sexta-feira, janeiro 25, 2008

imagem amor que cura

Tento esquecer o almoço que comi
de qualidade breve e rasca
num restaurante onde sem querer fui ter

então recorro a ti
real
mas em imaginação

tento inspirar-te na respiração
como coisa boa que és e de que gosto
espero aliviar assim a digestão difícil
o queixar espasmódico do intestino

absorvo o teu amplexo divinal
corpo em sorriso olhar brilhante
e deixo entrar

entras no teu tamanho natural
que para mim é o ideal
e é como sentir saúde lufada de ar
banho de mar
cada parte de ti tão encaixada

só paro de imaginar
quando ficas em bicos de pés
e os teus lábios olhos face cabeleira solta
me completam
se fundem no meu rosto

não sei momentaneamente quem sou
se eu se tu num instante breve
quase entro em transe
na fusão perfeita
há um efeito choque eléctrico
susto
próprio do desatino bom que por o ser acaba

a verdade é que o corpo fica aliviado
e passa o incómodo do tubo digestivo
irritado pelo almoço rasca

terça-feira, janeiro 22, 2008

última ilusão

Um dia de chuva e frio
pode ser o fim do estio
do sangue quente da emoção
posta numa ilusão

cada gota de chuva que tomba
no meu corpo despido de folhas
pode indiciar um encolher de braços
um arrefecer da alma
pode levar aquela ponta de loucura a desistir

folhas caídas das árvores do meu caminho
onde estão as flores
os cheiros
os horizontes que me faziam partir?

não quero ficar indiferente frio
como um arrepio de inverno
mas hoje
talvez pela primeira vez
fico quase indiferente
quase ausente
quase capaz de sucumbir
sem reagir ao frio exterior
que acentua o frio interior

solidão ou amor demais
que me leva a tal desilusão?

dá-me a tua mão longínqua
ponte levadiça que não pousará jamais
põe-na no meu peito
última ilusão
fio condutor de calor de outro tempo

faz-me sentir com a tua mão
algum conforto no vazio interior que sinto
hoje

segunda-feira, janeiro 21, 2008

obra grande enobrece


Obra grande enobrece
a quem a intenta ousa
a quem nasce depois
e a contempla

fica conhecida apreciada
ganha vida é procurada
dificilmente o tempo a esquece

a obra mais pequena
o arranjar de um telhado
a limpeza de um espaço
o acesso facilitado
à escola
a cuidados básicos

são a sementeira
de qualquer boa colheita

seguramente
se ambas sabiamente misturadas
como se de um saudável cozinhado
se tratasse

obra grande e mais pequena

engrandecerão a qualidade
do que será vivido
pela humanidade
num futuro próximo

sábado, janeiro 19, 2008

jardineiro coração de poeta


Tão macia suave
flor de um quintal onde cabias
onde te poria quiçá no sítio principal

eu seria o jardineiro em botas velhas
cara rude
maneiras desajeitadas
num coração de poeta

porque eras flor não me verias
nos trapos
na falta de cultura
no sentimento sem convicção
de merecer-te
na falta de dinheiro e de luxos
para oferecer-te

poderia olhar cuidar de ti
tocar-te
dar-te o que tinha
água amor
toda a atenção que se dá à flor
mais querida mais bonita

luz esplendor do sol reflectida
no amor natural dos olhos
no caule corpo balouçante e doce
em dança musical

vento do norte
por favor
pergunta a quem me conhece
porquê com tanto amor
por esta flor
me sinto fraco e forte
ao mesmo tempo

mundo de tantas opções

Às vezes fico perplexo indeciso
mundo de tantas opções
mas faço uma pausa medito
e o vazio que sinto nas hesitações
apenas mostra a faceta
do lado que vemos que é não
e não o lado que é sim

bebo o café da manhã
e penso de mim para mim
"o mundo não é limitado
somos nós que o limitamos"

enredamos apequenamos
em herdados preconceitos
limiares baixos de cultura
um saber incompleto

fica-se assim baralhado
lutas que são e não são
outras que deveriam ser
fechados nas soluções

nem se dá conta
em cada fado falhado
da essência que vivemos
de cada dia que temos

limitações que emprestamos
à vida conceito errado
nem sequer a apreciamos
por oposto ao triste fado

terça-feira, janeiro 15, 2008

de que serve...

De que serve o amor
se se andar
sempre a começar

de que serve sentir
se não se partilhar

de que serve a saudade
se a esperança
murchar

de que serve desejar
querer
se nunca se avançar

de que serve um ideal
um sonho
se nada se fizer
para o concretizar

é como semear
plantar
sem nunca ter frutos
colher

imobilidade no sofá

Muita coisa passa pela cabeça
muita tralha
e nada de concreto se desenha

inverno idade sexo
o menino Jesus sem pai biológico
paz violência
meninas famosas
prostituição
políticos babosos
bola corrupção

que posso considerar-me
um produto acabado
alienado
pela televisão

para além dos olhos
também no pensamento
entram imagens
de todo o império mediático
qual loucura do inconsciente
que come e cala e nem procura

ou se procura
fazendo zapping
já nem sabe o que é

depois em rodapé
mais sub-repticiamente
brota um corrupio de ordens do consciente

em tal quantidade

que a imobilidade
que por vezes sinto no sofá
diante da loucura da tv
balofa vazia oca

é a mesma que sinto agora
para fazer qualquer coisa de concreto
e dar para isso o passo certo

sexta-feira, janeiro 11, 2008

criança e sol

Noite ainda
as estrelas a brilhar a cintilar
o universo
a brisa matinal a aparecer
a luz a clarear
e o tecto aconchegado com estrelas
a desaparecer

um cordão umbilical cortado
em corpo a arfar
um instante um grito
uma nova vida a despontar

criança e sol um caminho a percorrer

espaço imenso sobe desce
aquece às vezes ou arrefece
até o cair da aurora acontecer

para o sol apesar de desaparecer
o ciclo recomeça sempre
e no dia seguinte
volta a nascer

pode ser que a vida
para cada menino a nascer
a crescer a envelhecer
seja como o sol
e que quando se esconde
desaparece
apenas vá como ele
dar uma volta qualquer

e depois torne a nascer

tu és as reticências...

Equivocar-me em ti não me faz mal
é como pôr reticências numa frase
ir voltar
depois continuar
custa menos a viver só por as ter
fica sempre qualquer coisa em aberto
por escrever
que motiva o passo próximo

tu és as reticências
do que fica por contar

ouro platina
um talvez bom
que mora nos teus lábios
no sim que só eles podem dizer

és sorte grande por sair
que só de se imaginar
que o dia certo vai chegar
se anima

admito o equívoco de ti
do bem que faz

por ser assim
aceito a frase por continuar
as reticências
o sim por pronunciar

tenho sempre algo em aberto
por escrever
que mora nos teus lábios

quinta-feira, janeiro 10, 2008

A dor do stress

Às vezes as costas
sinto-as doer
os olhos fogem receosos
do que é tanto e tanta a cor
que já nem conseguem ver

fixo então lugares estáticos
parados
um edifício um arbusto um telhado
uma torre de uma igreja
uma água furtada
qualquer coisa que me afaste
do incómodo disperso
movimento caótico

consigo quando o faço
aliviar a dor nas costas
sorrir até da ousadia que é
deixar de ligar ao que mexe
para me dedicar o quanto posso
ao inerte
abandonado
ao que toda a gente esquece

claro que é só uma ousadia
pouco o tempo em que o faço

porque logo andam
desandam cirandam
à frente atrás ao lado de mim
olhos ansiosos frenesim
que depressa desafiam
o hábito de monge que vesti
para abrandar a dor do stress
que nos põe histéricos
e nos enlouquece




Fiquem bem,

António Esperança Pereira


o ideal existe

Procuro não ficar de lado
e participo

até sinto a princípio entusiasmo
fico em contacto
leio livros acredito
sou mais um que sente falta
de um lugar com ideal
e lá vou eu

ali existe
entende-se aplica-se
chega um mais um mais outro
o grupo aumenta
o grito cresce

de tal maneira fica forte
que nos leva quase ao infinito
sítios reuniões conspirações
lutas abraçadas sem quartel

e é já no envolvimento
quando a voz deixa de ser a minha voz
o meu sentir deixa de ser o meu sentir
na multidão que marcha
no compacto onde me perco
que mais uma vez desisto

em mais uma tentativa de alinhar
ser solidário coerente
ter ideais
participar

e não consigo

domingo, janeiro 06, 2008

dança que dança

dança que dança
vai volta a vir
bebe e esquece
para quê pensar?

ali sabe a muito
é bom e anima
uma hora de céu
três horas de mim

lá fora arrefece
indiferença enlouquece
estátuas de cera
de costas voltadas
relações cansadas

que é daquele sangue
sabor a mel
do quente dos corpos
dos lábios abertos
das línguas molhadas

que é do convite
que em ânsia se solta
e o apetite
que remexe em revolta

transpira suspira
estremece aquece
transgride
ecoa em gritos
gemidos
em bênçãos de abraços
de ventre parido

e acaba no espaço
no dentro
no nada
no perto
no fruto grado
comido salgado
que sabe tão bem

dança que dança
vai volta a vir
bebe e esquece
para quê pensar?

inquieto inconformista

Inquieto inconformista
vida sonsa é enfadonha
toco harpa toco flauta
faço surf jogo à bola
ando sempre no limite
mesmo assim
nada consola

mulher uma mulher duas
filhos um de cada uma
já não sei o que fazer
que vida hei-de escolher

por um lado o conformismo
pelo outro a bagunçada
não é fácil o equilíbrio
numa mente atribulada

tento ser esclarecido
aprender com o que faço
mas somo gosto e desgosto
que me traz muito cansaço

cão fiel inconformado
soa a grande dualidade
ou se é fiel acomodado
ou se ladra inconformado

vou ladrando vou calando
vou assim equilibrando
deixo a harpa deixo a flauta
faço surf jogo à bola

Inverno deserto

Que posso fazer
se o eco resposta
do nome que chamo
já não responde
e o olhar que busco
já não me acolhe?

algazarra risinhos combinações
encontros fortuitos ou não
que sangue que jorra no mundo
em que estou
sem estar

passos que vejo passar
vidas inquietas promessas
futuro?
sim não talvez

e eu?
sonhei até aqui?
será que gelei?

inverno avalanche de neve
deserto espelhado
no triste dos olhos
no corpo agastado
no fogo perdido
na derrocada que espreita

na ameaça latente
da encosta que a pique
me mostra o abismo
da desistência

eu que sou forte
encaro esse abismo
como um aviso
mas com um sorriso
resisto
e não desisto

preciso de alguém

Amendoeiras em flor
quimeras brancas
vinhedos namoradas
nascer do sol da minha mocidade

que fazer agora
em que tudo fica pouco
nesta idade?

só recordações é cedo ainda
só rotina é condenação antecipada

preciso de alguém
que me ensine e me diga
que a viagem ainda dura
que há sol que há luar
orvalho amor
nas madrugadas do meu sentir

preciso repor no meu coração
pequeno agora
o coração grande
de outrora

encontrar uma nova dimensão
de felicidade

preciso de alguém
que me estenda a mão
com algum conforto
animação
e entre comigo no meu tempo

quarta-feira, janeiro 02, 2008

desconsola a ausência

Desconsola a ausência
a presença esgota-nos
sentimentos diferentes
ansiedade sempre

o longe é como a noite
incerteza pesadelo ou sonho
o perto é dia
certeza vida

paradoxalmente
a ausência aguça o apetite
ao invés da presença
que arrefece murcha
termina morre

espelho da fragilidade humana
complexa
ininteligível tantas vezes

ainda bem que temos ambição
e queremos mais do que o que temos
mas cultivar a ausência
desperdiçando a presença mais à mão

é como viver a fugir daqui
do nosso lugar
do que é nosso e do que temos

é como ir tonto a correr
atrás de um pássaro a voar
sem nunca o alcançar

em jeito de "rap"

Eu quero amar
quero dar
reunir
ter prazer em receber
mas não consigo

o que parece que vou sentindo
balanceando esforçando cantarolando
a rir para não chorar
é que a minha bateria
está por carregar

é urgente perguntar
procurar para saber
o que fazer
vou respirando andando
até correndo e dançando

mas quando paro
aí é que está
o problema sério

quero amar
quero dar
reunir
ter prazer em receber
mas não consigo

se eu soubesse

Se eu pudesse perceber
que muro escondido
que fronteira invisível
me limita

que me tira luz espaço ar
quando é suposto amar
divertir-me respirar
quando é suposto crescer
louvar

e só porque me esforço
e resisto até mais não poder
não definho até morrer

ah se eu soubesse o que me falta
aonde quero ir
que viagem encantada existe
e me incomoda
neste lugar
que o faz sentir parado
exausto seco de entusiasmo

se eu soubesse às vezes
tantas vezes
imensas vezes
o que quero de mim!

ou se ao menos eu soubesse
porquê
no meio de tanta "felicidade"
eu me sinto infeliz!

Pelo Natal


Pelo Natal
o lado fascinante
é ver tanta luzinha a brilhar
a escuridão o medo a noite
a recuar

quando as vejo em cada janelinha
parecem acenar a essa outra luz
abóbada gigante
inatingível
brilho de estrelas
firmamento

que em cada lugarzinho perdido
deste planeta
a que chamam Terra
há um pulsar
um querer
um sonho
um agradecer de cada vida
e um acreditar

oxalá Deus estivesse no lugar certo
para poder ver isto
e pudesse pessoalmente
levar a cada lar
a resposta ao sonho
das luzinhas a brilhar
em cada árvore de natal

e com o seu poder total
curasse a dor anichada em cada um
tanto mal
tanta ferida por sarar
e que às vezes dói tanto!

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...