quarta-feira, abril 28, 2010

Crise grassa


A crise aí à porta
propalada dissecada
parece que quão mais ela ameaça
grassa
mais contentes e ocupadas
estão as vozes da desgraça

parece que gostam
ricaços comentaristas
saudosistas
os tais economistas
que parece que sabem
e o seu saber está à vista…

os donos dos feudos
cá da praça
que “amam” a pátria
como ninguém
“salazarenta e sem vintém”

para eles sobressaírem!

aves de rapina
que esperam seu banquete
na carcaça de ossos
do Portugal que maldisseram

porque para tais aves
enraizadas noutra idade
só nau em tempestade
alta tormenta
lhes serve seus talentos
maliciosos

quanto pior melhor
mais cresce a razão envenenada
controlo de um povo
distraído desempregado
prostituído
eles a fonte de tal fado
por si tanto desejado

umbigo seu amado
o dos outros desprezado

e quem se lixa sempre
neste pérfido procedimento
de fazer que se faz e não fazer
de dizer que se sabe e não saber…

é Portugal
e os portugueses!

domingo, abril 25, 2010

Burro em extinção


Burro em vias de extinção
li nos jornais
notícia triste
para amigos de animais

ademais
para quem o dito é referência
histórico companheiro
agudiza-se a saudade
da anunciada extinção
eterna ausência

negócio de feirantes
camponeses e ciganos
transporte carga
há milhares de anos
carroça alforges
cantareiras
bengala que amparava
carregava
Jesus outras crianças
pais avós…

que escolhia veloz
o melhor caminho
no carreiro esburacado
desnivelado
selvagem perdido
enlameado

e que soltado sozinho
no distante prado
regressava a casa
inteirinho

a somar a isto
ele era montada
como que dava
a quem pouco tinha
ou nada
albarda composta
arreada
um trote galope
qual nobre cavalgada

sei que se tenta
reserva turismo
aqui e ali preservá-lo
oxalá se consiga salvá-lo
orelhas de abano
ronco estridente
memória sadia simples
bem ternurenta

que não fique humano
em substituição
porque “humano burro”
e “verdadeiro asno”
não têm comparação!

quinta-feira, abril 22, 2010

Felicidade


Razão é pensamento
mente
que em situação
de felicidade
paixão
desliga
quase pára
a actividade

para dar lugar ao sentimento

cessam palavras
caem arquétipos
no enrolar desenrolar
cada momento

o ego desaparece
há só rubor calor
um tactear celeste
um abraçar patético
perfeito por incerto
em espontâneo
gesto

és árvore rio
flor
pedra giesta
inverno estio

a vida ali
no espaço breve que lhe deste
na ausência de regras
habituais
que aprendeste

e enquanto a mente adormece
os se’s
os mas
os porquês
em doses anormais…

naturalmente acontece!

segunda-feira, abril 19, 2010

céu dos teus olhos


É sempre uma revelação
após cansaço
com dança estiramento
de peito e braços
encolher o passo
ficar parado deleitado
nuns olhos firmamento

os teus

com o tempo
penetrando mais e mais
no fundo das galáxias
amor em água
nas pupilas
que pedaço de êxtase
que acontece!

tolice passageira
de um exercício corriqueiro
com música silêncio dança
que nos perturba simplesmente
ou algo mais da vida
que ali se sente
e nos transcende?

dimensões rosa violeta
orgásmicos instantes
de quem quer amar
amar perdidamente
o mundo e toda a gente
e ali em sítio livre
dado…

luz branda uterina
como fundo
tudo fica bonito tonto
simples belo concentrado

tão profundo!

ficar livre nos teus olhos
só a olhar
a deixar-me ir
acontecer
é viagem sonho de poeta
de músico de pintor
poema tela canção
inspiração

pura emoção de se viver

sexta-feira, abril 16, 2010

Abertura


Muros em redor
do território
protegem o interior
do intruso
supostamente ameaçador

por outro lado
assim fechado
se nada vem do exterior
que faça mal
também nada vem
que faça bem

fecham-se as aldeias
as nações
os continentes
os grupos as organizações
as pessoas mais tementes

parece com tais muros
ficar mais defendida a pessoa
a nação
a cultura a religião

mas não

com o tempo
criam-se mofos tais
no isolamento
ausência de comparação
que não tarda a aparição
de caciques locais
obsoletos
diabos interiores
que nos roem
até os esqueletos

quem quiser viver
tem de se abrir
experimentar ouvir
amar sofrer
dar receber
compreender-se
a conviver

só assim se pode caminhar
escolher
a nível regional nacional
ou pessoal

se pode
em minha crença
tirar a pessoa os grupos
a humanidade
de guetos receosos
nebulosos perigosos
deixados lá
por interesses velhos
de outra idade

quarta-feira, abril 14, 2010

Crise


Crise crise crise
enchem-se folhas de jornais
dizem-no as línguas quotidianas
telejornais
grita-se nas ruas
há greves em escolas
hospitais

mais:
justifica nos políticos
de todos os quadrantes
intervenções especiais

crise crise crise

manda-se apertar o cinto
o crude aumenta
eu com um ponto de interrogação
em uma mão
outro de admiração
na outra
saio à rua
para ver se a sinto

amplas avenidas auto estradas
repletas
veículos nelas
de todas cilindradas
centros comercias
de todos os tamanhos
lojas restaurantes esplanadas
tudo cheio!

gente produzida
bem arreada…

estádios de futebol
espectáculos a granel
fãs chorando desmaiando
pelos “Tokio hotel”
tudo requerendo imenso carcanhol

crise crise crise

empréstimos baratos
inflação zero
mãos pequenas
para segurarem tanto “tenho”
e tanto “quero”

telemóveis internet
lcd’s consolas dvd’s
último grito da moda
ipad ipod
em fila de espera já se vê

produtos a sobrar
tudo a preceito
viagens caras a esgotar

crise crise crise

por este andar
se vier o dia
em que o tanto que há
de verdade mesmo
for faltar
se houver uma crise
daquelas reais como a realidade

que se ponha em mão cidade
uma charrua
uma enxada
pele calejada

um sobreviver soterrado
de mineiro
poeira de pedreira
cinzas de guerra
míngua de dinheiro…

esta gente que ora grita
“crise crise crise”
vai decerto se suicidar!

sábado, abril 10, 2010

intermediário da política


Diz-se mal do intermediário
do que se governa
com pouco esforço
entre quem trabalha
e dá à sola
e o grande empresário

ficou-me este conceito
de uma altura
em que o país
era mais agricultura

uns cavavam suavam
lavravam
esperavam de barriga vazia
a colheita semeada
muitas vezes pouca ou nada

era então que aparecia
barrigudo camionista
negociante oportunista
oferecendo uns tostões
ao lavrador
ao proprietário
para ganhar com isso
bons cifrões

que remédio tinha o lavrador
sem transporte para a mercadoria
se não vender
olival vinha batatal
pelo magro preço que oferecia?

assim era a vida agrícola
teso o produtor
dando duro todo o ano
rico o oportunista
que sem dor
obtinha o ganho

lembrei isto
pelo que hoje vejo na política
os que se esfolam
dão a cara
estão na acção
e os que deles vivem
na crítica presunção
na má língua na intriga
ganhando bem
sem qualquer préstimo
para a nação

comparei o hoje e o antes
e achei
no acusador avulso
no pendurado oportunista
no colunista
no freelancer derrotista
no convidado que faz crítica
que não faz nada e vive bem…

aquilo a que chamarei
numa altura
de mais cidade e menos agricultura
de intermediário da política

quinta-feira, abril 08, 2010

matulão


Juízos de valor dão sempre bota
não atinamos quase nunca
o prognóstico

é injusto para o julgado
fica o juiz de nós
decepcionado

hoje via eu homem enorme
músculos de aço
em supermercado
olhei de soslaio o fortalhaço
adivinhei logo nele
atleta medalhado
olímpico
halteres martelo disco
modalidade de puxar pelo físico

continuei as minhas compras
contornando quarteirões de prateleiras
umas altas outras baixas
cheio que já estava o carrinho
procurei as caixas

olhos no caminho
para evitar um tropeção

já na caixa
como se faz nesta situação
tomei lugar na fila
e sabem quem minha vista descortina
no lugar habitual
de uma menina?

o matulão!

atleta medalhado
olímpico
halteres martelo disco
modalidade de puxar pelo físico (?!)

caiu por terra mais um julgamento
sorri porque me fez lembrar
outro bem recente
sobre deputado
no parlamento

alguém também encorpado
mais parecendo lenhador
estivador
que deputado
pois o senhor
“estivador lenhador”
botou palavra
e aqui para a gente
que ninguém nos ouve
fiquei entusiasmado a ouvi-lo
de repente

o homem até era inteligente!

terça-feira, abril 06, 2010

Valença do Minho (?)


Há dúvidas na história
sobre se o primeiro rei
fundador da lusa grei
é minhoto ou beirão
se Viseu se Guimarães
o seu torrão

eu português beirão
pasmei
quando ontem vi
protesto em Valença
de arrepiar
bandeiras de Espanha
a desfraldar

o motivo deste protesto anormal
uma decisão
normal
não sei se bem se mal
do governo da nação

lembrei tempos de escola
filho da puta
acusa Cristos
assim se berrava ao que traía

ao que se vendia ao forte
ao director ao professor
à autoridade
por ser por si
incapaz de enfrentar
problemas de rapaz
que tinha

há outras formas de protestar
como exemplo
mais eficazes sérias nobres
que se acobardar
quais vendilhões do templo

não têm culpa vimaranenses
por tal afronta
nem lhes quero tirar
o berço do “seu” rei

mas que dá para duvidar
que o grande Afonso
de Portugal o rei primeiro
seja minhoto
lá isso dá

vivi sempre bem com os de lá
que sou raiano
mas mesmo em tempos
em que o país era isolado
triste
tão pobre que parecia mais pequeno
nas urzes nas pedras nos ribeiros
no canto perdido dos pastores
e seus rebanhos
quando do lado de lá
havia estradas largas
estreitas as de cá
e as cidades eram grandes
mais cultas europeias

mesmo então que Portugal
morria emigrava
sofria
que parecia
que o progresso liberdade
não mais chegava

Portugal sem Abril
cravos por vir…

nunca me vendi!

fico a aguardar
o desenlace da ocorrência
porque é minha crença
que ali anda a pastar
cavalo de Tróia
a destabilizar
a cidade que é lusa
de Valença

domingo, abril 04, 2010

terceira via


O melhor mesmo é a terceira via

porque não há só hindus
judeus
ricos ou plebeus

ou católicos muçulmanos
russos portugueses
ou americanos

há um pouco de tudo
de todos os matizes
de todas as verdades
gente que se veste
não sei se bem se mal
veste diferente

gente que pensa assim
que pensa assado
não sei se bem se mal
pensa diferente

gente que vive assim
que vive assado
não sei se bem se mal
vive diferente

e por isso mesmo o segredo
é o convívio sano
deste pluralismo discrepante

para o levar avante
e partilhar a terra evitando atritos
atente-se na história
nos conflitos
num passado não distante

revoluções sangrentas
separando irmãos amantes
pais
guerras fratricidas sanguinárias
tema de Lara triste
nos nevados floridos
campos dos Urais
norte sul americano sem piedade
lei do mais forte sobre os demais

religiões matando a vida
inquisições cruzadas
fanáticas dogmáticas
ao “serviço de Deus”

numa era de luz de liberdade
em que há tantas flores
música
se vai ao espaço com toda a facilidade
se curam doenças graves

fará mais sentido
meus senhores
guerrear matar o diferente
ou aceitá-lo?

aplique-se a terceira via
o diálogo a tolerância
olhe-se a vida como bem supremo
sejam crentes ou ateus

e que ninguém mesmo ninguém
seja dono dela
e mate ou mande matar
em nome próprio ou de Deus

sexta-feira, abril 02, 2010

Páscoa


Sexta feira santa
é feriado
fim de semana prolongado

mas na verdade
ficar parado
dói às vezes mais
que estar cansado

vícios desta sociedade
hiperactiva de actividade

logo se inquietam
nas horas sossegadas
as mentes agitadas
na impaciência

Ir lá longe passear
carro barco avião
Sputnik mota balão
viajar
ou mais perto experimentar
vivência bem radical

há loucura a mais
novidade
para se saber descansar

bem menor antes a ansiedade…

então Páscoa era amêndoas
bolos doces menos doces
campainha aleluia
jejum devota contenção
barriga cheia comemoração

rua abaixo rua acima
tudo ali acontecia

era missa sacristão
padre nosso ave Maria
um país sem democracia

era alguém que morria
e em tão pouca urbanização
toda a gente o sabia

quebravam a monotonia
os meninos que riam
com as guloseimas que havia

hoje Páscoa na cidade
o melhor é não stressar
faça-se o que apetecer
conforme o credo e a idade
(também a vontade)
e seja o que Deus quiser

Jesus saiu da cruz
liberdade
motivo para alegrar
beber comer festejar!

Publicação em destaque

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Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...