sábado, junho 28, 2008

em descobrimento do teu corpo

Entendi em descobrimento do teu corpo
que com atenção concentração
ausência de tabus
essa descoberta resultaria
em pleno

assim fiz
tocava as partes mais tocáveis
era normal a sensação
o hábito delas já lhes dera
reacções fluentes
sentiam ondulavam floresciam
mas nada de especial acontecia

avançava então entre o medo e a descoberta
lá ia
bruma após bruma
em mar revolto

meu deus como era grande o desafio
para mim
navegador por conta própria
em sítios que sentia serem virgens
sensíveis
com tudo por achar

ondas cada vez mais alterosas
tempestades
a minha mão era um barco pequenino
o teu corpo uma Deusa enorme
terra prometida
um continente inteiro onde
receoso ainda
finalmente fiquei

pelos sabores novos
pelas florestas densas
pelos Everestes que encontrei
tão perto do céu

conquistei fui conquistado
criei devagarinho
no teu corpo curvilíneo
mapa mundo cor de mar
o meu próprio império dos sentidos
onde só havia medo dantes

sexta-feira, junho 27, 2008

havia mas já não há

Havia mas já não há

agora fazer o quê?
aliviar a dor em protesto
mordaz
segurando um cartaz
chateando os outros?

a barba crescendo
o frio aumentando
esperando o quê?

aparecerá o que havia
se já não há?

melhor pousar o cartaz
ir a algum hospital
mas como estou
revoltado de raiva
incrédulo e só
que importa o quê?

prefiro morrer
desafiar a fome
talvez apareça outro mais outro
já seremos três
a enfrentar a dor

mas cá dentro uma voz pergunta:

quem lucra o quê?
com um orgulho parvo
ostentar miséria
quando é de lutar?

quando nos falta
será de parar?
ficar no ontem
que foi e não é?

ou será que é
o tempo de ver
erguer pedir
para renovar
e voltar a ter?

um sonho de antes


Construí um castelo
tal e qual como aprendi
lá meti tudo o que era suposto lá meter

motiva a construção
fica vistoso mostrar obra
dar alicerces de pedra
ao êxito que cresce

somos admirados pelos outros
pela obra em si
pelo fausto

depois os anos passam
a sabedoria cresce
as pedras já ganharam musgo
perderam brilho
outros fizeram já
castelos semelhantes
mas mais actualizados

fica-se logo ultrapassado

o meu castelo agora
serve de pouco
com as ameias de vigia
os fundos fossos
as grossas portas
o paiol de pólvora
as pontes levadiças

perante a novidade
da arma teleguiada inteligente
certeira
saber que uma delas bastaria
para arrasar a idade média
de um sonho de antes...

só de pensar nisso desanima-se!

pessoas e animais de estimação


Que fácil cuidar de um animal de estimação
dá-se-lhe o que ele quer
atenção
uma ração
e já está
tudo acontece natural
tão sem idade
dúvidas magoadas
medos recalcados

há apenas sorriso
uma mão
dádiva e gratidão

que difícil fazer isto com humanos
labirintos insondáveis
por detrás de tudo
do espaço pessoal
do toque
das palpitações que aceleram
desacertam com a proximidade

que máguas que dores
que calvários anteriores
nos fizeram isto?

que vimos antes acontecer
ou experimentámos
que nos perturba agora?
que modelos que valores
põem toda a gente a fugir
de toda a gente?

porque não perguntamos
quando não sabemos
ou não entendemos?

porque não soltamos o lado frágil
e como qualquer criança
qualquer gato
não mostramos o que somos?

domingo, junho 22, 2008

o sonho é grande

Canso-me a ponto de sofrer
com não possibilidades
ou com possibilidades reduzidas
situações
que eu próprio crio
da minha exclusiva responsabilidade

afectos sem qualquer viabilidade
dores aumentadas
que ocorreram no passado
queixas infundadas
hesitações de sobra
no momento que corre
e que decide
o passo próximo

com tanta carga acumulada
por resolver
com a certeza abalada
na indecisão
é inevitável o refúgio na quimera
no convencimento estéril
sem risco nem fundamento
em fogachos de lucidez maior

servem-me de pouco
as taças brandidas a espaços
o entendimento sensível das coisas
o amor que se quer dar quando eu o chamo
porque quando chega o pormenor
a coisa fácil
o arranjar-se tudo para mim
como eu pedi
não sei o que fazer

antes de falar já a voz sumiu
o entendimento foi-se
como que o sonho vive dentro de mim
é grande
mas por ser tão grande
prefiro acordar quando aparece

fico pequeno de mais
cobarde mesmo
para o enfrentar

sábado, junho 21, 2008

preferência e paixão


Todos temos preferências
inclinações
muitas vezes sem se saber porquê
nem se encontrar o motivo especial
que lhes dá ênfase
e as torna naturais

assim acontece com pessoas
disciplinas livros cores
com qualquer escolha habitual
grande ou pequena
que fazemos

mas não as confundir com fixações
paixão posse assolapada
que não só devora oprime
como não deixa nada
para ninguém

aqui quando o peito dói
e a falta destrói
há só um buraco de uma agulha
muito estreito
desespero
vontade de morrer
mais nada

posse paixão
necessidade de ter a cem por cento
algo alguém...
nada tem a ver
com preferências naturais

por isso há que entender bem
a diferença
entre uma forte preferência
e uma paixão!

porque...

"gato escaldado da água fria tem medo"

aldeia deserta


Se me acomodar a este sítio
inóspito duro desprezível
sem fortuna no horizonte
ao cheiro nauseabundo dos casebres
à vidita cheia de nada
preto e branco sem sonho colorido
aonde chega a minha vida?
a de meus filhos?

difícil fazer alguma coisa
mudar custa
mas não mudar?
será forçoso aceitar o inaceitável
o osso duro que ninguém quer já roer?

quem sonha pouco não vai longe
e aves de capoeira nunca hão-de voar!

neste sítio fechado
o corpo fica trôpego cansado
um galo obsceno mandão desactualizado
uma vida de clausura de prisão
assegurada
a troco de nada

nem liberdade
nem aventura
nem futuro de fartura

vale a seu favor
destas aves com fronteiras curtas
em comparação com outras aves
(as que voam)
uma vida mais segura
protegida

no resto
são só prisioneiros de um tempo
em que tudo acontece
à espera de uma morte qualquer

sexta-feira, junho 20, 2008

num lugar comum

Num lugar comum
onde servem bebidas refeições
parece que ninguém dá por mim
eu preocupo-me com isso
penso que há à vontade nos outros
que me falta à vontade a mim

mesmo assim
sem me ligarem
sinto-me olhado analisado
da cabeça aos pés
o que no mínimo é caricato!

disfarço então meu embaraço
tento compreender
a sensação
observar-me

mas não resolvo nada
nem ganho em descontracção
porque tanto me perturba muito olhar
como olhar nenhum

e quanto mais medito
e me inquieto com a situação
mais o problema subsiste

só me ocorre vagamente
que uma parte da perturbação
vem de sensações mecanizadas
nascidas nos sentidos

quais memórias cruzadas
de uma pretensa perfeição
alojada na mente
que coloca o EU de mim
no julgamento dos outros

assim
em vez de descontrair
estar simplesmente onde estou
mais nada
fico complexo sem saber porquê
num simples lugar comum!

sábado, junho 14, 2008

Portugal ontem e hoje

Um triângulo de azul em baixo e em cima
continente madeira porto santo
as ilhas dos açores
onde só falta navegar
ver gente
novas naus
que continuem hoje
o sonho de antes

povoe-se novamente esse espaço
não há triste fado nenhum estar aqui
porque é exactamente aqui
o lugar onde tudo começa e tudo termina

os portugueses anteciparam o futuro
quando descobriram continentes
e ao descobrir se misturaram

levem-se outra vez os ribeiros pequeninos
o sabor a vinho
o morno das planuras
a brandura das alturas
a paz
a alma de uma fragilidade lusa
que é quiçá
o tempero o equilíbrio a sensatez
que falta ao mundo

é defeito não termos uma personalidade forte
que imponha costumes hábitos nossos?
ou é a força maior que engrandece Portugal
tal sensatez
que onde chega cada português
tem o condão
o talento de ser como os que estão
nem mais nem menos

a um povo como nós ninguém faz guerra
a não ser alguém que sem saber porquê
tem que a fazer

e cada português tenho a certeza
no coração vermelho sangue
bom quente frágil
aceita que Portugal está
onde está cada português

e o encanto disso
é que o faz ingenuamente
como se Lisboa pudesse ser Macau
Luanda Paris Bissau Dili Maputo
Praia
o Rio de Janeiro...

como se realidade e ficção
importassem pouco
quando a alma é grande!

custa sempre começar

Custa sempre começar
arrancar para o novo
a novidade
o lado de lá do sossegado
deixar os limites conhecidos do sofá
do colo ninho de que abarcamos
os contornos

mas quando partimos
e descobrimos
as coisas que há do lado de lá
por ver
por experimentar
é fantástica a mudança que se dá
sem se dar conta!

esquece-se logo a fofura do sofá
a segurança boa do ninho que deixámos

quanto mundo interessante belo
fonte inesgotável de diferença
quanto carinho amor dispersos
abrindo os braços
olhos atenções
a forasteiros corações

que logo depois
é já o regresso que custa

porque o ninho é sítio bom
mãe atenta disponível dada
mas o desconhecido revelado
é tão fascinante que deixá-lo é já
nostalgia da distância
impossibilidade de abraçar tanto

e a única saída que encontro
quando me acontece isto
é valorizar ambos
o voo e o ninho
derramando lágrimas de raiva
onde e quando posso
parafraseando sempre o poeta

"para tanto amor tão curta a vida"

domingo, junho 08, 2008

que ansiedade amigo!

Que chorrilho de palavras enviesadas
tresloucadas
em que se afunda e se alimenta
a ansiedade

assuntos conflituosos
coisas loisas
despique permanente
pele ficando em sangue
rubra no esforço

raiva ciúme
perda ilusões frustradas
que em parada resposta
levam ao desgaste abrupto
angústia vulcão ofensivo
defensivo acusatório

amigo tanto disparo inútil
em volta do enfoque
coisa séria dorida sangrando
que está lá no fundo apertado
e que não sai

parece cada momento uma guerra
cada som um uivo
munido de metralha
cada segundo um fogo
sopro de dragão ferido
rosto crispado azedo
preparando sempre a melhor estratégia
de ataque defensivo

custa o medo de perder
custa ouvir a razão dos outros

que urgente amigo
um pouco de ar
um intervalo
um suspiro breve
um AI que seja
uma lágrima vertida
um aconchego que acalme o coração

uma mão
que pouse nesse corpo em brasa
que lhe cale a língua
lhe dê paz
e lhe sossegue a alma

agora e aqui

Tenho que estar bem aqui
para ir ali
lugar tronco
força de ser e de estar
a minha independência

só consigo sentir a liberdade
na firmeza do corpo
na atitude que tomo
em cada escolha

este é o tempo
este é o lugar

claro que a história conta
é importante
dá-nos as coordenadas
de onde estamos

mas viver ou morrer
gostar ou não gostar
olhar o que tenho à minha frente
só o posso sentir
agora e aqui

não o que ficou para trás
ou o que vem aí!

sábado, junho 07, 2008

nem sempre céu...

Estou na minha paz
feita de síntese do caos anterior
resultado da necessidade
de equilibrar palavras que feriram
atalhos que mataram
tarefas que esgotaram
ilusões que tiveram um tempo e acabaram

recrio este oásis espontâneo
com a respiração conscientemente apaziguada

fica o corpo sossegado
porque lentamente
a informação que armazenei na mente
fica desligada
adiada mesmo
assim como ficar conscientemente
sem consciência

mesmo sem adormecer
o efeito é tónico como o sono

depois voltará o desequilíbrio
com o fim do sossego recreado
pelo mergulho obrigatório na vida
dia a dia desafiado stressado

porque sei que a vida é isto
céu e inferno
paz e caos
ao mesmo tempo
e porque aceito isso...

sempre que posso
tento encontrar o equilíbrio
no intervalo dos dois

nem sempre céu
nem sempre inferno!

se fosse pintor

Se fosse pintor
e se quisesse
expressar meu sentimento agora
poria na tela uns ouvidos enormes
junto deles um rosto
sereno
desenhado mais pequeno

em relevo igualmente
as gotículas presentes intensas
vibrando aumentadas
reduzindo quase a nada
os outros orgãos dos sentidos

água em cascata
a brotar fina mas intensa

em redor
apenas contornos esbatidos
de fluxos e refluxos de seres vivos
translúcidos semi-visíveis
inofensivos
por tão fluidos
na pouca perceptibilidade
da vista e da mente introspectiva

acrescentaria
alguns seres inertes do local
em quietude sepulcral
dimensão fixa
entregues naturalmente
ao seu destino de objectos

mas o que ressaltaria mesmo
seria um rosto brando
interior
tão presente quanto ausente
tão acordado quão dormente
com a capacidade de ampliar
o caminho menos percorrido
"o ouvido"
num local ultra-moderno
requintado
onde a mente e a vista
usualmente imperam

casulo dourado


As pessoas que passavam
não tinham a importância física
que vulgarmente têm no local
os olhos tensos
o barulho apressado dos passos

eram apenas movimento normal
apercebido em som global
difuso

eu envolto em casulo dourado
imaginado
imaginando uma chuva de fios prateados
caindo!

estava entre o ensonado e o idílico
um sossego absoluto
fora das preocupações usuais

um espaço de deuses num sítio atrapalhado
frenético confuso
pela presença do tráfego do metro

seria vulgar subterrâneo
com os cheiros e ruídos característicos
húmido citadino suburbano
um lugar com sensações banais

se não fora o meu interior
que eu quase recreava sem querer
e elevava tudo em redor
a um patamar sublime

era brincadeira de leitura
o que eu fazia
aquele exercício do casulo dourado
mas a intensidade que sentia
vertia êxtase a mais que o esperado

que me interrogo:

seria o que eu senti
um cheirinho
às tais dimensões energéticas maiores
que se diz existirem por aí?

segunda-feira, junho 02, 2008

a vida gosta que se goste dela


Há sempre que haver alguma coisa
ideias projectos fantasias
uma qualquer loucura
que puxe pela vida
que faça crepitar a chama
o fogo que ela é

depois é pôr lenha na fogueira
alimentá-la
sentir o calor bom
que faz ela ser tão bela

pôr-lhe dança desejo grito
qual elixir de tonterias
desafio
em corpo e alma transpirando

papoilas rosas tulipas
um jardim de flores
com gente sem idade
de mãos dadas
a verter saborosos ingredientes
florindo e dando mel

com abelhas esvoaçando em zumbido
debaixo do céu
tocando e bebendo aquele jardim

dá para entender
que a vida gosta
que se goste dela
e só se irá embora
se a deixarmos ir

se ficarmos juntos
de mãos dadas
em fluida beleza e sintonia
em alegria e ritmo naturais
rindo para ela

A VIDA
não partirá jamais

fartura sem gratidão

O ser está mais completo
quando centrado
no lugar onde está
concentrado
no que faz

ao invés
quando a dispersão se instala
o oposto acontece
como que a energia se perde
de espalhada que está

o ser fica fraco
pouco
perdido fora de si
com um aspecto dorido
seco magro vulnerável
sem o enquadramento
da força natural
do seu amplexo

fica em tudo parecido
ao sentimento depressivo
dos lugares do planeta
extremo oposto a este aqui
ausência de ter
vazio deserto de nada para ver
onde se passa fome
e só se morre

como que tanta fartura de ver
lhe faça perder o sentido
de presença em si
que lhe faz falta
para se sentir uno grato
e não desfeito
em não sei quantos mil pedaços
por aí

fartura a abarrotar sem um sentido
ar enfastiado
é caso para dizer como o ditado diz:

"dá Deus as nozes a quem não tem dentes"

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

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