terça-feira, março 30, 2010

dia do pai


Dizem que é dia do pai
(eu não sabia)
sem querer ser chato
acho estes dias oficiais
uma treta hipocrisia

amor alma saudade
não se confinam
a consumista artimanha
de vender prendas
ou camuflar uma patranha

o meu tributo a ele
é diário
companheiro real e imaginário
que trago comigo
sem mo lembrarem

no cansaço na acção
na presença na ausência
na imitação
da falta de jeito
para ser perfeito

no copo de vinho
que bebo
tinto como a cor do mosto
que lhe alegrava o rosto
e que me alegra a mim
por o imaginar feliz
a beber com um amigo
a gosto

pai é tudo o que não se sabe
e não se diz
é muito mais que chalaça
de um dia obrigatório
de um ser obrigatório

pai a gosto é liberto
único ele heróico
que só cabe num coração grande
agradecido amante aberto
não num dia qualquer
ou num qualquer formato

sábado, março 27, 2010

os amantes


Tempestade adormecida
que não esquecida
o sangue ferve na manhã adversa
ficam os nervos sem controle
angústia aperta

voam pelo ar objectos
insultam-se os amantes
cresce o azedume
na cabeça perdida
pelo ciúme

num respirar a folgar o coração
olhando o fora do apartamento
quase implorando
clamando
solução

um intervalo na tensão…

em vez de clareira sol
azul celeste
há nuvens negras baixas
temporal
um carregado tão agreste
que não indicia saída
para este mal

parece irremediável
a situação
mentes perdidas
divididas pela razão…

até que um ruído irrompe
ecoa
e a campainha do prédio soa

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o carteiro um pedinte
um furtivo rapazola a passar
alguém interrompe
como por milagre
o vendaval

também o céu começa a clarear
pondo um raio de luz
discernimento
rompendo a angústia do lugar

recua a fúria no espaço
no movimento
acalmam-se as vozes dos amantes

a luz que não havia antes
e que entrou
como por encanto
quando a campainha tocou

canalizou
um cansaço brando
um cone de céu
que os acalmou e reconciliou

quinta-feira, março 25, 2010

apontar o dedo


Moral e bons costumes
julgamento
o acessório no lugar do essencial
trezentas mil coisas positivas
uma mal

pobre e podre sociedade
depois de tanto andar
e com tanto por fazer
o relevo que vai dar
ao erro ao deslize ao “fica mal”

culto doentio do apontar o dedo
de ampliar o negativo
em vez de valorizar
o passo em frente
a descoberta
o ultrapassar de uma fasquia
e dar disso notícia
por exemplar

aonde leva tal coscuvilhice
apontar só o azar que acontece
morre-se de qualquer maneira
porquê então matar
a vida breve e boa quando mexe…

menu inútil de taras e manias
fogueira a arder
que a ninguém interessa?

defenda-se o ser pela afirmação
brinde-se a vida
o sim em vez do não
mudem-se os valores antiquados
da moral tristeza e sofrimento
hipocrisia modelar

e que o perdão
ao invés de julgamentos linchamentos
perdas de tempo
inúteis pérfidas triviais
contemple o erro a dificuldade
o escorregão

abrace-se mais
aconchegue-se mais
esteja-se mais “com”
e que o calor do coração
encha mais
os noticiários da televisão
as mentalidades os jornais

domingo, março 21, 2010

bullying


Quando não há grego ou romano
nem francês
nem russo ou português
para chamar o nome certo à coisa
há agora o inglês

chamam bullying à ocorrência
que se passa na rua no bairro
na escola
terrífica violência
puto que leva na tola
sem clemência
física ou psicologicamente

a lei da selva entre nós
a infernizar a existência
afinal de contas como sempre foi

a diferença
está no mediático tratamento
na pecuniária valência
que uma história tem
recheada de violência

a tiragem aumenta
e amplia-se a audiência
sempre que a desgraça aumenta

só o termo é novo
por inglês
que não a violência

e bem divulgado pronunciado
nas redacções nas televisões
leva até a parecer
o que não é
e choca mais os corações

lembro outro tempo
os zés caricas
os balas malha rijas
rapazes de escola mal trajados
roupas velhas
com ossos e côdeas por merendas
bolsos e mãos cheias de navalhas
rudes pobres
que viviam entre cães de gado
pedras
terra fria agreste seca
de charrua enxada e de cajado

pobres rapazes obrigados
a frequentar escola um ror de anos
sem vontade nem resultados

tudo lhes temia o aspecto
as tropelias
meio selvagens como eram
assustados assustavam os putos finos
em idade pequeninos
no jeito mais amaneirados

davam ameaçavam violentavam
no recreio nas latrinas
em toda a parte

na sala de aula era o que se via
professores incompetentes
maus
faziam voar palmatórias varapaus
em castigos requintados
variados

nada então era mediático
violência três em pipa
levava-se apanhava-se
sem se saber de onde caiam
e ninguém se queixava

assim se crescia se adoecia
ou se morria

agora ao menos há democracia
que não havia
e uma palavra nova
bullying
da galáctica língua que domina
o hoje em dia

sexta-feira, março 19, 2010

os portugueses e o oriente


Destapámos dos mares os medos
era uma porta de saída
atlântica longínqua
que então tínhamos

fomos sempre mais adiante
ganhando tempo
nunca o perdendo
em termos de fortuna
geografia
encurtamento de distâncias

devia ser duro enfrentar
o acaso a sorte
às vezes a morte
mas morrer por morrer
que se morra vivo
andando
tendo no peito um credo
um objectivo

parece hoje tudo descoberto
luso povo adormecido
onde ir agora mostrar obra
que se veja?

sei que o mar é mais à nossa porta
Castela é forte extensa
para se ir além dela
Europa fora
pelos caminhos do oriente
exótico frio diferente

mas pode ser esse
um caminho do presente
aproximar credos religiões
o ocidente do oriente
desavindos em tantas ocasiões
e os portugueses sabem
aproximar povos gente
como ninguém

que as limitações de outros
por guerreiros quezilentos
alguns muito religiosos
racionais
nos não tirem o especial jeito
que tivemos e que temos
de aproximarmos
nos misturarmos
com os demais

se o caminho hoje
for por terra para oriente
não por mar
estou certo
que oportunamente
haveremos de o encontrar

terça-feira, março 16, 2010

ratos e ratos!


Havia no meu campo
meninice
imensa bicharada
muitos ratos imundice
no sótão na dispensa
na cozinha
uma nocturna barulheira
em correria
que inspirava pesadelo

combatia-se o rato
com veneno
engendravam-se armadilhas
ratoeiras
soltava-se-lhe o gato

muitas vezes toda a família
se unia em estratégia
na caçada
amenizando o tédio
a pasmaceira
da noitada

hoje em loja de perder de vista
luxo multimédia
na moderna capital
outra vez o rato
não o bicho
mas a peça fundamental
para o computador actual
capaz de levar o utente
ao pesadelo
por não tê-lo

quem diria ao menino de sua mãe
anos lá atrás
que haveria ratos assim
em prateleira…

com luz sem luz
com fio sem fio
grandes e pequenos
tal como dantes
ratazanas e ratinhos?

que paralelo estranho
de um passado diferente
aqui lembrado
evocado
em formato de presente…

outros os ratos outra a gente!

sábado, março 13, 2010

Partidos partidecos


Xadrez político completo
há partidos partidecos
mais honestos mais tratantes
vozes nozes para todos
os quadrantes

uns apostam no progresso
para manterem eleitores
outros mais no retrocesso
para repor velhos valores

os que ganham são as feras
ganhadores
enchem o papo
fica o repasto as sobras
para as feras menores

tudo come como pode

se há crise e falta caça
tremem logo os predadores
nem há “comes” para eles
nem sobras
para os outros comedores

treme a selva o horizonte
com a perigosa situação
que pode descambar
em revolução

temem-se grandes convulsões
há desespero medo
sobretudo nos papões

e é nestas ocasiões
que os reservados
cães selvagens abutres
gaviões
que arriscam pouco
embora gostem de comer
desafiam os esfomeados
tigres hienas e leões

pode ser a oportunidade
de os pequenos
assaltarem o poder
não há nada para caçar
nem para dar…

é o tempo das aves agoirentas
de a miséria liderar!

quarta-feira, março 10, 2010

Portugal periférico (!)


Convém chamar periférico
pequeno a Portugal
disfarça o pouco engenho
de quem é eleito
para bem o representar
e só dele sabe dizer mal

defende assim o seu mandato
um bom tacho
sem nada acrescentar
assina o ponto
é porreiro no falar
e chora

choro também eu de outra maneira
por ver postos de lado
sonhos grandes
país o meu
atlântico com possibilidades…

históricas geográficas inatas
esquecidas enjeitadas
deitadas fora

mesmo as de agora
quando em talento se alevantam
com asas grandes velas infladas
logo murcham
por ensarilhadas

desloca-se essa gente
em luxuosos aviões
gastam euros não tostões
para fazer nada
comparado
com o que fizeram
os que em toscas naus
partiram e obra deram

ao menos que a nova gente
letrada ilustre
engravatada
ao conforto do bocejo
da aérea primeira classe
da boa mesada
junte sonhos
uma voz afirmativa
que ponha Portugal no sítio
que merece

que ganhem algum brio
pelo que fazem
não fastio
que ponham lusa luz
de novo
no tempo que acontece

domingo, março 07, 2010

mulher linda travestida


Se ora houvesse idade de casar
tinha que ser mais comedido
qual polícia criminal
atento miudinho conciso

quando estendo o olhar
na tv em revista de moda
na realidade que se vê…

vejo mulher esbelta linda
apetecida
esculturalmente produzida
mas se ficar atento
também vejo
mulher ilusória travestida
dúvidas mil no que se vê

pernas altas são mentira
saltos altos metro e meio
que lhe sobem a medida

os cabelos pendurados
tão perfeitos arranjados
são verdade ou inverdade?
seios fartos
lábios grossos
sê-lo-ão na realidade?

e no interior que se não vê
algo terá sido mudado…
algum cabo enseada
acrescentado retirado?

tecnologia desenvolvida
mulher linda travestida
para com ela casar
há que bem investigar

só que um tal comportamento
fá-la-á desesperar

da parte dela cansaço
por dela se desconfiar
da parte dele desilusão
após investigação

e lá se vai a união
o sonhado casamento

sexta-feira, março 05, 2010

o entrevistado


Fácil argumentar pelo reverso
comentar censurar…

ali foi asneira grossa
além grande enormidade
nada está no sítio certo
tudo feito mal e errado
longe e perto

um rosário de infortúnio

só mazelas e buracos
incompetência nosso fado
uma espécie de certeza
a sua
ida ao pico da desgraça

país ninho de aldrabões
vigaristas mandriões
sem qualquer qualidade
na moderna realidade

assim fala o entrevistado

menino noutro tempo amado
mimado
entre poucos licenciado
doutorado
descreve assim um país
o seu
que não o meu

tais palavras de descrença
de desdém
em estilo rococó
de uma boca sem obra
nem verdade
soam a revolta pessoal
de quem
não só não quer ver real
como também
não aceita o progresso
do moderno Portugal

que bom era brilhar
em outra idade
no país deserto
de modernidade
de dinheiro de gente
de concorrente

agora é diferente
tudo mais letrado evoluído
endinheirado
felizmente

só pode ser raiva
desespero
aquilo que diz aquele senhor
de idade
ex menino amado
agarrado a um saber passado
sem actualidade
sem contexto
sem nexo
sem verdade

por desactualizado

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Livro "Mais poemas que vos deixo"

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