
será pecado?

freiras contidas davam conselhos
mas que sabia eu
que sei das suas vidas?
puras castas
mais filhas de Deus que eu?

ou o casal composto
que ao Domingo
se mostrava exemplar
na missa?
que sabia eu
que sei das suas vidas?

que me fez copiar fachadas
exemplares
de vidas deprimidas?

porque não saio de vez
com humildade
verdade
deste pesadelo inchado
que me faz tanto mal?

sexta-feira, julho 18, 2008

que graça cativante

Que graça cativante
nos adornos pequeninos
tantos
com que semeias teus espaços
do corpinho

por instantes
lembrei o tempo distante
do feminino mãe irmãs
as rendas os bordados
as mantas de retalhos
os trapos variados das bonecas
o amor de mãos suaves
brancas
que acompanhei de tenra idade

eram quentes e longas as tardes de Verão
naquele sossego
o futuro nem existia então
porque ficava tão longe
que não cabia
nas nossas cabeças pouca idade

para elas só existia
ou quase
o espaço circundante
o pasmo
com qualquer coisa que mexesse
ou se fizesse

se agora pudesse
menina que passas
com toda essa graça cativante
pedia-te que me mostrasses
cada pormenor
do teu engenho em arranjar-te

manta de retalhos
conjugação perfeita
dos artefactos
coberta descoberta
composta descomposta

que boneca que és
menina que passas
da cabeça aos pés

corpo ferido

O estômago apertado
a ideia em revolta
o corpo dorido
ferido sentido

o dono está longe
imagina viaja
não se importa com ele

é abandono que sente

que discrepância se gera
no stress que existe
entre o longe e o perto
realidade aqui
o sonho acolá

tronco morada de nós
o corpo
que voltas mais voltas
que exigência pedida
ao longo da vida
e nunca frustrada!

corpo ferida sangrando
ele sofre
com o pensamento longe

qual criança intuitiva
dada divertida
que é posta de lado
deixada abandonada

trocada

por um sonho qualquer
que nunca fez nada!

corpo errado em mente certa

Ombros largos
peito forte
músculos de aço
quis Deus que este homem fosse
um corpo errado em mente certa

mente mulher
coração solidário com ela
pensa e sente feminino
suave brando
voz aguda a condizer

um corpo errado
possuído de mulher!

a vizinhança que o vê
reage como pode
como faz ao que é diferente
espreita comenta lamenta
aceita rejeita

uns mal disfarçam a chacota
o nojo até
outros ao invés
sentem-se agradados
surpresos sorridentes
com o ser bizarro
que o vizinho é

é como ter no bairro
à mão de semear
a delgada frágil bailarina
de uma peça de Tchaikowsky
em versão de músculos de aço

um espectáculo diário
que dá um brilho controverso
ao bairro
e para quem o vê
sem comentários
o torna mais agradado até!

sexta-feira, julho 11, 2008

Portugal mudado


Que silêncio absurdo depois daquele email
a solidão dói sobretudo do lado de lá do atlântico
um país ganho pela aventura
o futuro sonhado de outra altura
um país perdido nessa idade
por falta de horizonte
oportunidade

estendi-te a mão escrevi-te
respondendo a um entendimento
que fiz da tua situação
que vagamente me contavas

não eram aquelas palavras as que querias
falar-te em felicidade vida boa
do sítio atrasado que deixaste
da aldeia pequenina que virou cidade
progresso
modernidade

chora o grande quando o pequeno cresce!

e tu na rica Califórnia
nunca pensaste
que pode haver mais felicidade
aqui em Lisboa cidade
que em Los Angeles city

só posso entender esse silêncio
pelo choque
das palavras "triste fado"
que esperavas
e não tiveste

creio que calaste
por o sonho americano
que te vestiu o ego pela nacionalidade
que te deu uma certa superioridade
já não ter eco
no meu país europeu
que é afinal por nascimento o teu
e já não conheces!

Senhor doutor magistrado da nação

Senhor doutor magistrado da nação
íntegro no trato
mestre no parecer
para ninguém o ver
por dentro

quis a profissão que tem
não a mulher que o sustém

daí o permanente embaraço
que o faz encolerizar-se
enervar-se
porque ela (a mulher)
na sua simplicidade
tudo o que faz o faz com charme
natural

previra o doutor erradamente
antes de casar
que a sua simplicidade
(a da mulher)
bastaria para afastar qualquer rival

por não ser assim
e provocar até desejo sexual
faz mossa no ciumento homem
registo de valores antiquados
que o levam a usar
métodos arcaicos de controlar

em casa
quando periga o desempenho doutoral
põe logo em sentido
mulher e filhos
também algum outro familiar
de visita ao lar

logo faz constar recolhimento
no seu retiro de trabalho
lendo livros complexos
ouvindo música clássica
para impressionar

quando está ausente
deixa a família a ler
livros que insiste em acumular
na sua biblioteca lar

se a leitura não foi cumprida
põe o seu mau génio e berra

tal ambiente triste sem prazer
não tem levado a nada
nem a ele
nem aos filhos
nem à mulher

é ele a aparecer a vida a desaparecer!

coitado do doutor
um dia destes
já rebentava
entre os tribunais os livros
a música clássica
e sei lá que mais

teve de desopilar para não endoidar

fê-lo em triste e má figura
suplicante degradante mesmo
calças desabotoadas na braguilha
olhos esbugalhados
camisa engelhada e retorcida

a vítima...
coitadita!

uma empregada doméstica contratada
numa fugida dele a casa
às escondidas
à hora da ida da família à missa

sexta-feira, julho 04, 2008

vivi existiu foi


Não tem consciência a dor que sinto
é mais preenchimento de vazio
confundir o passado do tempo
em um qualquer recanto
do meu conhecimento

vivi existiu foi

e a dor que sinto
não é mais
que o ampliar da confusão
de um tempo
rebobinar de uma qualidade exagerada
de algo que guardei
e que não tem mais lugar aqui

só que era veloz o horizonte que fugia
era esquecido e bom o espaço
que ficava
idade de mim
sentida arrebatada
que não esqueci

daí a obsessão neste acordar cansado
solitária dor
de ferida que ainda sangra
sem sangrar

vivi existiu passou
aceito a nostalgia em que estou

com um sorriso triste e molhado
passeio os olhos pelos contornos
do mundo aconchegado
próximo
amigo
que me acompanha aqui
no meu espaço tempo

e tal como penso
este é o tempo este o lugar
que mais sinto
que mais agradeço

Eu's tão nus

Olho em meu redor
e percebo com estranheza
este desmando
esta fuga
sem o necessário equilíbrio

carapaça dos que podem
nela por safiras e brilhantes
tema de capa de revistas
colunáveis pelos jornais

milhões esbanjados
outros tantos por esbanjar

por outro lado
com outros argumentos
seres de luz
ou seres sem luz
refugiam-se em guetos
ajuntamentos reuniões
ou perdições

estes talvez por pouco terem
ou nada terem
ao invés dos outros
falam muito em troca
em partilharem

Eu's tão nus
Egos tão vestidos
vá-se lá entender porquê
o desequilíbrio!

falavas eu ouvia

Falavas eu ouvia
enquanto recebia nos ouvidos
as coisas que dizias
os meus olhos passeavam distraidos
em ti
sem tu dares conta

que é o mesmo que dizer
lá conta davas
só que o fazias
de uma forma superior e educada

nestas coisas de olhar um corpo esbelto
um homem perde toda a educação
diria
não tem educação nenhuma

serve-se no impulso da intenção
da moral e bons costumes
de restos de sermões e catequese
de palavras sensatas de sua mãe

e pouco mais...

para não mostrar com irracionalidade
animal
o desejo que lhe vai na alma
e o tesão que tem

carência extrema


Sinto a carência extrema
da migalha
o não importar o que vai acontecer
para não sentir o abandono

nem protecção nem afecto
só aquela sensação
de depender mesmo
de um amargo osso
para sobrevivência

e arrisco insisto
nestas ondas da vida
com amargos de boca
extrema carência
que é repasto dos outros

mundo cão de dependência
enquanto não há consciência...
quando ela chega
é preciso vontade
para recuperar de tanta indecência

sem essa vontade
cresce a impossibilidade
de dar a volta a tempo
a tanto abuso
a tanto ultraje

sinto o submundo
que existe
na extrema carência
do afecto migalha

tão duro de cabeça

Tão duro de cabeça
ideias feitas
dedo apontado
a tudo o que é diferente

que espaço existe em ti
que progredir
que lugar para a diferença
a inovação?

o mundo meu amigo
anda cá com uma velocidade!
que já não dá fazer
como dantes

não chega!

falar de contenção pobreza
não acrescenta riqueza!

há quem precise pintar
um mundo negro
de caos
tristeza
para a sua mediocridade brilhar

mas está tudo tão mais inteligente
em todo o lado
que só manipulação
pode justificar
o séquito de gente
que consegues enganar

obra grande


A obra grande
é que põe o povo adiante
fica o que faz
e para o fazer
tem que ousar
perder o medo

qualquer humano
que se preze
chora o que não faz
não o que faz
e se é bom o seu historial
se esteve lá
se viu
se realizou...

tem mais estima pessoal
mais etatuto interior
e exterior

assim é com o país

não chega consertar o velho
remendar
desgasta cansa
cria-se uma rotina
que nem actualiza
nem anima

é como os muros
das pequenas propriedades
que estão sempre a cair
fruto de velhas mentalidades

pois em vez de os ajeitar
compor as pedras
melhor ajudá-los a cair
libertando assim aqueles baldios

quem sabe não encontrem assim
maior felicidade
em mãos diferentes
que cuidem deles em outra idade?

recorde desportivo

Olhava na tv algo bem melhor
do que habitualmente se vê
notícias assombrosas
justiça por fazer
aos poderosos
a vida surrealista de minorias aberrantes
conversa de xaxa
de telenovelas irritantes
uma percentagem de mau gosto com fartura

desta vez fiquei a ver
e havia
um desafio a ultrapassar
o recorde do salto feminino em altura

uma rapariga de um qualquer país
alta corpo alongado
leveza de gazela
perante uma fasquia
tentava fazer ali pela primeira vez
o que até então
ninguém fizera

para mim era como ir à Lua ou a Marte
um feito inédito
mas logo percebi
que o canal que via
era daqueles que ninguém vê

e mais uma vez
quer pela grandeza que o desporto encerra
quer pelo feito em si
quer pela beleza dela
me interroguei sobre os critérios
da tv?!

o manguito do ex-pobre (ou o não irlandês)


Às vezes o pobre é mal agradecido
usa
abusa
de quem lhe deu a mão
sustento para si
e para os seus

vai comendo
vai bebendo engordando
depois amealhando
enriquecendo

que um belo dia
quando olha para trás
e vê que já tem que ajudar
quem o ajudou
colaborar...

talvez por falta de hombridade
educação
ou até estaleca de valores
para ser solidário

quando se sente ameaçado
para dar algo de si
a quem já lhe deu tanto...

diz que não
faz um manguito!

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Livro "Mais poemas que vos deixo"

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