sábado, fevereiro 06, 2016

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DIÁRIO DE UM MADURO NO GINÁSIO
Acabei de completar 60 anos. A minha mulher ofereceu-me um voucher de uma semana num dos melhores ginásios da capital. Estou em excelente forma mas achei boa ideia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação dessa semana no ginásio. A personal trainer que me vai seguir chama-se Cari...na, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo.

Recomendaram-me que escrevesse um diário para documentar o meu progresso, que transcrevo a seguir.

Segunda-feira
Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena. A monitora parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Ela é um "avião"...
Primeiro mostrou-me todos os aparelhos de ginástica. Comecei pela bicicleta.
Ao fim de 5 minutos mediu as minhas pulsações e ficou alarmada porque estavam muito aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por causa dela, por estar vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe moldava as formas todas. Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa motivação. Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher.

Terça-feira
Tomei o pequeno almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor que nunca. Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela atreveu-se a pôr pesos!!! Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na passadeira. O
sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da manhã convenceu-me de que todo este exercício vale a pena... É uma vida nova para mim. A monitora é uma deusa...Ai se ela quisesse dar-me uma massagem...

Quarta-feira
A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova com os cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o outro.
Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter as mudanças foi um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas dos pés doem de cada vez que carrego nos pedais. Fisicamente diminuído, estacionei o carro no lugar reservado para deficientes, até porque só consigo andar a coxear. A
monitora estava com a voz um pouco aguda. Agora, quando grita incomoda-me muito.
Quando me pôs um arnês para fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que é que alguém inventa um aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto desde a invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida...
Quinta-feira
A monitora estava à minha espera com os seus horríveis dentes de vampiro. Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para conseguir calçar os sapatos. A desgraçada pôs-me a trabalhar com os pesos. Quando se distraíu, fui-me refugiar na casa de banho. A gaja mandou um outro monitor ir buscar-me. Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo rebentado. Mas que cabra de monitora me saiu!!
Sexta-feira
Odeio aquela desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista sem cérebro, burra todos os dias! Se houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem sentir uma dor excruciante, partia esta gaja ao meio . Quis que eu trabalhasse os meus trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA COISA DOS TRÍCIPETES!!! E se não bastasse colocar-me pesos nos braços, pôs-me aquelas tretas das barras... Desmaiei na bicicleta. Acordei numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com cara de estúpida, deu-me uma seca sobre alimentação saudável.

Sábado
A filha de uma égua deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha de lésbica a perguntar por que é que eu não apareci. Só de ouvir aquela vozinha apeteceu-me partir o telemóvel, mas não tive forças para o levantar. Carregar nas teclas do comando da televisão para fazer zapping está a ser um esforço hercúleo. Chiça! já não aguento mais!

Domingo
Não me consigo levantar. Pedi a um amigo meu para, na missa, agradecer a Deus por mim,  por ter sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou. Rezei para que no ano que vem a minha dedicada mulher me dê qualquer coisa um pouco mais divertida, ou mais saudável, como um tratamento dentário, um cateterismo ou até mesmo um exame à próstata.

Fiquem bem, 

António Esperança Pereira


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