Nosso comentário:
Para compreender melhor a situação da Ucrânia de uma forma que considero acessível a qualquer leigo na matéria, aconselho vivamente este artigo de que, por motivos óbvios, publico apenas parte, mas que pode ser lido na íntegra no seguinte link:
http://www.esquerda.net/artigo/6-notas-para-compreender-o-que-acontece-na-ucr%C3%A2nia/31448
Basta copiar e colar o link no motor de busca.
Sendo um texto escrito por Alberto Sicília, com factos vividos "in loco", contactos, entrevistas, parece-me o mesmo desprovido de qualquer facciosismo, daí aconselhar a sua leitura.
Apenas acrescento uma nota pessoal que é a seguinte:
Perante os fenómenos violentos, muitos dos quais traduzidos em guerras fratricidas, que têm vindo a acontecer em diversos países nos últimos anos, e que são do conhecimento de todos, parece-me sinceramente em queda aquele período de paz que se seguiu à II Guerra Mundial.
A expectativa de que haveria uma paz e uma prosperidade duradoiras, com pezinhos para andar, um pouco com soluções para todos, volta a estar posta em causa.
Parece mais caminhar-se para uma propaganda em que não há soluções para ninguém...
Muito grave!
A luta hegemónica entre potências volta a sobrepor-se ao que pareciam ser ideais de paz, concórdia, progresso, uma nova ordem mundial saída dos escombros da II Guerra Mundial.
Parecia haver homens interessados em minorar quezílias entre povos, focos de tensão a nível mundial, diminuição das desigualdades gritantes, geradoras de violência.
Infelizmente, a realidade actual, na qual tem que incluir-se a Ucrânia, tema de hoje do blogue, é reveladora do que acabamos de dizer.
Um pouco por todo o mundo acentuam-se desigualdades, lutas pelo poder, nacionalismos perigosos, grupos armados, políticos corruptos. Em suma, vem aumentando gradualmente a violência, vê-se diminuída a confiança nos governantes.
Só pode dar bota.
No tocante à Europa, que a Ucrânia não sirva como barril de pólvora para um confronto alargado que a ninguém serviria, muito menos aos ucranianos e seus martirizados vizinhos.
Fiquem bem, um bom fim de semana
António Esperança Pereira
E aqui quem são os bons e quem são os maus?
Não creio que haja irmãs da caridade em nenhum dos dois lados. Os confrontos (pelo menos os que eu presenciei) foram entre bárbaros e bárbaros: linchamentos, balas reais, franco-atiradores.
Alguns meios de comunicação dizem que todos os manifestantes são de extrema direita, é verdade?
Há muitos militantes de extrema direita. Fotografei vários desses grupos para este outro post. Mas dizer que são a grande maioria parece-me erróneo. Basta descer à praça e falar com as pessoas.
Conheci bastantes manifestantes que estão simplesmente fartos dos partidos políticos, cansados da corrupção e da falta de oportunidades.
É certo que o número de moderados desceu notavelmente nos últimos dias: após verem morrer dezenas de pessoas, muita gente razoável preferiu não arriscar e voltou para casa.
Os que ficam sabem que se estão a arriscar a vida em cada momento. E claro, para isso os extremistas são mais fáceis de convencer. Um deles dizia-me anteontem: “Ou vêm com os tanques e passam-me por cima ou eu não me movo daqui até que Yanoukovich se demita”.
Alguns jovens universitários que conheci na praça há 3 semanas disseram-me que têm demasiado medo e que por isso se foram embora.
Isto é uma batalha entre a Rússia e o Ocidente?
No conflito da Ucrânia sobrepõem-se batalhas a vários níveis:
A) É um conflito entre a Rússia e o Ocidente pela sua influência na Ucrânia.
B) É um conflito nacional entre Yanoukovich e a oposição pelo controle do país.
C) É um conflito social entre os políticos e os cidadãos que não se sentem representados nem pelo presidente nem pela oposição.
D) É um conflito civil entre grupos da extrema direita nacionalista e a população de língua russa da zona leste do país e da região autónoma da Crimeia. (Este ponto está explicado de forma mais extensa no final deste outro post).
Quanto mais tempo passo na praça, quantos mais argumentos escuto, mais complicada me parece esta história.
NOTA: Continuo na praça de Kiev e durante todo o dia vou publicando no Twitter as cenas com que me deparo.
Artigo deAlberto SicíliaemKiev, publicado no blogue Principia Marsupia. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
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