terça-feira, abril 29, 2008

tu queres

Tu queres que eu vá
que eu ligue
que eu lembre
que eu tenha desempenho
que nunca me canse
que te gabe
que te ouça
que esteja presente

tu queres que eu seja
herói santo
pessoa influente
tu queres
queres

QUERES!

tu não és uma pessoa
és uma exigência
um dedo apontado
uma qualquer consciência
ultrapassada chata

acusas exiges
cobras controlas
sugas
sem dar nada em troca

que inferno te achou
ou pesadelo
que te pôs tão longe
dos lírios das rosas
da era em que vives
e que pede
uma consciência nova?

sábado, abril 26, 2008

entrega incondicional

Entrega-te rende-te
porque só vives de verdade
se deixares de pensar
de controlar

que é o mesmo que dizer
num ambiente devoto como aquele
"sê grão de areia no meu mar"

eu que até preciso de acreditar
fico a vacilar
rendo-me por instantes
às palavras firmes compassadas

quase cedo a ser nada
a rastejar abandonar-me entregar-me
para merecer um abrigo um abraço
naquele império dos sentidos

cão que é cão sabe sê-lo
porque precisa de comer
mas eu?

abdicar do meu poder
para ganhar o quê?
o céu? que céu? aquele?
prefiro não abdicar
e fazer comigo o que muito bem quiser

rasgo a estrada a toda a velocidade
tenho um amigo dois três
(ou mais talvez)
grito liberdade até me faltar a voz
e sobretudo
canto
todos aqueles que sem me pedirem nada
me deram tanto!

ah!
e se um dia resolver render-me
deixar de pensar de vez
e decidir navegar num qualquer mar
fá-lo-ei por conta própria
sem comandantes nem piratas
a comandar ou a roubar

sexta-feira, abril 25, 2008

um entendimento maior

Toda a impotência do racional
para explicar tanto mal

gente que se quer bem e que se mata
num momento imponderado
qualquer

a pele e osso da criança do Darfur

o macabro inferno de sangue
da guerra inventada

o email bem intencionado
mas que já foge à realidade principal
alertando para o perigo de extinção
de uma espécie qualquer

ou a estocada violenta do predador homem
caçador
no simpático golfinho

mundo sempre difícil de entender
sem um entendimento maior

eu que até quero ver o lado positivo
as possibilidades
não as dificuldades destes caminhos tortos
quase obscenos no julgamento
que comummente fazemos

só que para o fazer
tenho que sair da resposta racional
e procurar alguma paz
num entendimento maior
do que se vê

que para já não sei qual é
nem sei onde está

sexta-feira, abril 18, 2008

sinto que me julgo

Sinto que me observo que me julgo
que me acuso
visto pelos olhos dos outros
julgamentos que antecipo
e em que tropeço

o meu interior não se reflecte no exterior
perco-me sufoco
nas mil tarefas ampliadas
pelos exigentes holofotes
da vida

felizmente há sempre dentro
força suficiente
para atinar na solução
ficar na situação ou sair dela

até consigo
de quando em vez
fazer um brilharete
para me defender talvez

a tal solução
para cada situação

ou que o mundo fuja todo
para poder folgar respirar
porque nos limites não o aguento

ou ao invés
por qualquer energética virtude

que tudo venha para cima de mim
porque sou divinamente doce
e se está bem ao pé de mim

toca-me


Havia horas que falavas
eu ouvia também falava às vezes
a certa altura o meu olhar
via mexer os teus lábios
já não te ouvia falar
fiquei no silêncio interior
na alma em chamas
tu ainda no ruído das palavras

hipnotizado num estado energético sublime
disse o teu nome estendi-te a mão
pedi-te

TOCA-ME

tu paraste de falar escancaraste o olhar
e fixaste-me
a minha mão estendida
jazia suplicante pertinho da tua
insisti com um leve aceno de cabeça
quase tocando com o queixo o peito

TOCA-ME

houve uns instantes tensos eléctricos
ansiedade luta quietude misturadas
tu olhaste inclinaste o rosto o corpo
ficaste linda
podias ser Nossa Senhora
uma Deusa uma mulher enamorada

com os dedos perfeitos macios sensíveis
tocaste-me a mão depois o rosto
accionaste em mim a brandura do corpo
a respiração

o ambiente tenso encheu-se de esperança
parámos o chorrilho de palavras disparadas
rimos e chorámos de mãos dadas
longamente
como duas crianças tontas

terça-feira, abril 15, 2008

custa crescer


Custa crescer
enfrentar lutas desafios
deixar a saia da mãe segura
trocá-la pelo mundo lá fora
dos outros
incerto inseguro

que ganho se ficar?
que perco?

pássaro que voa pode cair
levar um tiro esbarrar
contra um muro
ficar perdido
ser comido...

que ganho em voar?
que perco?

quatro paredes fechadas
de cada um
seguras
mas onde se enlouquece
onde nada se passa
nem se cresce

voar tem riscos
mas não voar?

não enfrentar o espaço
a vertigem do alto
o mundo dos outros pássaros
que querem arriscar
e voar connosco?

que coisa será?

Quem me dera entender porque eu hesito
porque tenho medo de passar o conhecido
desafiar-me
para ver o que acontece
do lado de lá...

de perder o controlo ensinado nos livros
abanar de vez em quando
como seara ao vento
para saborear gozar
o prazer do movimento leve!

quem me dera entender
porque corro tanto
quando não corro para lado algum!

que há dentro de mim
que força
que me faz partir quando era de ficar
sentir o momento bom
a paz suave do lugar
o canto das aves
o murmúrio dos barulhos breves
da terra mãe que me acolheu?

que será que falta à minha tristeza
para ser alegre?
ao meu pesadelo para ser um sonho?

que coisa será
que me faz correr tanto
partir inquietar-me
se eu próprio sei
que a vida é tão breve?

sábado, abril 12, 2008

vampiros?


Tão magro fraco incipiente
um ar cansado
que mal sustenta a altura do esqueleto!

que afecto ou falta dele
que gosto que desgosto
se cruzarão em conflito
nesse pálido desconsolado corpo?

a vida tem espinhos a dor existe
mas viver em sofrimento ou não
é já escolha nossa
e quando abro a boca
deixando sair uma qualquer ideia

olho os teus olhos fugidios
que somem para baixo
para cima para dentro
nem aguentas meia dúzia de palavras
que te digo

é tal a finura dos teus ossos
que um pequeno esforço
te transfigura

e na falta de eco na falta de força
do teu amplexo
logo me calo

que desgaste ver-te assim braços compridos
longas pernas desmaiadas
como que pareces transparente
que não estás cá
que desapareces

ou se estás
que Deus me perdoe
mas não tens pinga de sangue
a correr nas veias
nem em lado nenhum!

sexta-feira, abril 11, 2008

o nosso corpo


É bom dar atenção ao corpo
à sua perfeição
a cada lugar
e onde a atenção pousar
há uma paz divina
uma sensação boa
consolada

a habilidade
com que cada dedo
desenvolve o seu trabalho
tacteando separando saboreando
levando informação a todo o lado

depois a reacção do resto
da cabeça aos pés
se são sabores a paz
acalma-se
se são indicações mais agressivas
nervosismo crispação
vem a necessidade de sair da situação
que tantas vezes começa no ponto mínimo
de uma extremidade táctil qualquer

tudo a funcionar na perfeição

e que deleite que se sente
quando se percebe
em cada pormenor
a totalidade das partes
a resultar nessa equipa perfeita
una
que trabalha sem cessar
o nosso corpo

quinta-feira, abril 10, 2008

evoluir é preciso

Diz-se por aí que homem que é homem
é sempre igual não muda
o mesmo vale dizer
que ser conceituado é não mudar
ser sempre a mesma coisa
para ser admirado

ao contrário disso que se diz eu digo
quem fica sempre igual ao que já foi
é alguém que já foi mas que não é
não está aqui na actualidade

por isso questiono a utilidade
de convicções desactualizadas
muda tudo tanto...
o crescimento das árvores
os bairros novos das cidades
a água dos rios
o progresso dos lugares
as respostas a dar às situações...

que atrevo-me a dizer
que quem não mudar
não só pára de sonhar como pára de viver

que se mantenha um propósito principal
uma linha mestra
um fio condutor ainda vá
mas há que afinar os pormenores
evoluir
ir no combóio da vida sem ter que sair

como se pode ir a Júpiter ou a Marte
a qualquer outro ponto da Galáxia
se ainda se estiver no tempo da carroça?

quarta-feira, abril 09, 2008

até sempre eterno olhar

O silêncio cruzado de olhares
vencendo o ruído à volta
tinha eco persistia

fixei nela primeiro duas coisas
os olhos e a camisola canelada
delgada na cintura
era generosa lia-me os sentidos
eu passeava os olhos
entre a cintura e o rosto
como podia

a minha compostura na fala
e no movimento dos braços
perturbava-se
não queria que se desse conta
e ficava impossível não se dar

o mesmo acontecia com ela
na possibilidade terna rubra
do embaraço bom em que parecia estar

foram momentos tolos breves
vidas separadas
mesmo assim a cada instante que passava
maior a dificuldade de sairmos dali
daquela inconsciência hipnótica
que quase fazia rir

tão parva e infantil felicidade!

foi uma birra de criança que passava
dando em doido com quem a acompanhava
de tanto gritar
que despertou o momento mágico
e quebrou o hiato na algazarra do lugar

só tivémos tempo no abandono obrigatório
que não dependia de nós
de dizer com os olhos
sem ninguém reparar
"até sempre eterno olhar"

segunda-feira, abril 07, 2008

a onze mil metros de altitude


Olhando a Terra aqui de cima
toda encoberta pelas nuvens
densas na quietude suave das alturas
embora em alta velocidade
tudo parece diminuir de intensidade
tudo parece ficar tão ínfimo
tão sem importância nenhuma...

o professor que ensinava as altitudes das montanhas
o comprimento dos rios
mais curtos mais compridos
as vias férreas
vista daqui tanta sabedoria
não passa de um saber local ridículo
de um conhecimento curto
comparado com a dimensão que me circunda

ouvi agora o comandante anunciar
que voamos a onze mil metros de altitude
uma informação de arrasar
no conceito colegial
mas igualmente ridícula
tendo como referência o vazio que adivinho
para cima
no interminável caminho das estrelas
no imenso espaço sem limites

penso na minha terra
nos locais dela nas brincadeiras
nas guerras que se fazem
coisas sérias mil disputas
nos problemas pessoais tão ampliados

e a importância de tudo isso
a onze mil metros de altitude
fica tão minúscula
que a única coisa que faço
e que me ajuda a sair deste embaraço
de achar tudo tão pouco

é pegar num jornal e ler notícias reais
do sítio Portugal
Lisboa capital
onde dentro em breve vou aterrar

sábado, abril 05, 2008

mudança de atitude

Tu és o que sentes
o pensamento ajuda é certo
leva-te lá
mas atrapalha ao mesmo tempo
complica-te o caminho

logo engendra mecanismos
confusões
que envolvem aprendizagens
comparações medos deduções
que levam de repente um sim óbvio
necessário afirmativo
firme seguro potente
capaz de fazer tremer a terra à tua volta

a um não recuo frouxo mole
prudente
que apenas te assegura a permanência no buraco
sem ires em frente

quem se não tu (nós) arranjou tantos arquétipos
se rendeu a tantos preconceitos e tabus?
entendeu que no lugar de A não se podia escrever B?

a liberdade facilita tu tens o instinto inato
a possibilidade
da mudança

no lugar de referência em que te encontras
se entenderes isto como eu entendo
se puseres o pensamento obrigatório
de lado de vez
serás junco e não carvalho
porás A onde está B se necessário
por um mundo mais feliz

quarta-feira, abril 02, 2008

o touro e o ciúme




Quando ontem descuidado
punha os olhos e os ouvidos
no parlamento e nos seus ecos
o que vi e ouvi
depois senti

foi

de um lado um touro
a querer puxar uma carroça
com a força toda que tem
capaz de avançar marrar
em tudo o que é obstáculo
lutar bufar
depois ganhar ultrapassar
querer ir mais longe
atingir a vedação saltar
os limites herdados
da propriedade milenar

do outro esperneando
"aqui d'el rei"
berrando
meia dúzia de vacas mansas
moles chocas tronchas
mortinhas de ciúme
por a energia do touro ser tão forte

capazes de o atraiçoar
de o trair
de o tirar do sonho da lezíria
do espaço onde é nato e se sente rei

depois levá-lo
quiçá a uma praça de toureio
para o ver tombar com farpas espetadas
humilhado
exangue ensanguentado
para gáudio delas e do mundo dos fracos

murcha sem consolo

Esse pequeno chão
onde te pousas
sente-se desprezado
rejeitado

como um mundo que escapa
aos raios perdidos dos teus olhos
vagueando
no passado que passou
no futuro que imaginas

como se sente envergonhada
a pequena e branca flor
no verde chão
viçosa primavera do teu caminho
murcha sem consolo

sente alguém em ti
que está a passar sem ver
ela flor
sombra tu

um tempo aqui
com tanta luz que tu não vês

terça-feira, abril 01, 2008

presença no lugar

Estivesse onde estivesse
eu queria era fugir
nunca situava plenamente
o meu ser
corpo/eu
no que estava a viver

por assim acontecer
diluía-se tudo
o sabor do lugar
o entendimento da ocorrência

como que um historial qualquer
de longa data
fardo pesado que carregava
minasse a minha presença

eu dizia que secava
que não me saíam as palavras
que nada do que eu era estava ali
e sofria...

nem ouvia a anedota engraçada
que alguém contava

então fugia
com a mente atulhada atordoada
o meu corpo sumindo
por uma saída qualquer

tudo porque eu não sabia
que só precisava ficar
ter coragem de morar
em mim
onde quer que estivesse

isso bastaria
se o soubesse
para tudo correr bem
vivenciar cada ocorrência
com sentimento e presença

hoje ao menos que sei que é assim
não mais fugirei de mim

debates alargados da tv

Em compostura de fato e de gravata
como convém
tudo põe cara séria diante do obstáculo
no opinar oblíquo de razões variadas

aquelas formas humanas
espalhadas pelo anfiteatro
esgrimem argumentos
fogem do essencial
sem atingir consensos

e quanto mais se debate
mais se trocam argumentos
mais a ideia inicial
resolução do problema
fica baralhada
a discussão estéril ganha

se alguém chegou ali com a ilusão
de resolver alguma coisa
ou de contribuir para isso
só pode sair com a sensação
de que tudo voltou ao "dantes"
ao "tudo ficou na mesma"
com tamanha discussão

de pouco servem debates
sem se evoluir na opinião

a não ser que a ideia seja
(mais uma da televisão)
a de fazer de coisas sérias
só folclore e "talk shows"

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...