terça-feira, setembro 25, 2007

sentimento que entristece

O cansaço
o baixar os braços
o sentir ás vezes fealdade
na beleza que deixamos de ver

é um sentimento que entristece
o rosto os olhos
e vai por aí abaixo
coração umbigo zona pélvica

queixam-se intestinos o apetite
desce um desconforto sério
deprimido
com ligação directa ao mundo dos afectos

se não lhe damos atenção
e esse sentimento não melhora
com a nossa acção

pode mesmo ir-se embora
o amor a emoção
o instinto inato

e a razão que justifica o acto
de VIVER

filha de mãe solteira

Sensação á flor da pele
o mundo a crescer e tu com ele
olhos de fogo e doces
cintilantes
quem me dera ao menos uns instantes
estar neles

inquietar-me até perder o juízo
e como é fácil perder-se o juízo
nessa idade

tão simples que é sorrir
ter coragem ser irreverente
em loucura saudável
capaz de levar a vida ao fim do mundo
o reboliço a excitação a graça
a toda a gente

que rosado que é o amor que inspiras
fresca amiga dada

um tudo nada triste
pelo pai que tiveste e que não viste

abandono nascido para tu teres de pequenina

eu te prometo flor do meu quintal
alma gémea de quem perdeu
sofreu
(e nem por isso pára de viver de dar
de encher de coração o mundo)

que não te vou esquecer

em cada esquina da vida onde estiveres
mais sórdida
mais sombria
mais fome de não ter

eu vou lá estar
em corpo em alma em tudo o que puder
para te amar te encorajar

domingo, setembro 23, 2007

como carro em contra mão

Consigo tantas vezes
ter a idade que tive
e que não tenho

quando ando por aí
em esquecido empenho
o carro roncando
a música animando

olhando e sentindo
o mundo vibrando
excitando-me a mim
excitando-o a ele

só que quando venho
e a ilusão pára
diante dos amigos
na frente do espelho
fica impossível
manter o empenho

ideias surgindo a mente turvando
fico pensando

que ou me afino pelos outros
e vou andando

ou desatino
e vou ficando
como carro em contra mão
atrapalhando

brincavas com teu corpo

Brincavas com o corpo desnudado
envergonhado
olhando todos os lados
para ver se alguém te via

os dias são largos
o futuro incerto
e matar o tempo com algum prazer
é tão humano
como aceitar a própria vida

agradece o rubor envergonhado
o tempo bom assim passado
louva o teu corpo
por ser o teu mundo mais á mão
quando tudo fica negro longe
sorri ou se puderes ri mesmo
em vez de te culpares

se o corpo te ajuda assim
sem nada te pedir
te dá tanto no tanto que lhe pedes
por jornada

o teu corpo é mesmo um grande amigo

em vez de lhe inventares não perfeição
coisas assim que parecem verdadeiras
no mundo da “razão”

ajuda-o a ajudar-te trata-o bem
tens algum amigo assim tão disponível
generoso(?)

Olha que não

sábado, setembro 22, 2007

fartura nunca vista

Não só o real
também o virtual é bom é farto

nem temos olhos nem ouvidos
nem estômago nem stress
para aguentar com tanto site
tanto chat

tanto veste veste
despe despe net net
telemóveis
oki tókis
(do inglês walkie talkies)

sistemas de navegação
quantas vezes sem utilização

mas nada nos chega nada é suficiente
então dizemos que é humano
que o homem é um ser insatisfeito
para desculparmos a nossa insatisfação

mas se pensarmos bem
é um forte sinal também
de que se é parco em ver fartura

é mais hábito alardear o que nos falta
o triste fado a amargura
porque assim sacudimos a água do capote
fugimos mais à responsabilidade da fartura

pela minha parte só para contrariar
vou já telefonar para Marte
onde faz tempo fiz um investimento
e se estiver livre o apartamento
farto que estou da capital
vou até lá no meu vai vem espacial

terça-feira, setembro 18, 2007

presas e predadores


Nunca como hoje percebi
com facto ocorrido em ar de brincadeira
que há mesmo que dar a volta por cima
ser valente
se não não entendemos mesmo nada
e sucumbimos na próxima jornada

em local com árvores jardim verde
sítio bom e calmo digamos assim
uma pomba pousava
numa pequena poça de água
para saciar a sede

os meus olhos fixaram-se na pomba
onde também um cão pousava
de tal forma sossegado e brincalhão
ela imobilizada
que pareciam ambos partilhar da mesma água
saborear uma companhia nova
um pouco de frescura no imenso calor de verão

mas não

era vida e morte lado a lado
brincadeira de cão instinto caçador
ave pousada no sítio errado

depois do instintivo assassinato
o cão continuou a brincar
correndo pela relva a saltitar
como se nada se tivesse passado

a pomba jazia morta sem dignidade
beleza descomposta
esfarrapada e torta a sua asa livre que voara

fiquei a pensar na relatividade das coisas
se tudo o que vemos não será invenção
ou recreio ou distracção
para matarmos o tempo

ás vezes fica tudo tão estranho
que entre Hitler outros que tais
e tantos predadores que vejo
neste “mundo perfeito”
que Darwin explicou tão bem

venha o diabo e escolha

sábado, setembro 15, 2007

libertação versus punição

A punição em muita gente é quase permanente
assim é mal
assim é bem
isto sei isto não sei
que ignorante

fiz assim e não devia
era para ir e não fui lá
era para zelar e descuidei
era para cuidar e não cuidei

um rosário de horrores
total ausência de louvores

e o sofrimento aí está
são e contente
a pôr mais uma vítima doente
a amarrá-la a um auto julgamento
mentecapto cruel e exigente

a tal vida de pecado
que não leva a nenhum lado

não te aceitares a ti
e não te perdoares
não valorizares a saga que és
em tanta complexidade

é sucumbires
é ires para a cave escuridão
em vez de subires

ires para o terraço o sótão
rasgares o telhado
veres a claridade a luz
o sentido que a vida tem que vem de cima

é não quereres aceitar o grande mundo
sem fim
sem fundo
a experiência única que és

e descobrires nesse espaço imenso
a tua liberdade
a tua felicidade

uma pomba uma andorinha

Tenho idade para não me equivocar
para viver o sonho sem acreditar
para olhar para ti tão simplesmente
como pomba que pousa num beiral
uma andorinha
até alguém a assustar

só um instante naquele lugar
o teu lugar
depois partir
aceitar
que o lugar passou
que outro alguém apareceu
para o ocupar

mas seria injusto não admitir
que vou ali só para te ver
que vou e venho
volto a ir e volto a vir
como o sol como o dia como a noite
afinal como tanta coisa que existe

ainda bem que contigo a esperança de voltares
subsiste

por isso não tenho que ficar triste
como se fica quando alguém parte
e não volta mais

mas sou eu que sou assim
exigente impaciente

e quando te tenho ao pé de mim
neste vai vem que faço
fico tão diferente

que tenho que dizer para mim
sem to dizer

que preciso de ti

que ao menos de quando em vez
venhas e pouses no beiral
que fiques nele
até eu aparecer para te ver

sexta-feira, setembro 14, 2007

equívoco paz que foge

Porque me movo neste equívoco
nesta paz que foge
neste desejo incontrolado
que põe os sentidos baralhados

que lugar
que gente
que tempo
criou na minha mente
este espaço desconforto
que sinto tantas vezes(?)

não sinto culpa nisso
mas sinto dor
porque repito insisto
e nada aprendo com tal repetição

nem a conviver com ele
nem a largá-lo de vez

ao menos
que tanta estupidez
valha alguma coisa
na minha aprendizagem

que prazer

se é isso que tal experiência me quer dar
é coisa que não dá
não passa de um equívoco
que vivo
e que me custa aceitar

que não me deixa de vez
para sentir mais paz

sexta-feira, setembro 07, 2007

quero posso mando

A mente estrutura-nos socialmente
veste-nos a gosto
para o papel a representar
no nosso ambiente

dá-nos poder capacidade
uma habilidade interminável de jogar
mexer os cordelinhos
no meio social

fazer equações deduções
raciocínios lógicos
fazer o bem e o mal
capaz de deixar o ego
simultaneamente extasiado
com tanta inteligência
e logo a seguir frustrado de impaciência
de impotência

poderosa mente receptor de tudo
o que vem de todos os sentidos
depois coitado do indivíduo
com a sua intransigência
"quero posso mando"

a mente é assim
como o trigo e o jóio de mãos dadas
dá estruturação é inteligente
mas bebe o que de melhor
têm os sentidos

e o indivíduo
(que o diga o coração)
com tanta inteligência
perde a noção da sua essência

equívoco na esplanada

Estava quente era manhã já alta
eu não era suposto estar ali
mas estava
soprava uma suave brisa na esplanada
eu aproveitava
pondo o rosto na direcção da brisa
cerrando os olhos

por um lado para aliviar a pressão
da dispersão que me rodeava
por outro para fazer bem a uma enxaqueca
sobrada da noite mal dormida

consolado
revirando o rosto aliviado
abri lentamente os olhos

e na minha frente sem esperar
sol e pátio e flores e risos
um vestido liso
solto e fresco
emoldurado de um sorriso

um rosto de mulher quase descalça
com os pés nus numas sandálias leves
em jeito livre que eu bem conhecia
linguarejar diferente
como é cada vez mais frequente
nesta Europa

encontrei os olhos dela
e em espelho projecção do pensamento
vi-os chamar meu nome que tivera dantes

fiquei nela quanto pude ficar pois estava acompanhada
mostrei-lhe os sítios todos do meu sítio
prometi-lhe tudo dei-lhe tudo
fui todo dela no instante breve
amei chorei fui o impossível
tive ciúmes quase morri
até o namorado a levar dali
provavelmente para nunca mais a ver

repto a todo o cidadão

O que aguça o apetite no leitor e ouvinte
tem que ser coisa chocante
feia

mundo cruel miséria humana
que se alimenta da desgraça alheia

um ciclone ou um tornado
chamam a atenção
metem medo assustam
mas uma violação
um sangrento atentado
um tsunami devastação
são produto bem mais atraente

e o que temos(?)
leitores telespectadores alienados
intoxicados
esquecendo o essencial
o que faz falta
o muito por fazer no mundo pessoal e no global
a horrorizarem-se em perverso interesse debochado
co-responsáveis pelo sucesso de tanto mal

a quem me lesse
a todo o cidadão
eu lançaria um repto
não vejam as notícias de horrores na televisão
nem comprem revistas e jornais com esses casos

porque se não
isto mais parece um circo dos romanos
mata esfola mais e mais
e é sempre pouco tanto mal
a alimentar incautos vampiros canibais
em que transformaram cada um de nós

tanto é macabro o negócio mediático de horrores
como é perverso o seu consumo
por tantos leitores e telespectadores

alimentam-se assim presas e predadores

terça-feira, setembro 04, 2007

um hoje determinado

Para qualquer mudança
é necessário parar primeiro
estar atento
à situação real presente

seguir naquele momento
sem hesitação
um rumo diferente
dar o passo certo
deixando em aberto futura correcção
do rumo certo

porque nada é estático
e a mudança é necessária
há que fazer a escolha certa a toda a hora
aceitando com querer a conjuntura
que resultou da evolução da estrutura

agora é assim mais tarde não
evolução revolução
crenças mudadas
há que rever continuamente a situação

entre nada fazer para não errar
e fazer correndo o risco de errar
mais vale arriscar
e avançar
aprende-se com o erro
ganha-se com o risco

e é assim que se caminha
que se constrói cada amanhã
num hoje determinado

sábado, setembro 01, 2007

razão velha ou ser feliz

Pelas frestas das janelas
pelas ombreiras das portas
por todos os espaços entreabertos
da casa austera de família
entravam sons que incomodavam
megafones algazarra

liberdade liberdade
gritava-se

penso que as telhas velhas do telhado
o caruncho dos cantos altaneiros
os móveis tão antigos
a escadaria
que leva ao pátio ao jardim à fonte
ao portão magnânimo de ferro
ladeado de leões
tremiam

terramoto vendaval nomes antigos
que deixavam de fazer sentido de repente
gestos aprendidos que acabavam
mordomias chapeladas elitismos

o lado de dentro e o lado de fora divididos

tive a sensação ali
abrindo mais e mais uma fresta da janela
aumentando assim os decibéis da algazarra
e espreitando a multidão emoldurada de bandeiras

que ou ficava ali com uma razão velha
ou vencia a fronteira os pergaminhos
e ia para a rua
aprender a viver de outra maneira

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...