Em ritual de festa
sons e movimentos em ninho reunidos
ar rosado de alma confortada
ontem finalmente
ao fim de tantos anos
descobri e amei meu corpo
ambos se abraçaram
corpo e dono
tão cúmplices tão sinceros
que mal continham os sorrisos e os choros
um encontro de almas gémeas
a quem apenas o entendimento das coisas separava
foi assim um arrepio
como quem de repente reconhece
a maravilha no difícil e no fácil
na aventura global
no esforço e no desgaste
no enfrentar sem desistência
a vitória e a derrota
em que juntos nos metemos
tantos quilómetros percorridos
tantas estradas sinuosas
tantos becos sem saída
por causa de mim
ontem entendi comovidamente
no abraço forte que nos demos
que o meu corpo
de todas as moradas possíveis
ele é seguramente
a morada certa
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