Uma tecnologia que parece mágica dá aos seus possuidores, que estão a contemplar a cena do céu, um poder quase divino sobre a vida e a morte.
Os drones: esses enigmáticos aviões prateados de cauda invertida, sem janelas nem tripulantes, com ares de «cegueira hermética». Para lá desta imagem icónica, na orla da consciência pública e em menos de dez anos, os drones redefiniram a guerra: tornaram obsoleta a distinção entre campo de batalha e vida civil, afastaram o risco de morte de um dos lados (criando uma assimetria que é a negação do próprio princípio da guerra) e instituíram um direito de perseguição universal. Drones (2016), percorrendo os pontos de vista de operadores de drones e suas vítimas, políticos e activistas, estrategas e académicos, é o retrato cru dos dilemas psicológicos, políticos e jurídicos levantados por esta guerra «limpa». Uma guerra que nem é preciso admitir que existe – mas que é uma guerra bem real: omnipresente, permanente e sem fim à vista.
Hugh Gusterson (n. 1959) foi professor de Antropologia no MIT e presidente da Associação Americana de Antropologia. O olhar etnográfico que lança à ciência, e à energia atómica em particular, levou-o a publicar livros como Nuclear Rites (1996), sobre os hábitos, as crenças e a cultura de trabalho oculta de cientistas de armas nucleares, e People of the Bomb (2004), retrato perturbador do modo como a indústria militar moldou a psique das gerações americanas em meio século de era nuclear. Escreve regularmente para o The Washington Post e o Los Angeles Times.
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