sexta-feira, maio 29, 2009

parece pouco


Parece pouco
apareceres de quando em vez
com uma palavra duas três

tendo em conta o mundo
como vulgarmente se entende
uma quase virtual presença
que não dá prazer no mundo das formas
por ser pouco real
e mal se ver

todavia tenho que dizer-te
que preenches
num qualquer lugar
livre silencioso
meu
um sentimento que percebo
como essencial
que me conforta
me anima
me puxa para cima

qual carro estacionado
em terreiro vago
que com sua presença
logo confere ao largo
um ar ocupado
útil preenchido
de parque oficializado

qual luz apagada
que após acendida
num qualquer escuro
arranca do breu
algumas formas
que animam o nada

quarta-feira, maio 27, 2009

caminho antigo


Que dor pesada que te move amigo
que felicidade estranha
assente no passado andado
onde um qualquer brilharete
fez de ti a estrelinha do recreio

que somatório de aplausos idos
ego ampliado te mantém
nessa couraça intransponível
onde nada progrediu
a não ser o envelhecimento
de anos

ouço-te agora as mesmas coisas
que dizias antes
as mesmas convicções fechadas
gastas ultrapassadas
a mesma falta de espaço
para alguém ser também
existir crescer contigo

só cabe em teus ouvidos
quem te ampara o ceptro
quem aguenta em sofrimento
ou compaixão
a tremenda vontade de dizer
NÃO
e virar-te as costas
a ti e á tua razão

que medo tens de perder
o que agarraste
que resistência enfadonha
á moda á novidade
ao hoje que nasce a cada dia

como não consigo
caminhar com quem não quer andar
e porque é vital para mim
e meus anseios
continuar a caminhar…

terei de deixar-te amigo
nesse caminho antigo
lama botas e tamancos
de onde saí um dia
e para onde não quero voltar

sábado, maio 23, 2009

Europa orquestra afinada


O som dos pássaros a paz do tempo
sereno ameno sossegado
o meu corpo atento
a captar vida em todo o lado

há ruídos diversos no ambiente
misturo-os hoje anarquicamente
com uma qualquer primavera de Praga
em memória recente
o piano a flauta o violino
embalando suavemente o rio Moldava

é possível sentir-se aqui
neste lugar do mundo em Portugal
esta Europa desafinada variada
Europa complicada

glaciares nórdicos rios românticos
sons exóticos nos caminhos de leste
Mediterrâneo Atlântico
tantas diferenças tantas pontes!

que tarefa nobre desafiante
unir-lhe os sons os cambiantes
fazer deste continente
uma orquestra afinada

sinto essa possibilidade
também necessidade
dentro do meu peito
na brisa morna do meu país
em Maio mês florido e pródigo

no meu corpo sossegado
ventre recipiente síntese
dessa variedade amor em unidade

porque se estou aqui e estou bem
viva o solo que me acolhe
viva a terra mãe continente
meu país

este chão farto variado artístico
este prodígio de luz
este farol do mundo andado
e também do que há-de vir

sexta-feira, maio 22, 2009

continente em saciedade


Os teus olhos fulminantes
vêem a cada esquina a cada canto
coisas lindas fascinantes
não param de descobrir
novos contornos
por intensos

coração que se adivinha quente
que mal dorme
de impaciente
prenhe de sonho em lume ardendo

peito arfando caçando querendo
voo de ave sedenta de alimento
que ora se perde na intenção
de comer em mundo grado
ora fica seca inóspita na desilusão
paisagem real do sonho bem diferente

em mais carência ou mais fartura
voa sempre ave sedenta
equilibra só a intensidade de comer
para não morrer

retorna depois ao teu pombal
ao teu regaço a descansar
fica nele percorrendo o pormenor
vivendo perto e dentro o acolhimento
tentando dentro de ti recuperar

se a inquietação continuar
o desequilíbrio arrepiante de muito amar
sem sossego na procura de alimento
aceita esse coração grande
e continua a voar
no espaço errante

que outros como tu hás-de encontrar
com a mesma fome a mesma sede
e com eles um enorme continente
em saciedade hás-de criar

terça-feira, maio 19, 2009

guardador de frutos


Fui guardador de frutos
em árvores em videiras em arbustos
os pássaros eram então o inimigo
a escorraçar

o calor aquecia na Beira Interior
junto á raia de Espanha

eu sentava-me sozinho a vigiar
numa laje de granito inclinada
onde me entretinha a brincar
em cima de galhos de giestas
de cima a baixo a escorregar

ao meu lado sem qualquer pudor
passeavam lagartos lagartixas
e a minha atenção andava
entre o medo de guardar
e o medo de ali estar

ao longe sentia ténue companhia
que a brisa morna trazia
vozes de gente sons de aves
que ouvia
rolas cotovias e pardais
melros popas estorninhos
e tantos mais

sei agora o quão perto estava
de Castela
o quão longe havia
para lá daquele lugar
em que crescia

aprendia no campo os meus primeiros passos

o mérito da terra em dar sustento
o perigo de viver entre ameaças
de cães enormes cuidando de rebanhos
de lobos de milhafres
de nojentos bichos rastejantes

aprendia o desafio da vida
que sempre senti difícil
e breve
em redor da missa do sermão da catequese
do cemitério

um círculo fechado
sem qualquer mobilidade
de saída ou de chegada

nascia-se e morria-se ali
na azáfama diária
no linguarejar de mágoas
das soalheiras abrigadas

e entre o nascer e o morrer
havia …

o baptizado o casamento
umas quantas missas e mazelas
uma vida de trabalho e de canseira
sem se vislumbrar grande proveito

sábado, maio 16, 2009

a morte do sábio


Qual ceguinho tacteando
logo desde bem cedinho
ouvimos observamos lemos
e dentro de nós
vai crescendo
o entendimento do mundo

quando o mundo era pequeno
de gente e conhecimento
havia sábios
homens que tudo sabiam
por ser parca a sabedoria
que até então havia

hoje não
andou-se em opinião
em fontes de informação
em pesquisa
pelo que o maior sabichão
não passa de aprendiz
que pouco mais sabe que nada

hoje vale especialização
um saber que se domine
talvez esta a solução
para reciclar sábios á antiga

que podem saber latim
literatura matemática
despejar filosofia
muita cultura clássica

mas se ignorarem a tecnologia
alguma atitude pragmática
parece chegado o dia
da morte do antigo “sábio”

quinta-feira, maio 14, 2009

caminhada á chuva


O vento sopra a chuva cai
o cinzento cresce
encurta-se a caminhada
pelo receio de enxurrada

corta-se na aventura
tira-se espaço
á ideia que amanheceu
bem mais ousada

encolhe-se o alento
pára-se no abrigo
com medo de um simples
e natural elemento

podia-se continuar a andar
aceitar a vida como ela é
sem o preconceito
de ter que entendê-la tanto

mas humanos são assim
pensam no que fazer a seguir
na atitude a tomar
na reacção a cada situação
seja complexa densa chata
ou trivial inofensiva grata

é muito cansativo ser humano

por comparação
repare-se na árvore
é vê-la crescer crescer
em largura em altura
até aos limites de ser

faça sol caia chuva sopre vento
serena sem limitações
tudo é natural e tudo faz parte
porque ela não pensa
no que está a fazer

ora firme ora ondulante
ora nua ora vestida
limita-se a ir a subir
a viver
deslumbrando o viajante

segunda-feira, maio 11, 2009

o imaginário


Fortuna ou desgraça
que te escondes
que vontade e que medo de saber!
sei que pouco dá ser platónico
não se vê o que se ama
não se toca não se come
em viva chama

sei também o que guarda
o imaginário
de um centímetro faz-se um metro
de uma flor faz-se um jardim
de uma atenção solitária
um êxtase sem fim

põe-se tempero com toda a facilidade
imagina-se
imagina-se
imagina-se

mas na dura realidade
em que ficamos?

no sonho perfeição
irreal
aumento inglório
só fantasia projecção…

sem sentimentos reais
sem palavras reais
com medo de enfrentar
o que sonhamos…

ou abrimos mão do ideal sem forma
tonto invisível
e inebriamos
sem medo do fracasso
no que é bom tocar quando se gosta
e é visível?

sexta-feira, maio 08, 2009

o meu saber desperto


Feridas há e não são poucas
bizarras variadas deprimentes
descontroladas arrepiantes chocantes
mundo tão grande
diversidade
tanta gente sem um lugar conforto
na cidade

vergo-me e esmoreço
quando vejo
os becos os guetos da vida
só que meu saber desperto
anima-me quando perco o apetite
quando fico no filme triste
quando Deus quase desaparece

e diz-me que há conserto
pondo na cabeça inteligente a solução
na atitude de palhaço o coração

nunca a dor por atitude
porque dor não cura
e quem o fizer
só mais dor semeia
em seu redor

curem-se as feridas que vemos
com energia
evite-se a epidemia
com cabeça e com amor

depois da antiga dor curada
na profilaxia…

mais atitude de palhaço
mais alegria de criança
mais música mais crença
e mais dança !

terça-feira, maio 05, 2009

Lago Tejo


Lago Tejo visto assim por forasteiros
águas tão calmas
horizonte deliciado deliciante
convidando sonhadores
namorados viajantes

este céu aberto
em azul de tantos cambiantes
tombando suavemente
nas férteis terras de Palmela

se Camões aqui viesse
e visse o que eu agora vejo
cor gente divertimento
paladar a toda a volta
inebriando todos os sentidos
riso passeio fluvial
voo arriba comboio de brincar
carrinhos de pedais
assuntos de pasmar
a cada canto para visitar

exclamaria:

tão longe andado povo lusitano
em busca de fortuna
de ninfas de glória
no longe de anos
e agora tudo aqui
á mão de semear

fortuna ninfas e glória!

Moscovo Nova Iorque Rio de Janeiro
á distância de um pulo
o meu país moderno
no centro do mundo

entrada saída guarida
para quem demanda
o melhor abrigo
o melhor amigo
na Europa amada
unida solidária e dada

segunda-feira, maio 04, 2009

a um pai deste país


Pedem-me que entenda
que ouça que me cale
que fique quedo só desamparado
que vos mime idolatre
e vos sustente

que como um mago
tudo tenha num instante
que cubra vossas faltas
que não falhe

pedem-me que concorde
que me conforme
ou que me zangue
e que me esgote
exangue

eu que não sou mago
nem tenho quem me ampare
me mime me conforte
que no silêncio amargo
de um copo de vinho
busco algum alento

sem acompanhamento de pão
de mãe de amigos de irmão
entre um estigma de diabo
e uma exigência de santo

quem me compreende a mim
ossos esforçados
ao génio que tenho por herdado
e ninguém suaviza?

quem vê minha obra e a contempla?

ninhos de vespas dedo apontado
que só sonham ver-me nu
faminto condenado
como posso amar sem ser amado?

caminhos estreitos escarpados
suor esforço ali deixados
nervos em franja feitos obra
para quê?

ninguém viu nem aplaudiu…

sem colo bom amado amante
depois de luta árdua
desgastante
não há coração que aguente
e não se canse!

sábado, maio 02, 2009

cabeça quente


Cabeça quente
reacção destemperada
tudo a vomitar arreliação
peito fechado

ai que fúria que dá
o além dos limites da asneira
fica difícil voltar atrás
retomar a realística fronteira
para o lado de cá…

para a dimensão verdadeira
quando o problema se pôs

orgulho raiva preconceito
inconsciente a operar
loucamente
gente a sofrer no efeito
sem entender bem porquê

não se cede nem se é capaz

tomei nota da ocorrência
e da mossa que faz
para futura advertência

porque estes momentos calados
tensos cínicos ampliados
no após cabeça quente
podem dar cabo de nós

sai-se fora de contexto
por um pequeno pretexto

presunção de ter razão
no antes quebrar que torcer
levado á obsessão
pode mesmo enlouquecer!

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...