
Gente civilizada
em prédio de cidade
t1 t2 t3
em cada andar
gente a tentar coabitar
sem incomodar
porque ao tossir
fazer amor
gritar
tudo se ouve
há que baixar o som
da voz dos passos
conter a dor e o prazer
as tarefas e o lazer
leva o cão o dono
ao elevador
a vizinha o lixo
ao contentor
outro cruza o corredor
dão-se espaço
para não se tropeçar
quando algo sai do habitual
um ruído maior
um desacerto
na silenciosa contenção
põe-se em risco a lisura
por protesto em reunião
de condomínio
ali sobra frustração
de tamanha civilidade
salta a tampa a um vizinho
ela é puta ele é cabrão
logo o pormenor fica ampliado
em histérica discussão
sabe bem ser civilizado
não chatear nem ser chateado
mas com tanta contenção
tanta distância cultivada
ou começa tudo aos gritos
mesmo fora da reunião
ou ai Jesus ninguém me toque
uma autonomia isolada
sociedade alienada
gente sem rei nem roque!
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