
Quando não há grego ou romano
nem francês
nem russo ou português
para chamar o nome certo à coisa
há agora o inglês
chamam bullying à ocorrência
que se passa na rua no bairro
na escola
terrífica violência
puto que leva na tola
sem clemência
física ou psicologicamente
a lei da selva entre nós
a infernizar a existência
afinal de contas como sempre foi
a diferença
está no mediático tratamento
na pecuniária valência
que uma história tem
recheada de violência
a tiragem aumenta
e amplia-se a audiência
sempre que a desgraça aumenta
só o termo é novo
por inglês
que não a violência
e bem divulgado pronunciado
nas redacções nas televisões
leva até a parecer
o que não é
e choca mais os corações
lembro outro tempo
os zés caricas
os balas malha rijas
rapazes de escola mal trajados
roupas velhas
com ossos e côdeas por merendas
bolsos e mãos cheias de navalhas
rudes pobres
que viviam entre cães de gado
pedras
terra fria agreste seca
de charrua enxada e de cajado
pobres rapazes obrigados
a frequentar escola um ror de anos
sem vontade nem resultados
tudo lhes temia o aspecto
as tropelias
meio selvagens como eram
assustados assustavam os putos finos
em idade pequeninos
no jeito mais amaneirados
davam ameaçavam violentavam
no recreio nas latrinas
em toda a parte
na sala de aula era o que se via
professores incompetentes
maus
faziam voar palmatórias varapaus
em castigos requintados
variados
nada então era mediático
violência três em pipa
levava-se apanhava-se
sem se saber de onde caiam
e ninguém se queixava
assim se crescia se adoecia
ou se morria
agora ao menos há democracia
que não havia
e uma palavra nova
bullying
da galáctica língua que domina
o hoje em dia