
Na minha raiana madrugada
“olés faenas pasodobles”
foi sensação de primeira festa
Espanha perto
a festa brava fazendo os meus heróis
misturados de salero castanholas
bailaricos
aquele som que parecia tão maluco
mas que colava fulgor
desejo calor bastava ver dançar
em saias rodadas inclinadas
corpos de rosadas raparigas
drama festa encarnado sangue
aquele pó fino de estio alevantado
pelas bestas da feira de gado
pelo povo
eufórico em ebulição
que não poucas vezes nos cornos do touro
arriscava a vida
usando e abusando em tais dias
da animação
primeiros ídolos nos meus olhos
de menino
Trincheira Diamantino Manuel dos Santos
El Cordobez
Amadeu dos Anjos
este o maior no meu arregalado olhar
por ter sido dado à luz no mesmo lugar
que eu
imitava-os toureando amigos
rapaziada tonta pouca idade
um fazia de touro eu toureava
invertiam-se os papéis
e a brincadeira de pequenos heróis
nunca mais parava
eram tempos em que tudo servia de entretém
por pouco haver
a não ser espaço vago mocidade
e tempo a mais
espera de touros e tourada
aconteciam uma vez em cada ano
o resto eram enterros procissões
escola austera catequese
em sítio ermo isolado prenhe de fastio
por isso e só por isso quando então
acontecia festa brava
touros e tourada cavalos cavaleiros
alguns artistas
era o auge de uma vida quase nada
era assim um alevantar um grito
na pasmaceira da vidita
mudam-se os tempos mudam-se as vontades
também os contornos as inclinações
do pensamento
sobre heranças de outras gerações
e ainda bem
acaba de ser anunciada
a proibição de touros e touradas
na espanhola Catalunha
o que me deteve a respiração
li reli com atenção
por tal notícia vir do país
em que o toiro é rei
em ancestral divulgada encenação
em vez de ficar triste com a decisão
NÃO
fiquei contente
com a evolução
hoje a escolha é livre
e há muito que escolher
não tem que se sofrer
com estocada sangue e toiros
o que para muitos hoje
em vez de festa rija
é bárbara festa
mudam-se os tempos
mudam-se as propostas
há que comer-se mais do que se gosta