sexta-feira, janeiro 29, 2010

esperança


A esperança alimenta
a fé o positivo
o vale a pena
vencem
o vazio
que atormenta
o puzzle negativo

depois vencido o medo
o passo novo!

lá fora é duro
nem sempre as coisas
correm de feição
desanima-se no inverno
anima-se no verão
queremos brincadeira
temos obrigação

sonhamos amizade eterna
uma paixão inteira
e tudo se aparta
tudo muda num instante
numa breve ocasião

ah mas quem diria
quando em quarto escuro
pesadelo
dificuldade de entender
de ser
ermo isolado
tanta a maldade

que o tempo passaria
e que o quarto escuro
minúsculo
interior
ganharia dimensão
janelas
luz

e se transformaria
numa gratidão profunda
num rosário de prémios
na ultrapassagem
de um calvário
que parecia tantas vezes
ter vindo para ficar

de então para cá
tanta gente no meu peito
tanta amargura transmutada

eu meu país
pequeno sem futuro
enclausurado
isolado
sem nada
dantes

eu meu país
aberto
moderno hoje

grato à história
nem sempre linear
nos baixos dela
de fazer arrepiar

próspero aqui
feliz
amigo amante
neste lugar
aonde cheguei

sábado, janeiro 23, 2010

pobreza riqueza


Havia os pobres
os remediados
os ricos
depois nas extremidades
os muito ricos
e os muito pobres

cresci andei
vi o mundo crescer
e andar também

os pobres de antes morreram
e como a morte é mais igual
que a vida
também os ricos
de então
tiveram seu funeral

fica sempre a instituição
geração para geração
como família
religião
fica pobreza riqueza

em cada ocasião
no tempo
no espaço
muda a génese do pedinte
os processos do
ricaço

ontem galinhas toucinho
na mira do Zé pagode
barriga desconsolada
fome vida sem nada

hoje mundo
endinheirado

foge tudo para a cidade

há lá mais que cobiçar
que na pequena terrinha
ricos sempre a consumir
a facilitar
e na fartura
se não der para trabalhar
há sempre algo
para gamar

o Estado solidário
para se justificar
ajuda-os a prosperar
tira algum ao milionário
apoio suplementar

tenta-se assim
disfarçar
com ideário
os desiguais cambiantes
equilibrar os distantes
instituições ancestrais

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Haiti e Deus


Na palavra que sai
que nos põe culpa
nos faz sentir mal
na mazela que dói
em ferida que cresce
e nos isola
num hospital

na vida que nasce
numa forma qualquer
e logo desaparece
em morte brutal

milhões de formas vitais
no mar na terra no ar
a mexer
sem fazerem ideia
do que andam a fazer

e quantos milhões triliões
de mundos a rodar…

sou levado a afirmar
num horror por explicar
numa revolta incontida
que o Deus da esperança
ensinado em criança
se borrifa na vida

não só não sente
a alma da gente
como é puro imaginário
que esteja PRESENTE!

guerras trovoadas
pesadelos
as maiores catástrofes
um destino em sorte
de vida e de morte

como entender
o que d’ Ele se vê pregar?

se uma réstia divina
existe aqui
perante o que se vê
no Haiti…

morte destruição
povo arrasado
enterrado vivo
debaixo do chão…

Ele não está decerto ali!

terça-feira, janeiro 19, 2010

culturas e credos


Um é árabe outro judeu
um é índio
outro cigano
um é preto outro branco
um antárctico
outro árctico
um é outro
o outro eu

aquele é capitalista
aquele outro comunista

com a cultura muda o deus
uns Alá vê se me acodes
outros credo ai Jesus
outros Buda céu e paz
outros só na sua cruz

depois ninguém se entende
e zás!

que pena que faz
que a cultura
em vez de unir
trazer a paz
faça dividir
mate a esperança

que a fé sentida
muitas vezes pão da vida
seja desculpa de matança

olhando Deus assim
pondo guerra na gente
pela diferença de credo
por cultura diferente
apetece ser inculto
até descrente

e viver somente
como vivem
as árvores os outeiros
os regatos
os pirilampos
os gatos
as flores

natural e simplesmente!

sábado, janeiro 16, 2010

dinheiro


Na moral antiga
ficava-nos a impressão
de que ter dinheiro era bom
útil
se não fosse ostentação

ao dinheiro honrado
associava-se dificuldade
esforço
trabalho suado

a intelectualidade pregava
temendo a burguesia
que ser rico era defeito
cartola explorador
latifundiário fascista
colonialista

dizia-o com razão
só que também o dizia
pela ambição de poder
pelo medo que as liberdades
fossem oportunidade
de o povo enriquecer

e de tal forma o fazia
que logo a má língua atingia
os que depreciativamente chamavam
de pequena burguesia

século XXI modernidade
elites sem proletariado
povo mais esclarecido
abastado
delas menos precisado

sem qualquer hipocrisia
que vingue a ideia
a empresa
a oportunidade
que a maior escolaridade
gere criação de riqueza

que circule em quantidade
esse bem essencial
o dinheiro
e que a sua distribuição
inunde o mundo inteiro

terça-feira, janeiro 12, 2010

Gente civilizada


Gente civilizada
em prédio de cidade
t1 t2 t3
em cada andar
gente a tentar coabitar
sem incomodar

porque ao tossir
fazer amor
gritar
tudo se ouve
há que baixar o som
da voz dos passos

conter a dor e o prazer
as tarefas e o lazer

leva o cão o dono
ao elevador
a vizinha o lixo
ao contentor
outro cruza o corredor

dão-se espaço
para não se tropeçar

quando algo sai do habitual
um ruído maior
um desacerto
na silenciosa contenção
põe-se em risco a lisura
por protesto em reunião
de condomínio

ali sobra frustração
de tamanha civilidade
salta a tampa a um vizinho
ela é puta ele é cabrão
logo o pormenor fica ampliado
em histérica discussão

sabe bem ser civilizado
não chatear nem ser chateado

mas com tanta contenção
tanta distância cultivada
ou começa tudo aos gritos
mesmo fora da reunião
ou ai Jesus ninguém me toque

uma autonomia isolada
sociedade alienada

gente sem rei nem roque!

segunda-feira, janeiro 11, 2010

desemprego


Em solidão expectativa
desolado
não importa a idade
que vazia fica a vida
do desempregado

a noite mais comprida
o frio mais gelado

há medo
medo amigo
que faz reagir
partir fugir
para um abrigo

pode ser vício ócio
fuga escape
tudo é melhor
que suportar o tédio
o cheiro a morte

só que o medo é cego
pode alimentar
um outro mal
que não se quer

faz reagir
mas nada resolve só por si
por se fugir

para vencer a condição
de quase marginal
“à beira do abismo”
desta chaga social
há que intervir

qualquer cidadão
só pode ter alma
quando se sente
em vez de excluído
em inclusão

pois que em vez de tédio
que haja esperança
que viva o emprego
a ocupação

para o bem geral
que se cultive
com perseverança
o Estado social

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Ateus


Mundo desigual chocante
torto
que distribui mal
o abundante

sobram restos
do consumo
desregrado exagerado
que se faz

diferentes latitudes
uma fome de tudo
paz bens
saúde

longe fica a fonte
dos avanços
tecnológicos
das férias gozos
produtos luxuosos

do desperdício que fede
e incomoda

difícil canalização
de excedentes
de um lado sem escrúpulos
os ricos
do outro
sem escrúpulos
os donos dos carentes

espelho disto
são os olhos tristes
das crianças
vindas ao mundo
sem culpa nenhuma
moribundas decepadas
ensanguentadas
secas como cactos
velhas na flor da idade

Corno de África
desolado
(apenas um exemplo
de um quadro alargado)

diante disto
tamanha desigualdade
violência
atrocidade
incapacidade
dá para pensar seriamente
nos ateus
e na sua verdade

pura e simplesmente
“não acreditam em Deus”

domingo, janeiro 03, 2010

tempo de balanço


Fim de Dezembro
princípio de Janeiro
é sempre um tempo grande
vazio férias
dias curtos noites longas
tempo de balanço

para a frente e para trás
um ano inteiro

há que pôr a vida
nos pratos da balança
equilibrar

se o passado pesa
em desacerto
aliviar
se o presente encolhe
e sabe a pouco
planear

vida que pode começar
num passo ousado
a dar
no ano novo

num tampão
numa comporta
à não solução

como estabelecimento
comercial
contabilidade
perdas ganhos
investimento

faça-se o mesmo
a nível pessoal
inverno verão
bonança temporal
capital não capital

que então
feitas as contas
achadas as respostas
frutos virão
novas apostas

natal na cidade


Inverno frio vento
a chover
dez reis de apartamento
de cidade
a gemer

porque é natal
família perto outra de longe
tudo se junta
para comemorar

um de muletas
outro de maca
outro a barafustar
um outro para animar

família jovem
em boa vontade
já filha da cidade
fez jus em os juntar

lá fora chove
o frio aperta
o espaço encolhe

sem objectivo
culto esquecido
não há boa vontade
que aguente
tanta falta de sentido

ferve a comadre
o sogro ronca
a nora espirra

nos que conversam
cruza-se afronta com afronta

conversa inventada
doença por doença
muitas indirectas
de gente enfastiada

a um canto três crianças
uma a abrir prendas
outra rabugenta
outra ensonada

noite de natal
que por nada haver
de ritual
por já nem se falar
no menino Jesus
em vez de fazer bem
faz mal

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Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...