terça-feira, dezembro 29, 2009

mesa redonda


Ouço-os falar no pequeno ecrã
sentado no sofá
silente objectivo atento
sem tomar partido à priori

mesa redonda democrática
espectro político nacional
presente

ângulos diversos
palavras diferentes
cruzam debate
ao mesmo tema referentes

alguma inteligência na abordagem
há diferenças
mas como a política está
predomina a habilidade

o barroco das palavras
o adornar do discurso
em espectáculo

verdade e inverdade

esclareço-me pouco
sobre temas importantes
de Portugal tantos anos adiado
e estes homens com responsabilidade
eleitos pela comunidade
mais parecem interessados
em conjugar o verbo “sou”
que o verbo “somos”

show político oco de tv!

e o país amado
este chão que partilhamos
e que queremos colocado
entre os melhores

em risco mais uma vez
de ficar adiado
porque as ideias faltam
e a confusão impede a acção

sábado, dezembro 26, 2009

Tratado de Lisboa


Compara-se aldeia com cidade
inculto com letrado
inabilidade com habilidade
resulta disso pessimismo atroz
que eleva os outros
nos rebaixa a nós

país de rima
mas com parca auto estima!

temos políticos famosos
especialistas
escritores
pensadores futebolistas
treinadores actores
fama de bons trabalhadores

uma revolução dos cravos!

só que herdámos
uma cruz um cemitério
um rosário de amargura
um triste império

uma ideia sem critério
isolada desolada
que perdura

não entendemos das coisas
que fizemos
a grandeza
mas a sua pequenez

só saudade e vil tristeza!

faz falta meditar rezar
de quando em vez
até chorar
quando a força humana nada pode
contra a natureza

mas acontece o mesmo em todo o lado
no mundo português e no resto do mundo

com o Peter dos outros
e com o nosso Pedro
com a Mary Ann dos outros
e com a nossa Ana Maria

tanto carpir porquê?
dizer mal de nós porquê?
ter olhos na cara e todos os sentidos
e não querer ver ouvir sentir
mudar
porquê?

estas as perguntas que eu faço
em dia de natal
ao povo português

olhai bem para vós
pois a terra que está aqui e que habitais
é boa pródiga liberta
testemunho lar de ancestrais
avós

orgulhai-vos dela bem babados
na filhós
nos sonhos
nas fatias douradas
no copo de vinho
na língua que falais

Tratado de Lisboa
Europa mais

Portugal encostado ao atlântico
a um passo dos Urais!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Momento eterno


Um cacho humano irregular
na forma
na idade
no ideal
na proveniência
no estado social

em música suave
de pé em roda pendular

chega a doer ali estar
a taquicardia a aumentar
ver de perto
os olhos dos outros
a olhar

mas vencida a dificuldade
trazida do exterior
angústia
ansiedade
stressante realidade

é a viagem perfeita
ao fundo do peito
embalo amparo
encosto gosto
seara de corpos a ondular
a crescer em sentimento

a pele comanda
toca resvala treme
sente ruboresce

ás vezes…
por o que toca ser tão bom
desperta o som
que geme
esmaga o amplexo
que em transe
desfalece

dedos rostos
ombros costas
cabos enseadas
curvas rectas
duro fofo
tudo se entrelaça
se abraça
no fruir do momento eterno

é mar é terra
é ar é fogo
é estar perdido
tão achado

no fim desfeito
inteiro cheio
quente
com tudo e sem nada
entendo o conceito
de “momento eterno”

comparada com isto
e como a imaginamos
achei a eternidade
um vazio
uma seca
uma fria enormidade

terça-feira, dezembro 22, 2009

glória nova


Muito vejo incomodados
os que dantes eram poucos
minorias ditas esclarecidas
minorias ditas mui letradas

andaram os tempos
mudaram-se as verdades
essa meia dúzia de repente
conquistadas liberdades
virou milhares milhões
democratizou-se a sabedoria

sobraram uns velhos e jarretas
os filhos deles outros que tais
zangam-se dizem mal
defendem com unhas e dentes
mundo antigo
que não existe mais

calem-se por zangados
meus senhores
por ultrapassados

que a vida nasça a cada dia
novidade possibilidade
pois a matriz arcaica
que defendem obstinados
se finou na idade

que os coveiros do país
mascarados de botas e tamancos
poupadinhos por armanço
e não por ser verdade
sumam de vez

é mais fácil dizer mal
representar
fazer o que se viu fazer
(fazer igual)
que ter ideias avançar

ficar na glória antiga por preguiça
e conveniência
que trabalhar a glória nova
com eficiência
e mais justiça

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Terapia do riso


Uma senhora praticante
entusiasta
de tal forma empolgada
convencida
que o remédio é rir…

nem se deu conta
quiçá de tanto rir
que já pôs
o marido de muletas!

sem querer ser psicólogo
ou analista
parece-me óbvia
descompensação
conjugal
à vista

ela
em grande excitação
fuga ao trivial
à vida morna
ri

ele
sem abertura à inovação
nem hábitos de rir
em enorme sofrimento

cultivando a sisudez
no comportamento
não aguenta
na consorte
tal matriz

chama-lhe “tretas”

e zás!

uma queda
o hospital
mulher feliz
ele de muletas!

quarta-feira, dezembro 16, 2009

melhor pagar


Quanto mais se evitar
pagar
mais a soma aumenta
mais se amplifica a dor
da dívida
a saldar

melhor realizar
que adiar
a renda o seguro
a prestação
as contas
com e sem juro

o mesmo em casa
com objectos
espalhados desarrumados
loiça por lavar
roupa por cuidar

quando se dá conta
da barafunda
da falta de método
parece loucura

tudo se agita
muito se grita
o pior acontece

tantos passos a dar
(por dar)
decisões a urgir
(por cumprir)
sempre a adiar
a remendar…

chega o momento
por tanto “adiado”
tanto “acumulado”
que o que era lixo
vira lixeira
o que era conta
vira calote

e fica difícil recuperar!

terça-feira, dezembro 15, 2009

Frio Dezembro


Frio Dezembro
folhas caídas
corpos tapados
horizontes desolados

branco cinzento
quase que neva
no sopro de vento
que vem de Castela

foi de lá que eu vim
raia bem perto
nevava gelava
quando o inverno arribava

havia natal
um cheiro a lareira
poucas as vozes
na pequenez do local

um vazio gélido
noite geada
em tão longe sítio
natal consoada

mesmo assim…

que bem sabia
bolo rei coscurel
filhós doçaria
na fantasia
da criança de mim
doce como mel

encostava o nariz
na janela embaciada
fria
e nela desenhava
letras nomes
depois apagava

como que vivia
já então
entre o amargo
e o doce
entre o inverno
e o verão

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Deus maior


Tudo a correr aqui
em tamanho pequenino
no campo na cidade
na casa ou na rua
a trabalhar ou nem por isso
a amar ou nem por isso
devagar
ou em maior velocidade
virtual
ou em maior realidade

aqui onde habita Cristo
o maior dos visionários
e a vulgar gente

útero Deus
sem fim à vista
por tamanha infinidade
que mal dá para imaginar
mas que se sente

potente incandescente
Deus silêncio energia espaço
onde tudo se esgota
e onde tudo pertence

a aldeia a cidade
o mundo português
a humanidade
o espaço e o não espaço

tão grande Ele é
abrangente
que fica invisível
o que se vê
parece vazio o preenchido
parece parado o que não pára

ficam menores
os deuses maiores

domingo, dezembro 06, 2009

pais lugares amigos


Posso ficar a recordar
pessoas sítios amparo abraço
amores da minha vida
buscar aí consolo
chorar a falta
ter assim felicidade

houve tanta parra
tanta uva
tanto trigo
tanto sonho
nas cores garridas da alvorada
sempre então
com a descoberta na palma da mão

sim tudo verdade
sítios gente que se teve
e não se tem

aventuras que passaram
veredas silvas e amoras
penhascos pedras e giestas
vozes longínquas que embalaram

namoricos que nasciam
entre raios de sol quando floriam
frescas lindas douradas
as mimosas

cheiros sazonais que embriagavam
numa geografia pequenina
entre montes
e ribeiros
que vista com os olhos de então
parecia a maior lonjura do mundo

podia ficar homem criança
dizer que tudo é breve
que tudo começou e findou então
chorar o que não há

mas pessoa e mundo é construção
sinto-o hoje
com os sentidos explodindo gratidão
pelo que sou
com o amparo de todos

neste exacto lugar
em que escrevo em português
em que abraço os que foram
e já não são

todos cabem no meu coração

mas eu vos digo
pais lugares amigos
geografia andada dos meus passos
que transporto comigo
o movimento contínuo
imparável

a vida

qual estafeta de distância
atleta herói desta experiência
cuja corrida agora está aqui

e para a continuar
vos digo
pais lugares amigos
que é AQUI
que tenho de me concentrar

valia e dimensão


Dimensão não importa
tamanho não é grandeza
nem quantidade
qualidade

países há grandes
pequenos
outros pequenos
bem grandes!

num jogador de futebol
que tenha que cabecear
ou num de basquetebol
que tenha que encestar
ser maior pode ajudar

mesmo assim consideremos
que o alto corre bem menos
perde na habilidade
para o mais leve
e pequeno

de nada serve um império
se se quedar
na aparência
mostrar muitos gigantones
impressionar
perder em vez de ganhar

quem privilegiar
competência
com todos no melhor lugar
o mais pequeno local
pode crescer aumentar
brilhar

ser pólo de referência!

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...